Todo ano é assim: ainda em outubro, as pessoas começam a desencaixotar a árvore, o presépio, as luzes e os papais-noéis. Mas você sabia que, pela tradição cristã, existe um dia apropriado para a começar a decoração natalina? O teólogo Robert Rautmann, professor de religião no Colégio Internacional Everest, explica que a data correta para enfeitar a casa é o primeiro domingo do Advento que, neste ano, cai em 30 de novembro. “O Advento é um período especial para o cristianismo, que compreende os quatro domingos anteriores ao dia 25 de dezembro. Nele, os cristãos preparam-se para a grande festa de Natal – o nascimento de Jesus – e lembram-se, também, que Ele um dia voltará.”
Da mesma tradição, acrescenta o teólogo, vem o costume de desmanchar a árvore e guardar os enfeites em 6 de janeiro, o Dia de Reis, que representa o encontro dos Reis Magos com o Menino Jesus. Portanto, se você ainda não preparou a casa para o Natal, domingo é a data perfeita para a tarefa. “Uma dica é envolver toda a família na montagem da árvore e da decoração. O trabalho é mais rápido e as crianças guardarão para sempre estes momentos!”, ressalta Rautmann.
Significados
Ainda que a teologia ignore a maioria dos símbolos natalinos, como defende o professor da PUCPR Cesar Leandro Ribeiro, a tradição acabou atribuindo significados para cada um deles. Confira os principais:
Presépio
Tradição atribuída a São Francisco de Assis, no século 13, retrata o momento exato do nascimento de Cristo, com Maria, José, os pastores e os Reis Magos. “É a dimensão simbólica que mais marca. Trata-se de uma devoção popular, sem sentido litúrgico, uma fotografia do momento”, explica Ribeiro.
Guirlanda
É composta de pequenos ramos verdes, com quatro velas ao centro, que devem ser acesas a cada domingo do Advento. “O momento é acompanhado da oração da família reunida”, ensina o teólogo Robert Rautmann. Segundo Ribeiro, o Advento significa chegada, mas é caracterizado pela espera.
Maria grávida
Símbolo expressivo nas igrejas, a figura de Maria que espera o Menino Jesus representa a concepção, a anunciação do Anjo. “O Natal começa ali. Esse simbolismo é litúrgico e forte. O retrato de Maria que se põe a caminho prefigura o Menino, que será levado para todos os cantos”, detalha Ribeiro.
Árvore
Símbolo mais conhecido, sua origem como imagem natalina remonta ao século 16 e provém do norte da Europa, segundo Rautmann. “Árvore resistente aos piores invernos, o pinheiro simboliza a esperança em Cristo que vence todo desespero e morte.”
Bolas
Como os demais enfeites que colocamos sobre a árvore, representa os bons frutos (as boas ações) que podemos realizar se estivermos unidos a Cristo, lembra Rautmann.
Velas e luzes
Fazem memória do que o próprio Cristo disse em João 8,12: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas”, explica o teólogo.
Presentes
Trocados na noite de Natal, lembram a visita que os Reis Magos fizeram a Jesus, Maria e José. “E lembram, principalmente, que Jesus é o grande presente que o Pai nos deu”, reforça Rautmann.
Ceia
Em vários momentos da vida de Cristo, ele se reuniu com aqueles que amava, inclusive, os pobres e os pecadores, para fazer a refeição. Na visão do professor de teologia, é isso que simboliza a ceia. “Em que todos têm lugar, e as desavenças são perdoadas”.
História
O coordenador do curso de Teologia da PUCPR, Cesar Leandro Ribeiro, recorda que as datas na Bíblia são sempre simbólicas. A adoção de 25 de dezembro como nascimento de Cristo aconteceu após a queda do Império Romano, quando o cristianismo passou a substituir festas pagãs por religiosas. “Existia uma festa de culto ao deus Sol, então, os cristãos adotaram a data, numa referência ao verdadeiro Sol, que é o Cristo.”
Embora tenha origem no cristianismo, o Natal é uma festa que entrelaça o fator religioso e o cultural, na opinião do professor de sociologia da PUCPR Lindomar Boneti. “No fator religioso, o símbolo se constitui num ritual de expressão de fé. No cultural, é uma construção que adotamos, trazemos de nossos antepassados. Na América, temos o Papai Noel, uma influência da expressão mercadológica.”
Arrumação
Para Márcia e Estela, a festa começa no fim de outubro
A paixão da artesã e dona de casa Márcia Maria Augusto, 56 anos, pelo Natal já é velha conhecida dos amigos e familiares. “Tenho um sobrinho que diz ‘a casa da tia é uma durante o ano e outra no Natal’”, brinca. Todo fim de outubro, a decoração habitual da casa é engavetada, para dar espaço aos itens natalinos – tantos, que, durante o ano, ela precisa guardar na casa da praia. Não é exagero do sobrinho. Nos últimos meses do ano, o bonito e espaçoso apartamento fica tomado pelos enfeites de Natal. Hall de entrada, salas, cozinha, quartos e banheiros: não há um canto da casa que escape. “Adoro Natal, desde que era pequena!”
60 anos de tradição
A árvore de Natal de 2,10 metros de altura é estreante na casa de Estela Muller, 80 anos, mas os enfeites acumulam histórias de três gerações da família. Desde o dia 24 de outubro, a residência está tomada por enfeites verdes, vermelhos e muito brilho. “Não tem religiosidade ligada, é tradição da família. Minha mãe fazia a árvore desde que eu nasci, depois eu vim fazendo, passei para minha filha. Começamos a montar cedo para ir curtindo mais tempo. Sempre tem uma coisa para tirar daqui e por ali”, comenta.