Termômetro
Estudo orienta empresários, entidades e gestores
Com uma ampla análise de dados, o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) pode ajudar em diferentes objetivos. Para os empreendedores, orienta sobre onde investir a partir dos recursos disponíveis em cada cidade, além de alertar sobre carências em determinados setores que podem exigir atenção para o dia a dia e no desenvolvimento da empresa. Os dados também podem indicar quais ações devem ser adotadas por gestores públicos e entidades de apoio para fomentar o ambiente de negócios, mostrando o que há de melhor e o que é preciso ser estimulado nos diferentes aspectos essenciais para o empreendedorismo local. “A ideia é que as cidades possam inspirar umas às outras, replicando boas práticas que contribuem para o equilíbrio das características necessárias ao ambiente de negócios”, aponta o diretor da Endeavor Paraná, Henrique Tormena.
Na avaliação dos pesquisadores, o empreendedorismo brasileiro está se desenvolvendo, mas precisa de medidas efetivas para ter mais qualidade. Hoje, das 5 milhões de empresas instaladas no país, apenas 35 mil são consideradas de alto desenvolvimento, quando conseguem superar 20% de crescimento por três anos consecutivos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Estamos engatinhando no conceito de empreendedorismo, mas há ações divergentes entre atores e gestores. O estudo pode direcionar as medidas para que as atividades empreendedoras tenham maior impacto”, avalia João Melhado, coordenador de pesquisa da Endeavor.
Crédito facilitado é ponto positivo
Um dos principais destaques na avaliação de Curitiba no Índice de Cidades Empreendedoras da Endeavor foi o acesso ao capital, em especial pela atuação da Fomento Paraná.
Nos últimos quatro anos, a agência aumentou em quase cinco vezes o montante de recursos financiados, passando de R$ 8,9 milhões para R$ 40,2 milhões para micro e pequenos empreendedores. A oferta de crédito especial para inovação e pesquisa, captados junto à Finep, e a criação de linhas para jovens e mulheres empreendedoras também mudaram o perfil da agência. Só este ano foram R$ 100 milhões em operações de crédito para o setor privado no estado, sendo R$ 58,5 milhões para micro, pequenos e médios instalados em Curitiba.
A partir deste ano, empreendedores da capital têm buscado também outros modelos de investimentos, como os fundos ou os grupos de investidores-anjo. “É um exemplo da evolução da nossa cultura empreendedora, que este ano teve um bom desenvolvimento, com o estímulo ao ecossistema e o envolvimento de entidades e grupos organizados”, observa André Telles, do Centro de Inovação iCities.
Redesim
Em outro pilar importante da pesquisa, a desburocratização do ambiente regulatório já mostra bons resultados. O Paraná é um dos estados que implantou a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), que será lançada oficialmente no próximo dia 10 de dezembro, em Londrina. “Em março do ano que vem, queremos atingir a meta de abrir uma empresa em dois dias”, prevê o secretário estadual da Indústria e Comércio, Horácio Monteschio.
A partir da amostra de 14 cidades brasileiras que concentram mais de 1% de empresas de alto crescimento instaladas no país, os pesquisadores avaliaram as condições locais de sete grandes pilares em que o empreendedorismo se apoia: ambiente regulatório, acesso a capital, infraestrutura, mercado, capital humano, inovação e cultura empreendedora.
“Durante o levantamento foram avaliados mais de 400 indicadores e 50 deles foram selecionados para retratar esses conceitos essenciais para o desenvolvimento de negócios. Assim, em nível local, o estudo é inédito”, explica o pesquisador João Melhado, coordenador de pesquisa da Endeavor Brasil.
O bom desempenho nas áreas de inovação, infraestrutura e capital humano, avaliadas com peso maior na equalização dos dados, colocou a capital catarinense em primeiro lugar no ranking geral. Mão de obra qualificada, oferta de cursos bem avaliados e a interação entre universidades e empresas inovadoras foram os pontos positivos destacados no estudo.
Apesar do mercado desenvolvido e do fácil acesso ao capital, especialmente ao de risco, São Paulo ficou na segunda posição por ter problemas no ambiente regulatório e em cultura empreendedora. Custos de impostos e a burocracia pesaram contra o índice final da cidade.
Vitória e Curitiba tiveram avaliações semelhantes em indicadores de maior valor no estudo e o equilíbrio nos demais pilares garantiu as boas posições gerais. A capital capixaba ficou em primeiro lugar em capital humano e a paranaense, em infraestrutura. Proximidade do Porto de Paranaguá, bom sistema de transporte, aeroporto e vias urbanas e rodoviárias com bons acessos contaram pontos. Em Curitiba, porém, os indicadores mostraram deficiências no capital humano e na cultura empreendedora.
A qualidade do capital humano não surpreendeu o economista Hugo Meza Pinto, professor da área de empreendedorismo e inovação das Faculdades Santa Cruz, de Curitiba. “Há uma defasagem entre o conteúdo transmitido nas universidades e a prática do mercado. E essa distância gera pouco impacto nas ações empreendedoras”, diz. Para o professor André Teles, gestor do Centro de Inovação iCities, as instituições de ensino locais estão despertando agora para o empreendedorismo e procuram criar novas iniciativas. “Tivemos eventos focados na área e a demanda gerou pelo menos três novas pós-graduações que serão oferecidas a partir do ano que vem”, observa.
O publicitário Ricardo Dória, criador do espaço Aldeia Coworking, chama a atenção para um aspecto da cultura local que interfere na atividade empreendedora. “Curitiba tem um complexo de perfeccionismo que paralisa a criação de novas soluções. Como cidade modelo, achamos que nada precisa ser mudado. Mas é possível fazer sim, e a cidade precisa ser modelo de inovação, que se reinventa o tempo todo”, diz.
Desenvolver a empresa depois de aberta nem sempre é fácil
A primeira encomenda de 40 sanduíches pulou para 300 unidades por dia em pouco mais de um mês. Pontos de venda famosos, como a Confeitaria das Famílias e a lanchonete da antiga Loja Mesbla, na Rua XV de Novembro, ajudaram a alavancar o negócio. Hoje, a indústria emprega 15 pessoas e distribui 40 mil sanduíches por mês, além de sopas, salada de fruta, bolos e iogurtes.
Bohnen não esconde que já pensou em desistir várias vezes. A rotina cansativa do setor de alimentação pesa, mas a principal dificuldade é quanto ao desenvolvimento do negócio. “A logística complicada limita minha capacidade de crescimento. Além disso, é bem difícil abrir novos mercados e convencer o parceiro que o produto pode ser rentável sem custar tão caro ao consumidor”, explica. Nos últimos dois anos, Bohnen investiu R$ 400 mil em novos equipamentos. Com faturamento mensal em torno de R$ 100 mil, as previsões para 2015 são conservadoras. “Se o desempenho for igual ao desse ano, estarei satisfeito me mantendo no mercado.”
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