A proteção à criança de maus tratos tem focado o abuso físico e sexual. Esses tipos de agressão chamam mais a atenção e podem ser “constatados” por exame físico numa perícia. No entanto, pesquisadores da PUC do Rio Grande do Sul, que entrevistaram dez mil adultos de todo o Brasil, comprovaram que os prejuízos ligados à personalidade motivados por abuso e negligência emocional são ainda maiores. “O pior tipo de trauma que uma criança pode passar é o abuso emocional: ofensas, humilhações e hostilidade verbal. Porque a dor do coração não passa e nem existe analgésico para curá-la”, explica o psiquiatra e coordenador da pesquisa Diogo Lara.
O resultado do estudo aponta que lembranças de palavras ofensivas e de negligência emocional reduzem em até 30% a autoestima e o otimismo e aumentam em 20% a impulsividade. E apenas 10% dos que sofreram com ofensas se consideram emocionalmente saudáveis. “Se o pai diz para o seu filho que ele é ridículo, faz tudo errado ou ainda o compara a outro colega é muito complicado. Os pais são a referência da criança”, comenta. Para o especialista não existe fórmula para lidar com os pequenos, no entanto, o essencial é respeitá-los e evitar agressões. “Se você perceber que passou dos limites em algum momento, peça desculpas. Você pode dizer que o que a criança fez é errado mas que você não gostaria de tratá-la daquela forma, que nada justifica o seu comportamento. Deixe-a de castigo”, comenta.
“As pessoas dizem que a primeira coisa que um pai tem que dar ao filho é o amor. Na verdade, o respeito vem antes de tudo. Na pesquisa, identificamos que pessoas que viveram em famílias frias, mas que sempre foram respeitadas, são mais saudáveis do que quem teve amor mas sofreu humilhações. A ofensa é tóxica”, comenta. Também foi comprovado que agressões verbais são mais difíceis de superar que o abuso sexual.
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