O mês passado levou Curitiba a atingir o seu pico de violência em 2011. A capital registrou 79 assassinatos (média de 2,6 por dia), 52% a mais do que em julho, segundo balanço da Delegacia de Homicídios. Em agosto, Curitiba registrou uma taxa de 54,1 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes, índice quase quatro vezes e meia maior que o considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os números não levam em conta as lesões corporais seguidas de morte, confrontos com a polícia e latrocínios. Somando esses casos, a capital teve 90 mortes violentas em agosto e uma taxa de 61,6 óbitos para cada 100 mil habitantes.
Vítima de uma guerra urbana
Elineuza Maria da Conceição (foto), 47 anos, perdeu a filha Leila, de 16 anos, em um acidente de trânsito em 29 de dezembro de 2008, em Maceió (AL). O motorista do carro estava embriagado e, há três anos, foi condenado a prestar serviços comunitários pela morte de duas jovens.
Áreas críticas
Estatísticas determinam próximos passos da polícia
Apesar de alarmantes, as estatísticas de homicídios em Curitiba – bem como a de outros crimes – são importantes para determinar as próximas ações da polícia, afirma o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva. “É preciso analisar porque o que está sendo feito até agora não está surtindo efeito. É preciso que a polícia se debruce sobre os números para traçar uma radiografia mais clara da criminalidade”, avalia.
Os dados estatísticos já nortearam quatro grandes operações da Delegacia de Homicídios neste ano. Uma dessas ações, no bairro Novo Mundo, terminou com a prisão de 11 pessoas e com a redução do índice de homicídios no bairro. “Por isso, a intenção é justamente aumentar este trabalho”, disse a delegada Maritza Haisi. Segundo ela, a delegacia prepara outras duas operações em bairros considerados críticos.
Falta de efetivo
A boa vontade da polícia, no entanto, esbarra na falta de pessoal e no acúmulo de inquéritos. A estimativa é de que existam cerca de 4 mil homicídios ainda sem solução na Delegacia de Homicídios. Cada um dos quatro delegados operacionais recebe, em média, 15 novos casos por mês – ou um novo caso a cada dois dias. Nenhuma das autoridades comenta a falta de recursos, mas pelos corredores da delegacia é possível notar a falta de investigadores e escrivães. Um problema que só deve ser solucionado com a contratação de 2,2 mil policiais civis nos próximos três anos, conforme previsão do programa Paraná Seguro. (FA)
Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública coronel José Vicente da Silva, as estatísticas comprovam “uma ineficiência da gestão de segurança no Paraná”, cujo reflexo maior é sentido em Curitiba. O especialista avalia que há falhas graves, principalmente na prevenção ao crime.
“Quando você reduz [o número de homicídios], é porque você previne. Se não há redução, é porque está havendo erros no processo [de prevenção]”, afirma. O trabalho preventivo é de atribuição da Polícia Militar, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, a corporação informou que só se manifestaria após avaliar os dados.
A delegada Maritza Haisi, chefe da Delegacia de Homicídios, diz que agosto teve duas particularidades que ajudam a entender a escalada das mortes. Uma delas são os homicídios múltiplos (quando mais de uma pessoa morre em um mesmo evento). Foram seis duplos homicídios e uma chacina (com quatro pessoas executadas). Outro aspecto são as brigas em saídas de casas noturnas, responsáveis por sete assassinatos. “Apesar do trabalho de investigação, isso não foi suficiente para fazer frente a esse aumento”, lamentou a delegada.
Para Vicente da Silva, esses fatores não são capazes de dar a medida exata do problema. Agosto superou meses como janeiro e fevereiro que, historicamente, registram mais homicídios por causa do calor e do maior consumo de bebida alcoólica. “A tendência deveria ser de queda em agosto.”
Mais do mesmo
O mapeamento revela que a maior parte dos homicídios ocorreu nas regiões leste e oeste da capital. Os bairros que concentraram o maior número de mortes no primeiro semestre deste ano também foram os mais violentos em agosto: a Cidade Industrial mais uma vez puxou a lista, com 14 homicídios. Em seguida vieram Uberaba (7), Sítio Cercado (6) e Cajuru (4).
De acordo com a Polícia Civil, quase a totalidade das mortes está relacionada ao tráfico de drogas, seja por acerto de contas com usuários ou por rixa entre grupos rivais. “É exceção quando a motivação não é uma dessas”, diz o delegado Jaime da Luz, responsável pela investigação de assassinatos nos bairros Uberaba e Cajuru.
A polícia revela que, nesses bairros, os crimes se concentram em áreas que compreendem poucas quadras. Segundo o delegado Cristiano Quintas dos Santos, que investiga casos na CIC, via de regra, os homicídios nesses bairros estão relacionados uns com os outros.
Fonte: Gazeta do povo 06/09/2011
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