Alunos interessados pelas aulas, que se destacam entre os colegas e apresentam pensamento crítico são vistos por professores – ou “garimpeiros de talentos” – como atletas potenciais de olimpíadas do conhecimento. Essas competições costumam ser divididas em locais, regionais, nacionais e internacionais e são voltadas para estudantes do ensino fundamental ou médio e até universitários. Entre os objetivos dos jogos estão o incentivo aos estudos, o envolvimento com as áreas de cada uma e a formação de futuros grandes pesquisadores.
Inicialmente, as olimpíadas concentravam-se em poucas áreas, como a pioneira Matemática, mas hoje há disputas para todos os gostos, da Astronomia à Linguística. O que é cobrado também varia. Enquanto alguns alunos são submetidos a debates ou provas teóricas, outros fazem experiências ou apresentam trabalhos práticos.
Depoimento
O interesse veio aos poucos
Ana Letícia de Lima Santos, estudante do 3º ano do ensino médio do Colégio Positivo
Participei da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) pela primeira vez em 2011 e nem me interessava muito. Quando conquistei a medalha de prata, fiquei mais entusiasmada pelo assunto. No ano passado, conquistei o ouro e soube, neste ano, que fui escolhida para representar o Brasil na etapa latino-americana. Passei a estudar ainda mais. Graças à olimpíada, meu interesse por Astronomia e Astronáutica surgiu. Fazia mapas do céu, testes de lançamentos de foguetes a ar e água e muitos exercícios. Participei também de olimpíadas de Física e Química e fiquei entre os três primeiros lugares algumas vezes. Houve épocas em que cheguei a ser motivo de chacota, mas hoje os colegas me ajudam quando podem e dizem se orgulhar de mim.
Antes de se aventurar
Confira algumas dicas para quem está interessado em participar de olimpíadas do conhecimento:
• Algumas escolas fazem um trabalho específico de preparo para as “provas olímpicas”, o que não é o ideal. “Agindo assim, a escola não está despertando o interesse, mas a competitividade. Olimpíada não é vestibular”, diz o professor Marco Boin. Se os estudantes querem se sentir melhor preparados para as provas, podem conferir as questões cobradas em olimpíadas anteriores, disponíveis no site de cada competição.
• Cada olimpíada tem seu perfil e uma forma específica de cobrar os conteúdos. Enquanto a de Filosofia pede a apresentação de um trabalho e a de Língua Portuguesa, uma redação, a de Matemática tem foco em lógica e as de Química e Física estão mais voltadas ao conteúdo visto em sala de aula.
• Estudantes interessados em participar das olimpíadas devem buscar informações nos sites de cada competição para descobrir qual desperta mais interesse. Depois disso, é bom buscar auxílio com o professor daquela disciplina. Algumas competições exigem que haja um professor responsável pela turma, outras autorizam o aluno a concorrer por conta.
• Competições estaduais, nacionais ou internacionais, que envolvem viagens, geralmente contam com patrocínio para cobertura dos custos. Em outros casos, é o governo quem subsidia os estudantes. Vale consultar o edital de cada evento para certificar-se dos custos envolvidos.
Fonte: Professores entrevistados.
Acesse
Confira os sites de algumas das principais olimpíadas de nível nacional voltadas a estudantes do ensino fundamental e médio:
• Agropecuária - www.ifsuldeminas.edu.br/obap/
• Astronomia e Astronáutica (OBA) -www.oba.org.br
• Biologia (OBB)- www.anbiojovem.org.br/obb
• Física (OBF) - www.sbfisica.org.br/v1/olimpiada
• História do Brasil (ONHB) -www.museudeciencias.com.br/4-olimpiada
• Informática (OBI)- http://olimpiada.ic.unicamp.br/
• Linguística (OBL) - www.obling.org
• Matemática (OBM) - www.obm.org.br
• Matemática das Escolas Públicas (Obmep)-www.obmep.org.br
• Robótica (OBR) - www.obr.org.br
Já participou?
Que dicas você daria a estudantes que têm vontade de disputar olimpíadas do conhecimento? Como se preparar?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Os estudantes valorizam a medalha ou o diploma conquistados, mas a coordenadora pedagógica do Colégio Dom Bosco, Samira Dib, lembra que os ganhos são mais amplos. Há o acesso a outras culturas e a troca de conhecimento entre estudantes de outros estados ou países, por exemplo. “É um desafio para eles. Quando motivamos, eles mesmos buscam as informações e querem participar”, comenta.
