terça-feira, setembro 10, 2013

Robôs enriquecem o currículo escolar e estimulam o cérebro

Brunno Covello/Gazeta do Povo / Campeonato de futebol de robôs, construídos por crianças de 5 a 11 anos, do Colégio Marista Paranaense
Em vez de quadro-negro e carteiras, a sala de aula tem furadeira, martelos, parafusos, grampos e serra tico-tico. E como atividade principal: a construção de um robô. O nome da aula é robótica, uma “multidisciplina” que, apesar de parecer ficção científica, é um aparato pedagógico capaz de desenvolver raciocínio lógico, criatividade e relacionamento interpessoal.
O objetivo final não é construir um robô perfeito, mas superar as fases envolvidas no projeto. Para concluir uma máquina que ande em linha reta, por exemplo, o aluno precisa utilizar fórmulas matemáticas, conceitos da física, geometria, mecânica, raciocínio lógico e até noções de planejamento.
Surgimento
A robótica foi introduzida na educação na década de 60 pelo cientista Saymourt Papert, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele direcionou seu trabalho ao desenvolvimento de programas capazes de fortalecer atividades intelectuais nas crianças. No Brasil, o primeiro kit de montagem de robótica foi o da Lego, composto por sensores, motores e engrenagens.
Didática
Escola pública também oferece aulas de robótica
A rede pública de ensino também oferece a robótica educacional. A Secretaria Municipal de Educação adquiriu 3 mil kits de montagem e 11.500 fascículos de material didático da Lego, que foram distribuídos entre as 11 escolas da capital. Uma delas é a CAIC Cândido Portinari, localizada da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
Nas aulas os alunos veem na prática a teoria estudada em sala, como ângulo, força, rotação e velocidade. “Atendo 15 crianças, que demonstram ser bem mais curiosas do que as outras”, afirma Ronnie Zanatta, professor e mestrando em ciências que coordena o projeto no colégio.
Em âmbito estadual, três escolas trabalham com a metodologia. No Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, localizado no Capão da Imbuia, a disciplina entrou na grade curricular. “Como aqui a educação é integral, com carga horária de 9 horas, resolvemos incluir disciplinas mais práticas”, diz Alexandre Torrilhas, diretor-geral do colégio que usa o tema durante duas horas/aula por semana. Como o projeto foi implantado neste ano, os alunos estão conhecendo as peças que compõem um carrinho, parte elétrica, parte mecânica e todos os conceitos envolvidos. O próximo passo, de acordo com Torrilhas, será a montagem de um carro com mouses de computadores.
“Desenvolve-se a parte prática, sempre fortalecendo a teoria”, diz Leandro Augusto, diretor da escola de educação tecnológica LA Robótica Educacional, localizada em Curitiba.
Entre seus alunos de 5 a 11 anos está Pedro Achraf, 6 anos, do Colégio Marista Paranaense. “Quando ele sai das aulas normais, não se lembra de quase nada do que aprendeu. Agora, depois da aula de robótica, lembra-se de tudo. Isso porque ele toca nos aparelhos, experimenta, erra, acerta e socializa com os colegas”, diz o pai do menino, o engenheiro da computação Omar Achaf, 43 anos, que considera a experimentação algo fundamental na aprendizagem.
A construção de robôs em sala de aula não significa a panaceia para o modelo de educação brasileira, afirma o professor e mestrando em Ensino de Ciências, Ronnie Zanatta. “É só um recurso. O aprendizado do aluno vai depender mais de como o docente ensina”, comenta.
Nova metodologia
Segundo ele, o primeiro passo para utilizar robôs em sala de aula é entender que o modelo tradicional de ensino – associado a aulas expositivas e alunos enfileirados um atrás do outro – está mais do que saturado. Já o segundo passo é explorar o equipamento. “Não adianta usar algo que você não conhece. É ideal passar uns três meses estudando o material antes de apresentá-lo aos estudantes”, explica.
Enquanto algumas escolas usam madeira, peças antigas e até controles de videogames no processo de construção de robô, outras preferem os kits de montagem. Um dos mais conhecidos é o kit Lego, composto por peças, polias, engrenagens e bloco de programação – um “cérebro”, que deve ser programado por meio de softwares simples, como a Logo, um tipo de linguagem de programação para crianças desenvolvida na década de 60 nos Estados Unidos.
Para o Ph.D. em Enge­nheira Mecânica Robótica Alcy Rodolfo dos Santos Carrara, a inclusão da robótica na educação brasileira é uma forma de enriquecer o currículo escolar, que hoje é pobre em atividades práticas. “A criança e o jovem já começam a ter aquela ideia de que podem inventar, algo até então tolhido em sala de aula”, diz.
Enem
Das dez melhores escolas curitibanas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado em 2012, sete oferecem a robótica como disciplina extracurricular. “Resolvemos incluí-la porque é uma atividade lúdica. Quando o aluno se sente livre, aprende mais fácil”, diz o diretor educacional do Marista Paranaense, Mário José Pykocz.
Atividade cria interesse pela matemática
A metodologia pode ser uma alternativa para fazer os alunos se interessarem mais por matemática, já que foge do modelo tradicional de ensino. “A disciplina faz a criança e o adolescente compreenderem a matemática e a física de forma mais ampla”, diz Alexandre Torrilhas, diretor-geral do Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira.
No último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado pela OCDE, o Brasil ocupou a 57.ª posição no quesito desempenho em matemática, atrás de Argentina, México e Chile. Outra pesquisa, a Prova Brasil, realizada em 2011, constatou que apenas 33% dos alunos do 5.º ano da escola pública têm o conhecimento desejado da disciplina.

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