Perguntas sobre a aposentadoria de R$ 24,1 mil mensais que recebe como ex-governador do Paraná fizeram o senador Roberto Requião (PMDB) tomar o gravador das mãos de um repórter, ontem, no plenário do Senado. O paranaense levou o aparelho para seu gabinete e depois o devolveu, sem o cartão de memória que continha o áudio da entrevista. Três horas depois, o cartão foi entregue ao jornalista, mas sem o arquivo – à noite, o material acabou sendo publicado pelo peemedebista em sua página na internet.
Reincidente
Histórico ruim com a imprensa
“Requião toma gravador e agride repórter”. A notícia, com esse título, foi publicada em maio de 2004. Na época, a vítima de Requião era outra, embora o método de atuação do então governador já fosse o mesmo. O repórter Fábio Silveira, do Jornal de Londrina, entrevistava o peemedebista sobre o governo Lula. Requião não gostou das perguntas, torceu o polegar direito do repórter e arrancou o gravador de sua mão para ter certeza de que estava desligado.
A relação de Requião com a imprensa sempre foi tumultuada. Nos sete anos e meio de seus dois últimos governos teve diversos confrontos com repórteres. O caso mais célebre ocorreu na entrevista coletiva concedida no dia seguinte à sua reeleição, em outubro de 2006. Com uma claque ocupando parte do auditório no Palácio Iguaçu, Requião rechaçou a maior parte das perguntas acusando os veículos de parcialidade em favor de seu adversário à época, o ex-senador Osmar Dias.
Na “Escolinha de Governo”, que apresentava semanalmente na TV Educativa, Requião também aproveitava o tempo para criticar a “imprensa canalha”. Em um dos casos, chegou a acusar a imprensa de falsificar uma cena de vandalismo em uma escola estadual para prejudicar o seu governo.
Rogerio Waldrigues Galindo
“Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deletá-lo.”
“O jornalista agressor está conseguindo o sucesso que pretendeu, e a ‘catigoria’ está alvoroçada. A discussão é boa.”
“Faço política séria e defendo o interesse público. Não almejo perfeição e não tenho sangue de barata.”
“Primeiro a agressão e provocação, depois a tentativa de linchamento. Minha história e meu currículo suportam com facilidade. Boa discussão.”
“Os donos da mídia não querem contraditório, fascistas promovem massacre. Venham que aqui tem café no bule.”
Roberto Requião, no Twitter, comentando o episódio da retirada do gravador do jornalista da Band News
Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, fazia entrevistas para uma reportagem sobre inflação. Um dos poucos presentes à sessão não deliberativa de segunda-feira à tarde, Requião foi questionado. Depois, o repórter passou a perguntar sobre a aposentadoria de Requião. “Essa pensão que o senhor vem recebendo, ou pode receber, o senhor pretende abrir mão?”, perguntou Boyadjian. No áudio, não é possível perceber qualquer agressividade.
Requião respondeu que o benefício vinha sendo concedido aos ex-governadores paranaenses nos últimos 40 anos. “Estou usando essa pensão para pagar as multas que me foram injustamente impostas”, justificou.
O jornalista insistiu no tema e perguntou se o senador estaria disposto a abrir mão da aposentadoria para melhorar a situação econômica do estado. Nesse momento Requião tomou o gravador. O repórter disse que “não estava mais gravando” e tentou recuperar o aparelho. “Não vai desligar mais p... nenhuma. Vou ficar com isso aqui”, disse Requião.
Depois, Boyadjian justificou: “Achei que o senador queria pegar o gravador para falar em off [sem ser gravado]. Mas ele saiu rapidamente pelo corredor em direção ao gabinete dizendo que estava louco para bater num moleque.”
O jornalista foi atrás de Requião e propôs a apagar a entrevista, desde que recuperasse o aparelho. “Não fui ao gabinete dele porque pensei que poderia acontecer alguma coisa comigo. Afinal, ele me ameaçou.” Requião não deu entrevistas sobre o assunto.
Decoro
O Comitê de Imprensa do Senado e o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal prometem ingressar hoje com uma representação na mesa diretora do Senado contra Requião por quebra de decoro parlamentar. São os diretores que vão decidir sobre o encaminhamento do processo para o Conselho de Ética, órgão que delibera sobre punições. Ontem à tarde, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), disse que ainda não havia tomado conhecimento do caso e que aparentava haver um “mal entendido”.
“O senador Requião é um cavalheiro”, declarou Sarney. A expectativa do presidente do sindicato, Lincoln Macário, é que o senador pelo menos sofra uma advertência. O presidente do comitê, Fábio Marçal, afirmou que o episódio foi apenas mais uma situação de “destempero” de Requião.
Após perder o gravador, o repórter tentou prestar queixa à polícia do Senado, mas não conseguiu. Em seguida, foi à Corregedoria, novamente sem sucesso.
Depois de receber de volta o gravador, o cartão de memória só foi entregue ao jornalista pelas mãos do filho do senador, Maurício Thadeu de Mello e Silva. Questionado pelos jornalistas, Maurício disse que “não era político” e que não podia se justificar pelo pai. “Estou aqui como filho.” Maurício trabalha no gabinete do primo, o deputado federal João Arruda (PMDB-PR). (AG)
Fonte: Gazeta do Povo 26/04/2011
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