segunda-feira, setembro 26, 2011

Rumo à (des)concentração

Curitiba é a cidade do Sul do Brasil que registra a maior densidade demográfica. Em nenhum outro lugar da região se encontram tantos habitantes em um mesmo espaço: são 4.025 curitibanos por quilômetro quadrado. O número é 77 vezes maior do que a densidade demográfica do Paraná, de 52,4 habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010.

Mais que concentrar tantas pessoas em um território considerado pequeno (435,3 quilômetros quadrados), Curitiba se destaca no Paraná pela centralidade econômica e de serviços. Com 1,7 milhão de habitantes, a capital reúne 17% da população paranaense – porcentual que cresce à medida que são analisados indicadores específicos. Por exemplo: a capital concentra 24% do Produto Interno Bruto, 36% das matrículas no ensino superior e 71% dos repasses fundo a fundo do Ministério da Saúde para atendimentos de média e alta complexidade no Paraná (veja os números nesta página).

História

Como Curitiba e os municípios metropolitanos assumiram posição de destaque no Paraná nas últimas décadas:

Anos 50 – A economia do Paraná tinha como base o extrativismo, a pecuária e a agricultura. Não havia articulação entre as regiões nem integração na economia nacional. É criado o Plano de Desenvolvimento do Estado do Paraná.

Anos 60 – Tentando superar as fragilidades, surgem a Companhia de Desenvolvimento do Paraná e o Fundo de Desenvolvimento Econômico.

Anos 70 – A Política de Desenvolvimento Urbano do Paraná reconhece como área mais forte do estado as centralidades de Londrina, Apucarana e Maringá e identifica a de Curitiba como outra área forte. É instalada a Cidade Industrial de Curitiba, na capital, e implantada a Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em Araucária.

Anos 80 – A maior participação na geração da renda estadual, até então garantida pelos municípios do Norte Central, desloca-se para a porção metropolitana da capital.

Anos 90 – É feita a remodelação aeroportuária em São José dos Pinhais e as montadoras Renault e Audi/Volkswagen se instalam na região.

Anos 2000 – A concentração de serviços aumenta. No início da década, Curitiba tem 16,6% do total da população paranaense.

Fonte: Informações retiradas de trabalhos do Ipardes

Com um espaço urbano bem estruturado e municípios limítrofes com vários serviços, a rede de Curitiba, formada pela capital e 13 cidades do entorno imediato, acaba influenciando as demais cidades do Paraná e parte de Santa Catarina. Estão na área de influência de Curitiba 666 municípios, com 16,2 milhões de habitantes, de acordo com dados do estudo do IBGE “Regiões de Influência das Cidades”, de 2008. Curitiba é uma das 12 metrópoles brasileiras e divide com Porto Alegre a condição de principal cidade da Região Sul. O estudo agregou dados referentes a órgãos públicos, grandes empresas, cursos superiores, saúde, lazer, compras e transporte.

Razões

A pesquisadora do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e do Observatório das Metrópoles Rosa Moura explica que a grande importância da rede de Curitiba está em concentrar um feixe de funções urbanas muito especializadas. “Tem alguns procedimentos médicos, educacionais, de consultoria, jurídicos, de comunicações, marketing, cultura e lazer que só se encontram aqui.”

Ela observa que está havendo um fortalecimento positivo da rede urbana no Paraná e em Santa Catarina. “Isso é bom porque você desconcentra a qualidade urbana para outras pessoas. Agora, sempre vai existir uma hierarquia urbana, você não tem como dotar todos os municípios do estado das mesmas condições e serviços.”

O geógrafo da Coordenação de Geografia do IBGE Marcelo Paiva da Motta destaca que a rede paranaense é bem estruturada e que existem bens e serviços suficientes para o bem imediato em cidades como Londrina, Maringá e Cascavel.

Com relação à densidade demográfica da capital, o professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Carlos Hardt explica que o indicador é resultado da otimização do espaço em razão do zoneamento do solo e de o território da capital ser pequeno nos padrões brasileiros.

Sobre a concentração de serviços, destaca que o fato de Curitiba ser uma capital exerce certa influência sobre os municípios do estado. Influência que é reforçada pela imagem que a cidade criou frente a inovações de gestão, como o trânsito, diz Hardt. “A expectativa de quem vem de uma cidade menor é conseguir bom emprego, estar numa cidade que é bem organizada.”


Centralização também gera desigualdade

“Onde mora a riqueza, mora a pobreza”, aponta a pesquisadora Rosa Moura referindo-se a Cu­­ritiba e região metropolitana. Além de concentrar a economia paranaense, afirma, a região tem o maior número de desassistidos pelas políticas públicas. “Isso é inerente ao capitalismo. Você sofistica a cidade, valoriza o solo urbano, investe em atividades tecnológicas e produtivas e ‘esquece’ as políticas públicas sociais”, completa.

Rosa aponta a necessidade ainda de planejamento, definição de estratégias para o estado e uma gestão coordenada entre os municípios. Segundo o professor Carlos Hardt, com a diminuição do ritmo de crescimento demográfico, a região pode se centrar agora em investir em melhorias para beneficiar a população que ainda não é atendida.

Políticas para o Paraná

O secretário estadual do Pla­ne­jamento e Coordenação Geral, Cassio Taniguchi, afirma que a concentração econômica e populacional pode ser observada em vários estados brasileiros, assim como em outros países. No Paraná, diz, a prioridade é a promoção do desenvolvimento sustentável e equilibrado.

Segundo Taniguchi, um maior equilíbrio demográfico está condicionado a um processo abrangente de crescimento econômico, que não exclua as regiões distantes dos grandes centros urbanos. “Por isso, o plano do governo estadual para a promoção do desenvolvimento inclui desde o incentivo à agricultura familiar até a atração de indústrias de ponta, passando ainda pelo apoio ao setor de serviços”, diz. “Com a efetivação dessa estratégia, esperamos reduzir a distância socioeconômica entre as regiões em situação desfavorável, como a porção central do estado, e as áreas mais pujantes, como a RMC [Região Metropolitana de Curitiba].” A RMC concentra 30,4% da população paranaense e 41,7% do Produto Interno Bruto do estado.
Fonte: Gazeta do povo 26/09/2011

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