terça-feira, janeiro 21, 2014
Bolsa-família de primeiro mundo
Por Werney Serafini
A Suíça votará projeto de Bolsa Família no valor de quase R$ 6.000 por pessoa.
O dinheiro deverá ser pago para todos os suíços através do Estado, que
coletará essa quantia em impostos (www.infomoney.com.br).
A notícia surpreende, pois a Suíça, além de país rico, detém os maiores índices
de desenvolvimento econômico, social e humano do mundo.
O projeto pretende criar uma ‘espécie’ de bolsa-família, que garantirá a todos
os habitantes do país um benefício mensal de 2.500 francos-suiços. A proposta
será votada por referendo nacional, após uma petição obter 100.000
assinaturas favoráveis.
O dinheiro seria pago pelo Estado a todos habitantes do país. O objetivo não é
combater a pobreza, mas expandir a liberdade para todos os cidadãos suíços.
A ideia é permitir que as pessoas decidam o que fazer de suas vidas, sem
preocupações com os seus futuros financeiros. O autor do projeto acredita
que há uma necessidade de adaptação à nova realidade dos avanços
tecnológicos e a exportação de empregos. Faz, também, alusão ao programa
bolsa-família implantada no Brasil, como uma das fontes inspiradoras da
proposta.
A Suíça tem uma das menores taxas de desemprego do mundo, não mais que
3% de pessoas sem ocupação. No entanto, a sociedade tem manifestado
descontentamento por conta da crescente desigualdade social, sobretudo a
classe média do país.
A ideia não é novidade e, ao contrário do que se pensa, tem adeptos em
diversos países. Diferente da bolsa-família brasileira é conhecida como ‘renda
incondicional básica’.
As pessoas em geral trabalham. Pelo trabalho recebem dinheiro. Com o
dinheiro recebido realizam projetos e tocam suas vidas. Esta lógica está
arraigada e faz crer que uma inversão na ordem é algo impraticável ou
inconcebível. Assim, instaurar uma renda garantida e permanente que
disponibilize mensalmente determinada quantia em dinheiro, suficiente para
permitir que cada indivíduo possa viver sem atividade assalariada parece, à
primeira vista, uma aberração. Entretanto, a realidade mundial e a crescente
concentração da renda vêm, gradativamente, mudando a concepção.
A redistribuição de renda, de certa forma, já é um fato. Bolsas de estudos,
licença maternidade, pensões previdenciárias, auxílios doenças, indenizações
por demissão, bolsa-família e muitos outros ‘benefícios’ tem em comum
dissociar renda e trabalho. Para muitos a renda incondicional é considerada
uma utopia moderna, porém percebem-se as evidencias de sua concretude
quer dizer, começa a existir de fato. Um dos exemplos é a França, onde cerca
de um terço da renda da população depende de redistribuição.
Uma possível consequência da ‘renda incondicional básica’ é a eliminação
do desemprego, resolvendo assim uma questão social e fonte de ansiedade
nas pessoas. Também, a poupança de recursos investidos na busca do pleno
emprego, além de tornar desnecessário o incentivo financeiro dado às
empresas para incrementar a oferta de empregos.
Por ser garantida e universal, isto é, concedida a todos, pobres e ricos,
eliminaria o trabalho para acompanhamento e controle dos benefícios da
assistência social, muitas vezes questionáveis por seu caráter humilhante,
intrusivo e moralizador.
A renda incondicional deveria ser suficiente para viver e concebida em
conjunto com os serviços púbicos e seguros sociais. Paga a cada indivíduo, do
nascimento até a morte e não a cada família; sem a exigência de nenhuma
condição ou contrapartida; e acumulada com os rendimentos do trabalho
eventualmente realizado.
Assim, cada pessoa poderia escolher o que deseja fazer da sua vida:
continuar trabalhando, ou seguir desfrutando o tempo contentando-se com
um nível de consumo modesto, ou ainda, alternar os dois. O período
‘desempregado’ não seria mais ‘suspeito’, pois o trabalho remunerado não
seria mais a única forma reconhecida de ‘ocupação’ social.
Por outro lado, poderia estimular a atividade econômica nos países em
desenvolvimento e reduzi-la ligeiramente em outros lugares, o que atenderia
objetivos ecológicos.
Ofereceria à oportunidade de eliminar o desemprego, a precariedade do
trabalho, as más condições de habitação e pobreza. Mas também não
eliminaria o sistema capitalista e mesmo que associada a um projeto de renda
máxima, não eliminaria totalmente as desigualdades.
Enfim, poderia fazer surgir uma nova ordem econômica, compatível com as
necessidades atuais. Numa metáfora, entre as figuras da cigarra
despreocupada e a formiga trabalhadora, interpõem-se uma terceira, a
abelha que com o trabalho de polinização não agrega valor direto, mas
certamente nenhuma produção poderia existir sem ela. Assim as pessoas,
individualmente, cada uma com a mais simples atividade diária estaria
contribuindo indiretamente na economia.
Resta saber, se o povo suíço irá referendar a proposta...
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