Tiririca é um dos deputados que não se ausentou de uma só sessão de plenário desde o início do mandato
Cientistas políticos são unânimes ao
analisar o fenômeno Tiririca (PR-SP), reconduzido ao cargo de deputado
federal com o apoio de mais de 1 milhão de eleitores: é um voto de
protesto. Mas o palhaço por profissão e que debocha da classe política
nas propagandas trata de coisa séria no Congresso.
Na última semana, o parlamentar, um dos únicos a comparecer a todas as sessões do mandato, apresentou projeto que institui a política nacional de redução de perdas e desperdício de alimentos. Na justificativa, usou tom emocional, lembrou sua história e citou até uma paródia que costuma cantar para sensibilizar os colegas.
O projeto de Tiririca propõe princípios, objetivos,
metas e ações a serem adotados pelo governo federal em cooperação com
Estados, municípios e iniciativa privada, de modo a maximizar o
aproveitamento para consumo humano dos alimentos no país. Entre as ações, defende que se conscientize as pessoas
e se faça investimentos sobre os impactos do desperdício e a elaboração
de iniciativas que tenham por finalidade a redução das perdas.
Isso inclui, por exemplo, a inserção do
tema no conteúdo programático do ensino fundamental, em disciplinas
relacionadas à educação alimentar e nutricional, e a conscientização
quanto aos aspectos sociais, ambientais e econômicos relacionados às
perdas e ao desperdício.
A política nacional versaria
também sobre a capacitação de pessoal para produção, colheita,
processamento, transporte, armazenamento e comercialização e a pesquisa
científica que contribuíssem para reduzir as perdas.
Na justificativa, Tiririca
lembra estimativa da Organização das Nações Unidas para a Fome e a
Alimentação (FAO) de que a terça parte de todo o alimento produzido no mundo
se perde ou é desperdiçada, provocando imenso impacto negativo sobre a
economia global, a oferta mundial de alimentos e o meio ambiente. “Uma
das coisas mais tristes e vergonhosas que acontecem todos os dias é o
desperdício de toneladas e toneladas de alimentos, enquanto muitos não
têm o que comer”, diz o parlamentar no texto.
Tiririca destaca que foi menino pobre,
cita a vida de palhaço e resume: “Grandes humoristas brasileiros e de
todo o mundo, que sempre me inspiraram, têm demonstrado rara capacidade
de produzir humor nas mais variadas situações e até ajudado a amenizar a
dor de crianças que sofrem com graves enfermidades, internadas em
hospitais. No entanto, há coisas que definitivamente não têm graça, como a miséria e a fome”.
Ao encerrar a justificativa,
Tiririca volta a tratar de sua origem nos palcos. “Sem fome e sem
miséria, muitos brasileiros que hoje enfrentam dificuldades poderão, de
fato, perceber-se como cidadãos; bem alimentados, poderão aproveitar melhor
a vida e, entre outras coisas, divertir-se com as pilhérias dos
palhaços”, avalia, antes de citar uma paródia que costuma cantar nos
palcos. Assim ele conclui:
“Não se admire se um dia
menino de rua invadir
a porta da sua casa,
pegar alimento e fugir.
Não condene esse menino,
não chame ele de ladrão
que leva sol e chuva
e ainda dorme no chão.
Mas se você parar pra pensar
e prestar bem atenção
’cê pode ajudar
e tirar ele do chão.
Já sabendo disso tudo
ele vai lhe dar as mãos.
É a nossa obrigação:
ajudar nossos irmãos!”
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