Um hipopótamo gorducho, uma lhama peluda e, mais recentemente, um antílope desengonçado e um cisne negro. Todos esses animais nasceram no zoológico de Curitiba nos três primeiros meses do ano. A farra era tamanha que sugeriram até instalar uma tevê nas jaulas dos mais saidinhos. Mas, o que poderia ser um repentino “baby boom” no Alto Boqueirão, na verdade reflete as boas condições que os bichos encontram por lá, já que a procriação é o principal indicativo disso.
“Isso é o que se espera de um zoológico”, diz o veterinário Manoel Javorouski, funcionário do zoo há 17 anos. Um ambiente propício para a reprodução de espécies em cativeiro necessita de alimentação, luminosidade e temperatura média adequadas. O manejo – procedimentos diversos realizados por veterinários e tratadores – também precisa ser perfeito. Claro, há os que não conseguem. É o caso atual das girafas, já que Piekarski é um macho infértil e Pandinha, uma “senhora” de 23 anos.
Preferência é pelos bichos simpáticos
No começo da década passada, o nascimento de onças e leoas no zoológico de Curitiba também ganhou repercussão. Entre 1990 e 1994, sete girafas deram o ar da graça, em pleno cativeiro – cinco sobreviveram e duas morreram no parto. O feito foi comentado Brasil afora. Mas por que filhotes de algumas espécies chamam mais a atenção do que outros?
“Talvez seja típico de brasileiro gostar mais de coisas de outros países”, palpita o veterinário Manoel Javorouski, referindo-se aos animais mais visitados pelas 650 mil pessoas que passam pelo zoo a cada ano: leão, hipopótamos e girafas, todos naturais da África. Outra explicação é a semelhança e empatia com os humanos. “Mesmo o nascimento de uma arara-azul ou um papagaio de peito roxo, que são animais em extinção, não chamam tanto a atenção quanto o de um macaco. O público quer empatia e simpatia. Já viu alguém dar nome para um filhote de cobra?”
Para os mais criativos, boas notícias: um antílope de pouco mais de uma semana e um filhote de cisne negro ainda não foram batizados.
Cuidados
Unidade curitibana vira referência em qualidade em manejo animal
Um passeio ciclístico que reuniu 10 mil pessoas marcou a inauguração do zoológico de Curitiba, há 31 anos. Os invernos rigorosos da cidade são um desafio a mais para veterinários, biólogos e tratadores. Mas, tendo em vista a chegada dos hóspedes mais recentes, o trabalho é digno de nota. “Se o animal não está bem, não vai reproduzir. Então eles certamente estão em boas condições e recebem um tratamento adequado”, diz Fernando Passos, membro da Sociedade Brasileira de Zoologia e professor da UFPR.
E até na hora H o veterinário precisa estar a postos. Dando uma folha de couve para a lhama, Manoel conta porque teve de intervir no parto do bicho, no dia 28 de março. “A cabeça estava para fora, mas as patas dentro da mãe”, lembra. Entre veterinários, biólogos e assistentes, cinco pessoas participaram do procedimento. A lhama – cujo nome, Ralph, foi escolhido em uma votação da Gazeta do Povo – passa bem e na próxima semana já estará no convívio com outros da sua espécie.
Gravidez acompanhada
Com Glória, o hipopótamo, foi diferente. Um tratador presenciou a cópula do grande casal, em plena luz do dia. Anotou a data em um caderninho. Depois de oito meses, tempo médio da gestação do mamífero, o animal foi recolhido. Glória nasceu na madrugada do dia 15 de fevereiro, e foi cercada de cuidados – até o prefeito Gustavo Fruet marcou presença, ao assinar sua “certidão de nascimento”. “O hipopótamo reproduz bem. O problema é a sobrevivência do filhote, já que a mãe acaba pisando ou machucando a cria, às vezes por acidente”, diz Manoel.
E para quem acha que o bicho está mais para um inofensivo porquinho acima do peso, o veterinário avisa: o hipopótamo é o animal que mais mata turistas na África. Pesa três toneladas, pode ficar até cinco minutos embaixo d’água e, fora dela, atinge a velocidade de 36km/h. “O máximo de Usain Bolt é 45. Ele conseguiria fugir. Nós não.”
Glória está isolada com a mãe, Penélope. Mas logo volta ao convívio do pai, Dino, e da irmã mais velha, Charlene.
Serviço:
Zoológico de Curitiba. Rua João Miqueletto, Alto Boqueirão. Telefone: (41) 3378-1221. Terça a domingo, das 9 às 17 horas. Entrada gratuita
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