Perfil
Entre os participantes, uma minoria se inscreve nas olimpíadas apenas para competir. Esses acabam desistindo no meio do caminho, segundo o matemático e coordenador psicopedagógico do ensino médio do Colégio Marista Paranaense, Marco Boin. Segundo ele, é possível traçar um perfil do “atleta” dedicado a competições de conhecimento.
“Os estudantes já têm provas nas escolas. Para o aluno passar o fim de semana fazendo prova de olimpíada é porque ele tem um pensamento diferente. Está buscando mais, como um aluno que costuma pedir para mim indicação de estudo para as férias”, diz. Boin se refere ao estudante do 3.º ano do ensino médio Leonardo Gonçalves Chiquita, 17 anos, que recentemente foi campeão da Olimpíada Paranaense de Física e está classificado para a etapa nacional.
O garoto ficou curioso quando ouviu falar da competição no 1.º ano do ensino médio e, sem muita pretensão, resolveu participar. Não teve bom desempenho na primeira vez e ficou em 5.º lugar no ano passado. “Depois disso passei a estudar, mas não para a olimpíada. Estudo Física de uma forma geral. No começo, quando aprendemos a base da disciplina, é mais chatinho; agora está muito interessante. A gente começa a entender muito do mundo. A Física está em tudo”, comenta.
Assim como participa das provas de Física, Leonardo também encara as olimpíadas de Química e de Matemática. Ele vê nisso um preparo e tanto para garantir uma vaga no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde pretende estudar Engenharia Aeronáutica.
Variedade
Competições envolvem professores e nem sempre dão prêmios
Competições envolvem professores e nem sempre dão prêmios
Na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, a competição entre os alunos ocorre em anos pares e, nas outras épocas, professores da rede pública são convidados a participar de oficinas. Alguns docentes são selecionados pelas secretarias estaduais para a formação presencial e os outros podem acompanhar aulas a distância.
“A olimpíada faz parte de um conjunto de ações que não se restringe apenas à avaliação do texto. Todos os anos, o Ministério da Educação envia materiais direcionados para as escolas, independentemente de elas participarem do projeto”, conta Edilson Krupek, professor de Língua Portuguesa e técnico do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação (Seed).
Sem premiação
As olimpíadas costumam ser promovidas por universidades ou com o apoio delas, como é o caso da de Filosofia. Trata-se de um desafio diferente, sem ganhadores ou perdedores. O evento é pensado a partir dos conteúdos estruturantes das diretrizes curriculares do ensino médio e estimula a produção de um vídeo de 15 minutos sobre um veículo midiático.
É uma prova com caráter de socialização, segundo Geraldo Balduino Horn, coordenador da Olimpíada de Filosofia. Não há ranking entre os alunos, que recebem certificado e concorrem a sorteios de grandes obras da Filosofia. “É impressionante ver a alegria deles durante as apresentações. São alunos que têm participação ativa e vontade de expor seus trabalhos”, conta.
Depoimento
Bom desempenho em olimpíada definiu a carreira a ser seguida
Bom desempenho em olimpíada definiu a carreira a ser seguida
Lislei Vendas Urban de Oliveira, 25 anos, engenheira elétrica da Petrobrás em Macaé (RJ)
Sempre gostei de Matemática e meus professores sempre me incentivaram a participar de competições. Participei de Olimpíadas Brasileiras de Matemática (OBM) desde a 5.ª série do ensino fundamental. Fui primeiro lugar em 2005, quando estava no 3.º ano do ensino médio e disputei a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Além da medalha de ouro, ganhei uma bolsa de estudos de um ano para participar de um curso ministrado por professores universitários. Também viajei ao Rio de Janeiro, fiz uma visita ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada e assisti a palestras de professores renomados. Foi muito legal encontrar autores de livros de Matemática que estudamos na escola! Com certeza, isso foi um estímulo para eu seguir na área das Exatas e me dedicar ao estudo contínuo. Diante de toda essa experiência, foi interessante perceber que havia vários alunos inteligentíssimos vindos de cidades sem uma educação de excelência e que não tinham perspectivas de vida. A Obmep os “descobriu” e abriu um leque de oportunidade para eles. Esse é justamente um dos objetivos da olimpíada: dar chances para todos desenvolverem seu potencial.
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