terça-feira, abril 26, 2011

Requião toma gravador à força e apaga entrevista.

Perguntas sobre a aposentadoria de R$ 24,1 mil mensais que recebe como ex-governador do Paraná fizeram o senador Roberto Requião (PMDB) tomar o gravador das mãos de um repórter, ontem, no plenário do Senado. O para­­naen­­­se levou o aparelho para seu gabinete e depois o devolveu, sem o cartão de memória que continha o áudio da entrevista. Três horas depois, o cartão foi entregue ao jornalista, mas sem o arquivo – à noite, o material acabou sendo publicado pelo peemedebista em sua página na internet.

Reincidente

Histórico ruim com a imprensa

“Requião toma gravador e agride repórter”. A notícia, com esse título, foi publicada em maio de 2004. Na época, a vítima de Requião era outra, embora o método de atuação do então governador já fosse o mesmo. O repórter Fábio Silveira, do Jornal de Londrina, entrevistava o peemedebista sobre o governo Lula. Requião não gostou das perguntas, torceu o polegar direito do repórter e arrancou o gravador de sua mão para ter certeza de que estava desligado.

A relação de Requião com a imprensa sempre foi tumultuada. Nos sete anos e meio de seus dois últimos governos teve diversos confrontos com repórteres. O caso mais célebre ocorreu na entrevista coletiva concedida no dia seguinte à sua reeleição, em outubro de 2006. Com uma claque ocupando parte do auditório no Palácio Iguaçu, Requião rechaçou a maior parte das perguntas acusando os veículos de parcialidade em favor de seu adversário à época, o ex-senador Osmar Dias.

Na “Escolinha de Governo”, que apresentava semanalmente na TV Educativa, Requião também aproveitava o tempo para criticar a “imprensa canalha”. Em um dos casos, chegou a acusar a imprensa de falsificar uma cena de vandalismo em uma escola estadual para prejudicar o seu governo.

Rogerio Waldrigues Galindo

“Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deletá-lo.”

“O jornalista agressor está conseguindo o sucesso que pretendeu, e a ‘catigoria’ está alvoroçada. A discussão é boa.”

“Faço política séria e defendo o interesse público. Não almejo perfeição e não tenho sangue de barata.”

“Primeiro a agressão e provocação, depois a tentativa de linchamento. Minha história e meu currículo suportam com facilidade. Boa discussão.”

“Os donos da mídia não querem contraditório, fascistas promovem massacre. Venham que aqui tem café no bule.”

Roberto Requião, no Twitter, comentando o episódio da retirada do gravador do jornalista da Band News

Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, fazia entrevistas para uma reportagem sobre inflação. Um dos poucos presentes à sessão não deliberativa de segunda-feira à tarde, Requião foi questionado. Depois, o repórter passou a perguntar sobre a aposentadoria de Requião. “Essa pensão que o senhor vem recebendo, ou pode receber, o senhor pretende abrir mão?”, perguntou Boyadjian. No áudio, não é possível perceber qualquer agressividade.

Requião respondeu que o benefício vinha sendo concedido aos ex-governadores paranaenses nos últimos 40 anos. “Estou usando essa pensão para pagar as multas que me foram injustamente impostas”, justificou.

O jornalista insistiu no tema e perguntou se o senador estaria disposto a abrir mão da aposentadoria para melhorar a situação econômica do estado. Nesse momento Requião tomou o gravador. O repórter disse que “não estava mais gravando” e tentou recuperar o aparelho. “Não vai desligar mais p... nenhuma. Vou ficar com isso aqui”, disse Requião.

Depois, Boyadjian justificou: “Achei que o senador queria pegar o gravador para falar em off [sem ser gravado]. Mas ele saiu rapidamente pelo corredor em direção ao gabinete dizendo que estava louco para bater num moleque.”

O jornalista foi atrás de Requião e propôs a apagar a entrevista, desde que recuperasse o aparelho. “Não fui ao gabinete dele porque pensei que poderia acontecer alguma coisa comigo. Afinal, ele me ameaçou.” Requião não deu entrevistas sobre o assunto.

Decoro

O Comitê de Imprensa do Senado e o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal prometem in­­­gres­­­sar hoje com uma representação na mesa diretora do Senado contra Requião por quebra de decoro parlamentar. São os diretores que vão decidir sobre o encaminhamento do processo para o Conselho de Ética, órgão que delibera sobre punições. Ontem à tarde, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), disse que ainda não havia tomado conhecimento do caso e que aparentava haver um “mal entendido”.

“O senador Requião é um cavalheiro”, declarou Sarney. A expectativa do presidente do sindicato, Lincoln Macário, é que o senador pelo menos sofra uma advertência. O presidente do comitê, Fábio Marçal, afirmou que o episódio foi apenas mais uma situação de “destempero” de Requião.

Após perder o gravador, o repórter tentou prestar queixa à polícia do Senado, mas não conseguiu. Em seguida, foi à Corre­­­gedoria, novamente sem sucesso.

Depois de receber de volta o gravador, o cartão de memória só foi entregue ao jornalista pelas mãos do filho do senador, Maurício Thadeu de Mello e Silva. Questionado pelos jornalistas, Maurício disse que “não era político” e que não podia se justificar pelo pai. “Estou aqui como filho.” Maurício trabalha no gabinete do primo, o deputado federal João Arruda (PMDB-PR). (AG)


Fonte: Gazeta do Povo 26/04/2011

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