Paulo Vecchio, 69 anos, um dos destaques do Ferroviário, não vacila ao lembrar de 1967: “Não foi brincadeira”
Na 1ª inserção de fato do estado no cenário nacional, Ferroviário, na época o bicampeão paranaense, conhecia o abismo entre o futebol local e os grandes do país
Há 45 anos, o Ferroviário tirava o Paraná da periferia nacional ao disputar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Uma primeira jornada diante dos grandes clubes do país que representou um duro choque de realidade para o então bicampeão estadual.
Antes dessa inserção, o estado havia disputado a Taça Brasil, como o Atlético, em 1959, mas sempre sem ultrapassar a fase regional, diante de catarinenses e gaúchos. Foi com o embrião paranista que o Sul deixou de ser o limite.
Entre os meses de março e maio de 1967, foram 14 partidas e nenhuma vitória do Boca-Negra – quatro empates e oito derrotas, com nove gols marcados e 26 sofridos. “Nosso time sentiu a diferença, pois estávamos acostumados com o campeonato local que, naturalmente, era menos exigente”, relembra o atacante Paulo Vecchio, autor de dois gols na competição. Hoje aos 69 anos, ele trabalha na Caixa Econômica Federal.
Também avante, Fernando Augusto, 76, hoje funcionário do Paraná (clube que tem o Ferroviário entre os antepassados) na sede da Avenida Presidente Kennedy, recorda do contato com as estrelas daquele tempo – um intercâmbio inédito e marcante. “Enfrentamos o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Tostão, o Corinthians de Rivelino, o Botafogo de Gérson. Não foi brincadeira”. O Palmeiras, de Djalma Santos e Ademir da Guia, levantou o caneco.
Tratava-se da primeira edição do Robertão, criado como uma versão ampliada do Torneio Rio–São Paulo. Em um primeiro momento, sem prestígio, o Paraná estava fora dos planos. Mas uma manobra de José Milani, presidente da Federação Paranaense de Futebol, incluiu o time da Rede Ferroviária Federal no certame.
Um dos argumentos do dirigente era de que os clubes do Sudeste teriam de cruzar o estado para enfrentar os gaúchos Grêmio e Internacional. Logo, não seria problema passar por Curitiba. De quebra, a medida reforçaria o caráter nacional do campeonato.
“Nós tínhamos por aqui amistosos eventuais. Receber uma competição desse porte foi diferente. Eu morava no centro, ia a pé para a Vila Capanema, pela Rua João Negrão. Lembro do frio no estádio, que acabou acompanhando os resultados”, recorda o publicitário Ernani Buchmann, torcedor do Ferroviário e ex-presidente do Paraná (1996-97).
O desempenho ruim dos comandados do técnico Marinho pode ser explicado, em parte, pela decisão da diretoria de não reforçar o elenco com o empréstimo de atletas dos coirmãos – estratégia comum na época e utilizada pelo Furacão para a disputa do ano seguinte. Nem mesmo contratações foram feitas.
Apoio extra só veio das arquibancadas do Durival Britto. Até um slogan foi lançado e ganhou às ruas: “Estamos com o Boca no Robertão, pelo progresso do futebol do Paraná”. As torcidas de Atlético e Coritiba, entre outras, mandaram as suas “charangas” para os jogos.
“O Ferroviário tinha uma grande torcida e as partidas receberam ótimos públicos, com rendas recordes. E ainda contou com a curiosidade dos demais torcedores da capital. Foi uma manifestação muito bonita”, diz Airton Cordeiro, colunista da Gazeta do Povo, narrador na época.
"Fonte" Gazeta do Povo
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