A pouco mais de um mês do Natal, comércio, financeiras e bancos abriram a temporada de renegociação de dívidas. A ideia é fazer com que o consumidor que atrasou as contas no fim do mês possa usar o dinheiro extra do décimo terceiro salário para “limpar” o nome e retomar as compras no fim de ano.
Estão previstos vários mutirões de renegociação para facilitar o contato entre devedores e credores. Pelo segundo ano consecutivo, a Associação Comercial do Paraná (ACP) em parceria com a Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), vai promover, de 25 a 29 de novembro em Curitiba o“Acertando suas Contas”.
Ajuda extra
Décimo terceiro vai para pagar dívidas em 62% dos casos
A maior parte das pessoas vai usar o décimo terceiro salário para pagar dívidas em 2013. Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) revela que 62% dos consumidores – contra 61% no ano passado – querem usar o dinheiro extra do fim do ano para pagar compromissos.
Em compensação, 14% querem gastar com presentes, contra 16% no ano passado. A redução da atividade econômica e inflação mais elevada aumentaram o endividamento dos consumidores, segundo o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira.
O levantamento, que ouviu 612 pessoas de todas as classes sociais, mostra que o crédito é a linha com maior peso na composição das dívidas em aberto dos consumidores, com 41% do total, seguido por 36% do cheque especial. Dívidas com bancos representam 9% e no comércio, 6%.
Justiça
Credor tem que tirar o nome do SCPC em cinco dias
O credor deve requerer em cinco dias, contados da data do efetivo pagamento, a exclusão do nome do devedor dos serviços de proteção ao crédito, sob o risco de responder por dano moral. Desde 2012, vale uma decisão da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao julgar recurso no qual um ex-devedor do Rio Grande do Sul reclamava uma indenização pela não retirada do seu nome, depois de doze dias da quitação do seu débito, da lista de inadimplentes. A justiça determinou o pagamento, na época, de R$ 6 mil por dano moral ao consumidor. Embora houvesse precedentes do STJ que impunham ao credor a obrigação de providenciar o cancelamento da anotação negativa do devedor em cadastro de proteção ao crédito, quando quitada a dívida, não havia, segundo a relatora do recurso da Terceira Turma, uma decisão que estipulasse qual era esse prazo.
A intenção é atrair entre 15 mil e 20 mil pessoas. A ação terá participação de bancos, financeiras e grandes redes de varejo, segundo Simone Scuissato, gerente de serviços da ACP.
Na primeira semana de novembro, o mutirão atendeu cidades como Maringá, Umuarama, Paranavaí e Arapongas. Segundo a entidade, até agora foram realizadas 2 mil renegociações. “Em geral, são negociados prazos mais longos, redução dos juros e até descontos no valor da dívida”, diz.
Educação financeira
Segundo Fernando Cosenza, diretor de marketing, inovação e sustentabilidade da Boa Vista Serviços, a intenção, mais do que “limpar o nome” para as compras de fim de ano, é promover a educação financeira, para evitar que o consumidor volte a ficar inadimplente. A entidade faz eventos desse tipo desde 2010.
Nesse ano, já foram realizados mutirões em 17 cidades no país, com 5 mil negociações. “Nesse ano estamos expandindo geograficamente os mutirões. Devemos fazer em mais de 40 cidades”, diz.
A Serasa Experian, por sua vez, realizou um feirão “Limpa Nome” no Rio, atualmente promove um em São Paulo, e deve lançar o programa em Belo Horizonte e Salvador, além de oferecer também o serviço online de mesmo nome.
Segundo Cosenza, os mutirões são importantes porque muitas vezes o consumidor nem sabe quanto deve e nem quanto era o valor original da dívida. “Além disso, há um comprometimento do credor em ser flexível e buscar um acordo com o devedor”, afirma.
A inadimplência, de acordo com ele, geralmente começa com pequenas emergências no dia a dia das famílias. “Se a geladeira pifa, a família não tem uma reserva e tem que consertar. Para isso, usa o dinheiro do condomínio, por exemplo”, afirma.
De acordo com Simone, embora venha caindo, a inadimplência está disseminada em praticamente todas as faixas etárias. Hoje ela vem crescendo especialmente entre os jovens a partir de 21 anos, que estão entrando no mercado de trabalho, e entre as pessoas acima de 60 anos, que “emprestam o nome” para outros membros da família.
Estratégias para “ganhar” o sono de volta
• Reúna as contas
Pode ser difícil juntar faturas e boletos, mas esse é o primeiro passo para saber qual o tamanho da dívida e montar um programa de redução dos débitos. O ideal, dizem os especialistas, é fazer uma planilha com a fonte de cada dívida, o valor correspondente e o prazo – se ela for financiada.
• Saiba o que é prioridade
Em seguida, eleja as contas que são prioridade de pagamento. As que estão atrasadas, as que cobram os juros maiores – como cheque especial ou cartão de crédito – e as que comprometem mais de 10% da renda líquida devem vir primeiro.
• Fuja das armadilhas
Concentre-se em pagar o que deve e não em fazer mais contas. Faça um plano de pagamento e o execute dentro dos padrões estipulados. Crédito fácil, sem consultas ao SPC e ao Serasa, costumam ser uma porta de entrada para mais problemas para quem já está endividado.
• Habitue-se a planejar
Com as contas em dia, vale adotar um novo modelo de administração das contas. Planejar gastos futuros, aprender a economizar e reduzir a ansiedade pela compra imediata e não confundir crédito com renda são um aprendizado. Faça uma planilha com a renda real e as despesas fixas e variáveis. Anotar gastos diários – até mesmo o cafezinho – pode mostrar para onde o dinheiro vai e evitar gastar mais do que se tem. O ideal é que sobre um pouco de dinheiro no fim do mês para emergências ou para compor uma poupança futura. Não é necessário viver sem as coisas boas da vida e nem deixar de usar o crédito, mas para usufruí-los sem dor de cabeça é preciso organização.
• É hora de negociar
Quando a dívida é muito maior do que a renda líquida, a saída é entrar em contato com a instituição credora e propor uma negociação. Em geral há descontos nos juros e aumento de prazos. Em alguns casos, os credores chegam a dar descontos no valor da dívida. O mais importante, porém, é que a renegociação seja viável. A nova parcela precisa caber dentro do orçamento. Em alguns casos, é válida a estratégia de substituição de dívida – fazer um empréstimo com juros menores e prazos maiores e pagar dívidas mais caras.
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