Acompanhar o movimento de pedestres em um dia comum no Ecoville, em Curitiba, reforça a ideia de que uma das regiões da capital que mais cresceu na última década tem traços de bairro-fantasma. Entre 16 e 17 horas de um dia de semana recente, 55 pedestres passaram por uma quadra da Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, uma das principais vias da região. Desses, 34 trabalham em algum dos condomínios da região como empregados domésticos, zeladores ou babás. Outro é personal trainer e cinco são funcionários de alguma construtora com obras no bairro. Havia um vendedor, um praticante de cooper e um visitante. Os 12 restantes eram moradores – média de um a cada cinco minutos.
A ocupação do espaço público nesse novo “bairro” de Curitiba é uma síntese dos contrastes e mudanças em um processo de zoneamento iniciado há 35 anos. Concebido para ser um bairro de operários da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), tornou-se um extenso condomínio vertical para a classe média alta. Imaginado como uma zona de alta densidade, harmonizando moradores, visitantes e comércio, veio a ter uma concentração de moradias sem aparelhos urbanos para o convívio, como praças, e pouca movimentação nas ruas.
“As pessoas visitam mais o shopping [ParkShopping Barigui]. Aqui ainda é bem devagar, são mais empregados, motoristas”, descreve Neide Yamashiro, proprietária de uma papelaria. “Se tivesse mais comércio, seria melhor para todos”, avalia.
Entretanto, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Urbanismo, o número de estabelecimentos comerciais e de serviços no Mossunguê, que abriga a maior parte do Ecoville, é relativamente proporcional ao de outros bairros desenvolvidos ao longo de uma via estrutural, como o Cabral e o Portão. Enquanto o Mossunguê tem 10 mil habitantes e 1,3 mil pontos comerciais, o Cabral tem 13 mil habitantes e 1,4 mil lojas.
A diferença é que os pontos comerciais do Mossunguê estão localizados principalmente na borda externa de seu sistema trinário, criando uma zona de diferenciação e impedindo a integração com o núcleo residencial. “Esses edifícios primam pela segurança, fazendo com que as pessoas conversem muito menos – até mesmo entre moradores de um mesmo prédio. As pessoas não estão ali querendo formar um bairro, mas se proteger dele”, analisa Olga Lúcia Firkowski, professora do Departamento de Geografia da UFPR e coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles.
Mudança de perfil
Até 1995, o trinário composto pelas ruas Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, Deputado Heitor Alencar Furtado e Monsenhor Ivo Zanlorenzi formava a Conectora 5, uma das ligações entre a CIC e o Centro da cidade. Originalmente, o zoneamento para as conectoras previa edificações com poucos andares e lojas comerciais no térreo. O objetivo era criar acomodações para trabalhadores, com infraestrutura e comércio independentes. Entretanto, o desenvolvimento da CIC foi menos intenso na região Norte e a conectora ficou subutilizada.
Assim, as leis de ocupação foram sendo gradualmente alteradas, até chegar ao formato atual. Os prédios passaram a ter altura livre, mas precisam respeitar recuos em relação à rua proporcionais ao número de andares, além de preservar um porcentual da área verde do terreno. O comércio, antes uma prioridade do projeto de zoneamento, foi limitado nas vias rápidas e proibido na canaleta.
Eu conheço diversas cidades do Brasil, principalmente o Sudeste. E isto que esta acontecendo SÓ AGORA em Curitiba, já e uma realidades nas cidades desenvolvidas do nosso pais
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