Em sua 22.ª edição, que começa hoje para convidados, o Festival de Teatro de Curitiba potencializa seu papel de formador de plateia com a coprodução de quatro espetáculos e a escolha de peças que atraiam o espectador de primeira viagem.
Homem Vertente, que faz uma “palhinha” de 20 minutos na abertura do evento, é um espetáculo argentino que ganhou versão brasileira com apoio do diretor do festival, Leandro Knopfholz.
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Um dos bonecos usados em Homem Vertente, que abre hoje o festival
“É um show muito visual, não é literal. A história tem muitas metáforas e a linguagem é da ficção científica”, contou à Gazeta do Povo o diretor Pichón Baldinu, que se encantou pela Ópera de Arame e transferiu o espetáculo do Parque Barigui para lá. “Nunca vi nada igual”, disse, referindo-se à estrutura metálica situada em meio à natureza.
Peças que já cumpriam carreira no eixo Rio-São Paulo também foram escolhidos pelo potencial visual, como o musical Gonzagão – A Lenda. “Ele mexe com o imaginário coletivo, e é fácil, muito contemplativo, as pessoas ouvem músicas conhecidas”, disse Leandro.
Além dos musicais, desde a criação do festival, em 1992, a linguagem do circo é privilegiada. Nesta edição, o grupo Manacá (ex-Circo Roda) apresenta Nostalgia, que faz uma homenagem aos tempos áureos dos palhaços.
A presença de espetáculos definidos como “visuais” e “fáceis” está intimamente ligada ao compromisso de formação de plateia dividido pela direção do festival com a Fundação Cultural de Curitiba. “Percebemos que muitas empresas da Cidade Industrial compravam pacotes de ingressos para os funcionários de chão de fábrica. E se o primeiro contato dessas pessoas com o teatro fosse ruim, elas achariam que o teatro é ruim”, afirmou Leandro.
Entre as demais coproduções do festival, pode-se incluir na categoria de “atração até para quem tem o pé atrás com o teatro” a estreia Parlapatões Revistam Angeli, que dialoga com os quadrinhos ao homenagear o cartunista.
A Música e a Cena atrai o público fiel da velha guarda sonora, com a participação de Cida Moreira, e Cine Monstro Versão 1.0, experimental, é uma produção que foi “acelerada” por incentivo do festival. “Eu já tinha o projeto, e quando veio o convite me pareceu interessante usar essa data para mostrar a primeira versão da peça”, contou à reportagem o diretor, autor e ator deste monólogo, Enrique Díaz.
Local
Como tradicionalmente acontece, a cidade tem discreta representação na mostra principal. Haikai, de Roberto Alvim, é uma produção de Nena Inoue e seu núcleo de experimentação do Espaço Cênico. Esta Criança, da Cia. Brasileira de Teatro, é uma parceria do grupo curitibano de Marcio Abreu com Renata Sorrah.
“O que acontece é que nem sempre é fácil achar um espetáculo inédito”, alega Leandro. “E o teatro tem cada vez menos fronteiras geográficas”, explica, citando os títulos acima e O Diário de Genet, texto baiano adaptado por um autor paulistano.
Em anos anteriores, o festival coproduziu trabalhos de Paulo Biscaia Filho, João Luiz Fiani e obras-primas como Alice Através do Espelho, da Cia. Armazém, e A Vida É Cheia de Som e Fúria, de Felipe Hirsch.
Ingressos
Quem ainda pensa em comprar ingressos precisa ficar atento à lotação dos teatros. Alguns espetáculos estão com entradas quase esgotadas, como Em Nome do Jogo, O Líquido Tátil e O Médico e o Monstro, para os quais há bilhetes apenas para o segundo dia de apresentações.
Brinde
Ator de Porta dos Fundos substitui peça belga que cancelou participação
De surpresa, Gregório Duvivier se apresentará neste festival no palco do Guairão, teatro que ele admira pela capacidade.
A atração belga Kiss & Cry cancelou sua participação por dificuldades de logística, e Uma Noite na Lua entrou para a grade da Mostra 2013. A peça, com autoria de João Falcão, conta a história de um escritor abandonado pela mulher que derrama sua tragicomédia e solidão num monólogo de uma hora. Alguns números musicais entrecortam o espetáculo.
“O que mais gosto na peça é que ela possibilita passar por todos os sentimentos do mundo”, contou o ator à Gazeta do Povo.
Após estrear esse trabalho em junho do ano passado, Gregório ficou conhecido dos internautas por participar do projeto Porta dos Fundos, esquetes de humor na internet que podem se acessadas pelo canal de vídeos YouTube. A celebridade instantânea levou para ver sua peça e o musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força, que ele também estrela, pessoas que não tinham o hábito de frequentar o teatro. “É um sonho se realizando, porque sinto uma migração do público de 15 a 25 anos da internet para o teatro."