quinta-feira, setembro 26, 2013

Analfabetismo se concentra em sete bairros na capital

.
Mais da metade da população não alfabetizada de Curitiba está concentrada em apenas sete bairros. Dos cerca de 30 mil curitibanos que não sabem ler e escrever, mais de 15 mil moram na Cidade Industrial, Sítio Cercado, Cajuru, Tatuquara, Uberaba, Pinheirinho e Boqueirão, não por acaso os mais populosos da capital. Em quatro Núcleos Regionais de Educação (NRE), a média de maiores de 15 anos não alfabetizadas supera a municipal, que é de 2,1%. No NRE do Bairro Novo, 3,4% dos 109 mil habitantes são analfabetos, mesma taxa do núcleo da Cidade Industrial. No NRE do Pinheirinho, os analfabetos representam 3,2% da população. Já no do Cajuru, 2,6% dos quase 170 mil moradores não sabem ler e escrever.

“INFOGRÁFICO: Confira o mapa do analfabetismo em Curitiba

Os dados integram o mapeamento dos analfabetos residentes em Curitiba, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, com base no Censo de 2010. Além dos bairros e núcleos regionais, o mapa mostra os analfabetos nos 2.395 setores censitários do IBGE, o que permite um conhecimento mais detalhados de quem são e onde estão. “Fomos aproximando tanto que é quase possível chegar à casa das pessoas. Isso permite criar uma política educacional pensada para cada necessidade”, explica a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da secretaria, Waldirene Sawozuk Bellardo.

Entre os analfabetos de Curitiba, a maioria é de mulheres (65%) com mais de 59 anos (37%). Os motivos são os mais diversos. “Alguns foram privados do acesso à educação pela família, mercado ou pela falta de condições financeiras. Há senhoras de mais de 50 anos que são proibidas pelo marido de sair à noite, por isso precisamos criar turmas de manhã”, explica Waldirene.

O mapa também aponta três regiões próximas ao Centro com alta concentração de analfabetismo. Juntos, Vila Torres e Parolin abrigam aproximadamente 800 pessoas que não sabem ler e escrever. Já no Juvevê, um dos bairros de melhor poder aquisitivo da cidade, 99 mulheres sem escolaridade moradoras do Asilo São Vicente de Paula elevam o índice de analfabetismo do local.

O professor Angelo Souza, do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná, analisa que a concentração de analfabetos está ligada ao perfil socioeconômico dos bairros. “A baixa escolaridade dificulta o progresso econômico e, sem progresso econômico, essas pessoas não conseguem se desenvolver.”

Projeto mira analfabetos com mais de 15 anos
O mapeamento do analfabetismo em Curitiba também mostra um bom número de escolas que não ofertam turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em áreas de alta concentração de analfabetos. Atualmente, 1.626 curitibanos – de 96 turmas, divididas em 69 escolas – frequentam aulas na modalidade. O número é 40% maior do que no ano passado e deve crescer com o Centro Regional de Educação de Jovens e Adultos (Cereja), que será lançado oficialmente na noite de hoje pela Secretaria Municipal de Educação.

Com a proposta de diminuir os índices de analfabetismo entre curitibanos com mais de 15 anos, o projeto não se limitará à criação de vagas, mas irá pensar na adequação do ensino a cada uma das realidades reveladas pelo mapeamento. De acordo com Waldirene Bellardo, com a pormenorização dos dados foi possível a identificação das pessoas pelos NRE. “Foi um trabalho minucioso em rede. Pedimos que os pais dos alunos respondessem um questionário. E as pessoas foram trazendo informações. Teve um vizinho, sem filho matriculado na escola, que ficou sabendo e veio dizer que tinha interesse.” Atualmente, 1.710 pais ou responsáveis por alunos matriculados na rede municipal nunca estudaram.

A ideia do Cereja é oferecer alfabetização de acordo com as necessidades de cada grupo: jovens, idosos, pessoas com filhos e até estrangeiros, como os haitianos, que estão tendo aulas de Língua Portuguesa. “Não é só a oferta de vagas. Temos salas de acolhimento, com profissionais que cuidam das crianças, para que as mães possam voltar à sala de aula”, exemplifica Waldirene. A meta do município é chegar próximo aos 100% de alfabetização até o final de 2016.

Remédio
Mapeamento facilita resposta do governo, diz especialista


Embora o município tenha índices de analfabetismo bem abaixo da média nacional – cerca de 8% – Souza recorda que 28 mil pessoas estão sem nenhum tipo de atendimento nesse sentido, já que apenas 1,6 mil frequentam programas de alfabetização. “Esse mapeamento facilita a ação do poder público. 90% dos analfabetos do país são beneficiários de programas sociais do governo. O Ministério do Desenvolvimento Social tem o CPF e endereço de todas essas pessoas. Cruzando os dados, é possível potencializar uma ação mais direta.”

Na opinião de Souza, não é o caso de criar turmas de alfabetização, e sim ir onde as pessoas estão. “Essa população é difícil de ser atingida pela escola. Ela trabalha? Faz em parceria com o trabalho. Ela frequenta igreja? Faz em parceria com o pastor ou padre”, sugere. O professor acrescenta que, como o processo leva de seis a oito meses, poderia ser feito por meio de bolsistas.
1.710 pais ou responsáveis por alunos matriculados na rede municipal nunca estudaram.
http://www.cidadedoconhecimento.org.br/cidadedoconhecimento/index.php?subcan=7&cod_not=40756

Nenhum comentário:

Postar um comentário