Localizados em praças e pontos de bastante movimento, os módulos policiais representam hoje o extremo oposto do que já foram um dia. Para moradores e comerciantes próximos às estações abandonadas em Curitiba, as estações são o retrato da ausência do Estado em lugares onde a criminalidade cresce. Desativados ou com a presença de policiais apenas em determinadas horas do dia, os módulos são vistos como um símbolo de desperdício de dinheiro público e da falta de segurança.
Isso ocorre no bairro Água Verde. Situado próximo a um dos cemitérios municipais, o módulo policial que está fechado poderia minimizar o número de assaltos e furtos de carros da região. É o que pensa Reinaldo Skrzepszak, comerciante de 60 anos que mora no bairro e que teve seu veículo roubado há poucos meses quando seu filho saía de casa. “Tenho que olhar para fora cada vez que entro ou saio de casa para ver se não tem ninguém. Se o módulo estivesse funcionando aqui iria amenizar esse problema, porque o ladrão quer coisa fácil, sem riscos”, fala.
Estação móvel
Trailers devem levar policiais aos bairros
Um das metas do governo para a área de segurança pública é disponibilizar 387 módulos policiais à população do estado até 2014. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), o quadro de abandono de módulos policiais será revertido inicialmente com a compra de módulos móveis.
Serão 150 veículos adaptados (vans) para fazer o serviço de um módulo convencional que estarão circulando nas grandes cidades paranaenses até o fim do segundo semestre deste ano, ou até 2013, no caso de municípios de médio porte.
O comandante geral da Polícia Militar em exercício, coronel César Alberto Souza, explica que cada bairro receberá um módulo móvel que permanecerá na região e poderá ser deslocado conforme a demanda da comunidade.
Polícia Comunitária
Os módulos móveis, segundo o comandante, fazem parte da política de policiamento comunitário e contarão com vans de dois tamanhos: um semelhante aos já usados hoje pela PM e que contam com 12 policiais, e outro equipado com câmera que vigiará todo seu entorno conectado a uma central. Este modelo terá o apoio de duas motocicletas e uma viatura, disponibilizando ao todo 18 homens.
“Quando não forem mais utilizados nos bairros, os módulos auxiliarão na cobertura de feiras e outros eventos”, explica o coronel César. Ele afirma que os recursos para a compra desses equipamentos é assegurado pelo programa Paraná Seguro e já estão previstos no Plano Plurianual (PPA) do governo.
Aproximação
Para Guaracy Mingardi, pesquisador de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e ex-subsecretário nacional de segurança pública, desde que não sejam fixados em determinados pontos da cidade, os módulos móveis podem cumprir esse papel de aproximação com a comunidade. É o que pensa também Luiz Donabon Leal, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Para ele, a mobilidade dos módulos funcionaria melhor para atender locais mapeados como mais violentos. “O módulo móvel talvez consiga atender de forma mais efetiva as necessidades de policiamento dessas regiões porque ele amplia a relação entre a população e a autoridade”.
Desativados
Com relação aos equipamentos públicos de segurança construídos nos bairros que permanecem trancados, o comandante em exercício fala que eles poderão ser reformados e adaptados novamente para uso desde que esteja localizado em pontos estratégicos para a segurança da região.
“Depois de consolidada a situação de segurança da área serão construídos módulos fixos onde houver necessidade”, explica o coronel.
Quem também já foi assaltada e sente falta da presença permanente dos policiais é a pensionista Vanda Alves Alice, de 73 anos. Vanda mora em frente ao módulo do Jardim Social e conta que a polícia vai algumas vezes por dia até o módulo, permanece no local por alguns instantes e depois vai embora. Foi em um desses intervalos sem policiais que a casa de Vanda foi assaltada e a pensionista teve suas joias e equipamentos eletrônicos furtados. “Se tivesse policial ali pelo menos teria visto o movimento estranho”, diz a moradora.
Policiais presos
Guaracy Mingardi, pesquisador de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e ex-subsecretário nacional de Segurança Pública, afirma que a necessidade de ter policial à disposição da população vai além da construção ou reativação dos módulos. “É evidente que alguns locais precisam de módulos e outros não, mas eles não podem prender a polícia lá dentro e tirar o efetivo da rua.”
Em sua opinião os módulos são políticas que não deram certo e que devem ter novos usos. “Não deveriam ser reabertos, mas eles não foram construídos para ficarem fechados. Deveriam ter uma destinação social, alguns podem servir, inclusive, para atividades comunitárias”, diz Mingardi.
“Mocó” estratégico
Entre os módulos desativados da capital, o implantado na Vila São Pedro recebeu durante meses uma nova função, porém nada nobre ou dentro da legalidade. Hoje a construção está completamente pichada e é cercada por grades, mas ainda assim serve como ponto de encontro de traficantes e usuários de drogas.
“Quando os policiais saíram do módulo, os traficantes entravam e usavam o espaço para fazer comércio lá dentro. Então a comunidade tirou a porta e fechou com parede. Olha que absurdo”, fala Luiz Alberto Sobania, de 65 anos, dono de uma loja em frente ao equipamento, que fica em uma praça que dá acesso a dois colégios estaduais, um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e um Farol do Saber. “Faz cinco anos que esse módulo está fechado e com certeza faz falta. Já fui assaltado quatro vezes nesse tempo e agora os traficantes agem na praça o dia todo”, conta Luiz.
Fonte: Gazeta do Povo 26/04/2012
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