Mesmo diante das críticas de usuários de ônibus, Parag Khanna comparou e elogiou o sistema curitibano
Com base no que leu e ouviu sobre Curitiba, o cientista político indo-americano Parag Khanna escreveu um artigo no início do mês para a revista Time tecendo vários elogios ao transporte coletivo da cidade. Khanna, que foi assessor do presidente Barack Obama durante a campanha eleitoral e hoje presta consultoria informal ao Departamento de Estado, destacou no texto o recém-chegado ligeirão à frota de ônibus, a baixa poluição atmosférica e as parcerias público-privadas feitas na capital paranaense.
Considerado uma das pessoas mais influentes do século 21, o estudioso calcula ter visitado mais de 100 países e inúmeras cidades. Ele desembarcou em Curitiba pela primeira vez na última terça-feira para participar da 2.ª Conferência Internacional de Cidades Inovadoras. A reportagem da Gazeta do Povo propôs então o convite: que tal conhecer o sistema de transporte público da cidade sobre o qual escreveu? Na prática, a euforia do cientista político não é compartilhada por muitos curitibanos que andam de ônibus: 31% dos passageiros avaliam o transporte coletivo como regular e 20% como ruim ou péssimo, conforme um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas no início deste ano.
Khanna, que já fez caminhadas pelos Alpes e escaladas, aceitou o convite no mesmo instante e a viagem ficou marcada para quarta-feira passada. Ele sugeriu o horário – 9 horas da manhã – e levou a esposa, Ayesha, a filha de 2 anos, Zara, a babá da criança, papéis e caneta. “Anoto ideias para projetos, palestras, trechos de livros.”
Primeira impressão
O ligeirão partiu vazio da Praça Carlos Gomes, no Centro, e recebeu poucos passageiros durante o trajeto até o terminal do Boqueirão. “Bons assentos”, disse o visitante ao se acomodar. Pela janela, pôde ver a cor das pinturas dos prédios (“Há uma relação entre pintura e felicidade”) e a limpeza (“É mais limpa do que Nova York”, onde ele mora atualmente).
Entre anotações nos papéis que mantinha no bolso e sorrisos à filha, que andava de ônibus pela primeira vez, o cientista político gostava do que via. A expressão era bem diferente entre os passageiros. “O que ele está vendo não é real. No horário de pico o ônibus vive cheio, forma fila para entrar, não dá conta da demanda”, disse à reportagem o desenvolvedor de software Alan Silva dos Santos, sentado no primeiro assento do ônibus.
Ao saber da crítica, Khanna viu nisso um bom sinal. “Que bom que as pessoas estão usando. Se as pessoas estão usando significa que é eficiente”, disse. Para ele, é preciso implantar mais sistemas como o ligeirão em outras linhas e as dificuldades neste setor não são exclusivas de Curitiba. “Em Londres, você não consegue nem entrar na estação em alguns momentos”, comparou.
No momento do desembarque, no terminal do Boqueirão, um coral de crianças se apresentava para lembrar o dia de combate à exploração sexual infantil – parecia até que a recepção tinha sido armada para receber os visitantes. Na volta à Praça Carlos Gomes, o ligeirão lotou. Khanna ficou de pé, sem se importar, e continuou contando suas experiências. Falou que depois da eleição de Obama, não se candidatou para trabalhar no governo, pois teria de morar em Washington, andar de terno e gravata e estar num setor burocrático.
Retorno
Após 20 minutos, a viagem de ônibus chegava ao fim. “Em Nova York se leva 90 minutos para fazer de ônibus um trajeto como esse, de 20 quilômetros”, disse. Da Carlos Gomes ele foi a pé para o Calçadão da XV, que fazia questão de conhecer. A filha já dava sinais de cansaço e a família continuou a caminhada até chegar ao hotel em que estava hospedada.
E as conclusões?
A primeira delas é que Curitiba não é concentrada e as pessoas trabalham em diferentes partes da cidade. Outra conclusão é que a capital não precisa de metrô. Sugere o sistema light rail, o veículo leve sobre trilhos.
Ciente das críticas dos curitibanos sobre ônibus lotados e congestionamentos, o cientista retruca: “Vou para outros lugares que estão falhando”, diz ele em referência a locais que não apresentam soluções para suprir carências. “Não sou tão crítico de lugares que estão tentando [como Curitiba].” Depois de tantos elogios, a pergunta naquele momento – se o que ele tinha visto confirmava o que havia escrito no artigo – já era redundante.
Fonte: Gazeta do Povo do Paraná
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