Os dados foram obtidos pela Gazeta do Povo por meio da Lei de Acesso à Informação na Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), responsável pela operação da Rede Integrada de Transporte (RIT) na capital e em mais 20 municípios da região.
Soluções
Ocorrências podem ser evitadas com rodízio
Especialistas em trânsito apontam a revisão dos tempos máximos de viagem, o rodízio de linhas e a ampliação do investimento em vias exclusivas para o transporte público como soluções para o crescimento das colisões envolvendo coletivos.
“O motorista precisa de capacitação constante. Estabelecer um rodízio nas linhas evitaria a sensação de conforto, o que pode deixá-lo no ‘automático’ e levá-lo a avançar em semáforos”, defende Ricardo Bertin, mestre em Transportes e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Já Garrone Reck, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), aposta em melhorias nas vias e criação de mais corredores de ônibus. “Precisamos de mais faixas exclusivas e um sistema de monitoramento de tráfego que favoreça o transporte coletivo, tornando o modal mais eficiente. Assim são eliminados o impacto dos congestionamentos e os acidentes”, afirma.
A criação de mais vias exclusivas valorizaria o uso do transporte coletivo em detrimento do particular. Segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran) do Paraná, entre 2007 e 2011, Curitiba ganhou cerca de 134 mil automóveis – crescimento de 18% no período. (RM)
Controle do tempo
Urbs diz não multar motoristas por atraso no trajeto
A crítica dos motoristas de ônibus ao sistema de controle de tempo não se justifica, segundo a Urbs. “Não multamos pelo não cumprimento de horários no trajeto. Essa história de pressão é conversa”, afirma o presidente da Urbs, Marcos Isfer. Apesar de descartar a sanção financeira, Isfer não nega que os motoristas recebam orientações ou até mesmo advertências. “Quando eu sei que dois ônibus estão fazendo a mesma linha e um está no horário e outro não, é sinal de que algo está acontecendo. Nesses casos, chamamos [o motorista] para conversar.” No Centro de Controle Operacional (CCO) da Urbs, 1.920 de um total de 2.285 ônibus são monitorados em tempo real. O cumprimento de horário ganha status: verde é dentro do esperado, amarelo é atrasado e vermelho é adiantado.
Com essas informações, técnicos das empresas responsáveis pelas linhas enviam mensagens de até 140 caracteres para alertar sobre as metas. Segundo a Urbs, há um cuidado para que o motorista não seja pressionado com essas mensagens que chegam ao painel de controle dos veículos e eles só podem ler ou responder com o carro parado.
Além de informações sobre o tempo de viagem, o CCO também comunica sobre vias interditadas e outras ocorrências que afetam o dia a dia do motorista e a fluidez do tráfego. (RM)
Pressa e imprudência
Usuários do transporte coletivo se dividem sobre o risco de colisões. Para alguns, os motoristas correm muito, mas outros culpam carros e pedestres pelos acidentes:
“Sempre percebo que o motorista está correndo além da conta. Nesta semana, o motorista corria muito e teve de frear, dando um solavanco. Se houvesse passageiros em pé, com certeza teriam caído.”
“Sinto-me segura nos ônibus. Acho que o maior perigo ocorre porque os pedestres às vezes são imprudentes e atravessam na frente, mesmo em canaletas.“
O levantamento mostra ainda que, antes do crescimento, a quantidade de acidentes no transporte coletivo se manteve estável durante 17 anos. Em 1989 foram registradas 1.092 colisões com coletivos, ante 1.373 ocorrências dessa natureza em 2006.
De acordo com a Urbs, a nomenclatura “colisão” envolve desde acidentes envolvendo outros veículos até ocorrências leves, como riscos na lataria causados em manobras. “Nesse período, iniciamos um controle mais efetivo e por isso houve aumento. Registramos qualquer arranhão no ônibus como acidente, já que o veículo precisa ser recolhido para reparos”, explica Marcos Isfer, presidente da Urbs.
A empresa, porém, não soube informar quantos dos 3 mil casos se referem a acidentes mais leves, mas divulgou dados do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) que contabilizam 792 acidentes com ônibus em todos os municípios da RIT em 2011. Esses números se referem tanto a coletivos do transporte público quanto de particulares.
Já estatísticas do Corpo de Bombeiros indicam a gravidade dos acidentes envolvendo esses veículos. Em 2011, 418 pessoas ficaram feridas em 325 ocorrências com ônibus públicos e privados em Curitiba.
Pressão
Para Lafaiete Santos Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico pela FAE e autor do livro Movimento Popular e Transporte Coletivo em Curitiba, uma das causas do aumento de colisões pode ser a pressão pelo cumprimento de horários. “Existe uma pressão de metas de horários e os condutores são multados se não cumprirem. A insanidade de manter essa repressão promove acidentes de toda a ordem”, afirma.
A opinião do especialista foi corroborada por motoristas ouvidos pela Gazeta do Povo. Um deles contou, inclusive, que recebeu sanções por correr demais. “Perdi as contas de quantas advertências recebi. Mas tenho de acelerar, caso contrário não cumpro o horário e perco o emprego, como já aconteceu com alguns colegas”, reclamou um condutor da linha Barreirinha/São José dos Pinhais, que pediu anonimato por temer represálias.
Vágner, que teve o sobrenome preservado pela reportagem, também culpa as metas pelos acidentes. “Quando extrapolamos a meta [de horário], não recebemos pelo tempo adicional do percurso. Corremos para não trabalharmos de graça”, diz o motorista, de 37 anos.
Além das colisões, há mais de uma centena de casos de atropelamentos todo ano. Segundo a Urbs, ocorreram 616 registros dessa natureza entre 2007 e 2011. No período, levando em consideração apenas os atropelamentos das canaletas expressas de Curitiba, 212 pessoas ficaram feridas e nove morreram.
Após criação de seguro, quedas crescem 56%
As ocorrências de quedas, torções e pessoas prensadas em portas dos coletivos de Curitiba e região cresceram 56% entre 2010 e 2011. De acordo com dados da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), há dois anos foram registrados 349 casos, ante 543 no ano passado. Uma das explicações para a alta pode estar relacionada ao Segbus, um seguro destinado a cobrir despesas médicas e indenizações de passageiros em caso de acidentes dentro de ônibus públicos, implantado em novembro de 2010.
Apesar da coincidência, Ricardo Bertin, mestre em Transportes e professor da PUCPR, vê com desconfiança essa relação. “Pode ser que houvesse subnotificação dos casos, mas acredito que esse crescimento esteja ligado mais ao aumento no número de acidentes.”
Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região (Sindimoc), cita um caso curioso para explicar o aumento das quedas de passageiros. “Logo que o seguro foi criado, quando eu ainda dirigia, flagrei um advogado entregando cartões aos passageiros com o objetivo de divulgar o seguro e promover o trabalho dele.”
Cobertura
O Segbus oferece cobertura de despesas hospitalares, odontológicas e com medicação, no valor de até R$ 3 mil, e indenização por invalidez ou morte. São atendidos usuários da Rede Integrada de Transporte que sofrem acidente em ônibus, terminais fechados e estações-tubo.
Para acionar o Segbus, basta ligar para o número 0800-942-5900 com as seguintes informações: dia da ocorrência, hora, local, descrição do ocorrido e identificação da linha de ônibus. O atendimento ocorre de segunda-feira a sábado, das 8 às 19 horas. Mais informações podem ser encontradas no sitewww.osegbus.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário