sexta-feira, janeiro 02, 2015

A cidade dos 19 santuários

Quando o padre Dirley Moreira chegou à Paróquia São Francisco de Assis, no Xaxim, em 2008, logo recebeu a demanda. “A igreja é muito pequena, precisamos de uma nova”, diziam os mais impacientes. Em pouco tempo, o novo pároco concordou com os fiéis. A igreja antiga tinha lugares para cerca de 300 pessoas, número bem inferior aos quase 3 mil paroquianos que vão à missa todos os fins de semana. O sacerdote aceitou o desafio, demoliu o antigo templo em abril deste ano e quando a nova construção for concluída, em 2017, virá com um status a mais. “A paróquia vai virar santuário”, informa Moreira.
INFOGRÁFICO: Veja a rota dos santuários em Curitiba
Rodolfo BUHRER/ Gazeta do Povo
Rodolfo BUHRER/ Gazeta do Povo / Cenas da fé : novenas no Santuário do Perpétuo Socorro mobilizam 40 mil pessoas por semana Ampliar imagem
Cenas da fé : novenas no Santuário do Perpétuo Socorro mobilizam 40 mil pessoas por semana
Atender multidões virou a especialidade dos redentoristas
O Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Alto da Glória, é o exemplo mais bem-sucedido de “santuário-paróquia” em Curitiba. “O mérito é de Deus”, diz o padre Primo Aparecido Hipólito, reitor do santuário. Mas os fatos e a história deixam claro que o trabalho da congregação dos redentoristas foi fundamental para a comunidade exibir os números de que dispõe hoje. Nas 17 novenas rezadas de hora em hora às quartas-feiras, das 6 às 22 horas, o santuário recebe em média 40 mil pessoas. No balanço mensal, levando em conta todas as missas celebradas, o número salta para 150 mil fiéis. O atendimento a toda essa gente é feito por apenas três padres, auxiliados por seminaristas .
Cuidar de santuários pode não ser oficialmente o carisma da Congregação do Santíssimo Redentor, mas ao menos no Brasil essa se tornou a especialidade do grupo de religiosos fundado por Santo Afonso de Ligório. Além de promover a novena mais famosa da cidade, iniciada na década de 60, os redentoristas administram o Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá; o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Goiás; e o Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo. “Acho que os bispos gostam de nós”, resume o padre Primo, ao explicar os frequentes convites para que a congregação assuma grandes santuários.
Sem bingos e sem rifas
Avesso a festas, bingos ou rifas, padre Moreira quer construir o Santuário de São Francisco de Assis exclusivamente com o dinheiro de doações. Além dos comuns exageros de fiéis no consumo de bebidas em festas de paróquia, o padre aponta o estresse causado por essas iniciativas. O sacerdote prefere contar apenas com a boa vontade dos paroquianos para financiar a obra.
Com 1,9 mil metros quadrados, o novo edifício deve comportar 700 pessoas sentadas. O projeto foi pensado com olhos no futuro. Pouco a pouco, os galpões e antigas residências da região têm dado lugar a condomínios de edifícios, com centenas de novos moradores, e que acompanham as transformações trazidas pela Linha Verde.
A rodovia fica a poucos metros da paróquia, bem como o extenso terreno no qual será erguido o futuro Park Shopping Boulevard, que tem previsão de inauguração para o mesmo ano em que o santuário ficará pronto, 2017.
Se tudo correr dentro do previsto, a paróquia, que fica na movimentada Rua Francisco Derosso, vai se tornar o vigésimo santuário da arquidiocese de Curitiba, número elevado se comparado a arquidioceses maiores. A de Belo Horizonte, por exemplo, tem dez; a do Rio de Janeiro, sete.
Peregrinos
Segundo o Código de Direito Canônico, santuário é um lugar sagrado para o qual se dirige um grande número de fiéis, em peregrinação, motivados por devoção religiosa. O teólogo Robert Rautman explica que um santuário deve ter estrutura adequada para o acolhimento de peregrinos, incluindo a disponibilidade de padres para celebrar missas e ouvir confissões diariamente, em vários horários.
É comum, inclusive entre membros do clero, a percepção de que nem metade dos santuários locais atende com rigor o que a lei eclesiástica prevê. “São poucos os santuários nos quais se pode chegar em qualquer dia e encontrar um padre para se confessar”, admite Moreira. Questionado se dará conta do recado quando o Santuário de São Francisco estiver pronto, ele responde com modéstia. “É difícil, mas tento ser ‘caxias’. Fico na paróquia o dia inteiro para receber o povo, e quando o santuário estiver pronto, quero fazer isso melhor ainda”.
“Santuários-Paróquia”
O acúmulo das atividades de paróquia com as de santuário é motivo frequente para justificar a escassez de serviços religiosos de algumas igrejas. Rautmann explica que numa paróquia comum, as responsabilidades do pároco são numerosas, envolvem frequentes reuniões para tratar de temas administrativos, que vão além das necessidades espirituais da comunidade. Num santuário, a devoção popular deve ser o foco dos sacerdotes que ali atuam, e que dispõem de mais tempo para se dedicar quase exclusivamente aos peregrinos.
Em Curitiba, contudo, com exceção da Igreja do Rosário, no Centro Histórico, todos os demais santuários são também paróquias, o que obriga seus dirigentes a se desdobrarem para atender as demandas das duas realidades.
Apesar disso, o aumento de trabalho vale a pena, afirma Moreira. A eficácia dos santuários em impulsionar devoções é apontado pelo padre como o principal motivador para encarar as novas exigências. “São Francisco de Assis é uma figura amada por muitos, mas há apenas três santuários dedicados a ele no Brasil, e nenhum no Sul. Acho que esse título pode nos ajudar a atrair muita gente para Cristo”, afirma.

 
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1523669&tit=A-cidade-dos-19-santuarios

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