Diante da necessidade de contratar temporários para o fim de ano, empresas paranaenses estão adotando a política do vale tudo, como oferecer salários altos a profissionais treinados por concorrentes, fazer anúncios de emprego em outras cidades e contar com a indicação de parentes dos funcionários.
O gerente administrativo da agência de recursos humanos Exalt, Osvaldo Kulchesky Junior, apresenta a proporção do problema: a média do número de ofertas de trabalho em relação aos profissionais preparados está em 3 para 1, o que dificulta a contratação de temporários e eleva os salários. “Nesta briga acirrada entre empregadores e empresas de RH na busca de bons talentos vale tudo, desde prazos de contratações estendidos até cestas básicas e brindes para cativar os candidatos”, explica.
As estratégias
Empresários têm usado diversas estratégias para atrair e manter funcionários, sejam eles temporários ou efetivos. Veja algumas das práticas:
- Brindes: oferecer brindes e cestas básicas aos candidatos a vaga de temporário
- Prazo: aumentar o prazo de contratação do temporário
- Benefícios: proporcionar mais benefícios, como plano de saúde e premiações diferenciadas por cumprimento de metas
- Mudança de função: treinar profissionais da área administrativa para que eles aprendam outras funções, como atendimento ao cliente
- Indicação: contar com indicações de parentes de funcionários e clientes da empresa
- Anúncios: fazer anúncios em cidades do interior para atrair profissionais para a capital
- Estrangeiros: receber profissionais de outros países
- Salário: ficar de olho nos profissionais que estão sendo treinados pelos concorrentes para, após o treinamento, oferecer melhores salários e atrair um funcionário qualificado
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem), o país precisa de 147 mil empregados temporários neste fim de ano.
Antonio Espolador Neto, vice-presidente da ACP e proprietário das lojas Scarpinni e Planeta Pé Calçados, ressalta que, em geral, o comércio já vive com um efetivo de 10% a 15% menor que o ideal. “Isso resulta em salários mais altos para os temporários. Além disso, é preciso oferecer diferenciais. Os mais comuns são planos de saúde e premiação diferenciada para o cumprimento de metas”, avalia Espolador Neto.
Adaptação
O empresário Rui Carlos Machado, proprietário da rede de lojas Lua Nova, conta que os funcionários da área administrativa têm treinamento específico e são deslocados para o balcão de vendas caso a demanda seja maior do que a esperada. “A gente pega quem está na retaguarda e coloca na linha de frente. As pessoas que trabalham no escritório já estão preparadas para os momentos de pico. Eu também estou”, ressalta.
Machado revela que, entre as estratégias para conseguir funcionários, está a indicação de parentes de colaboradores da empresa, bem como as recomendações de clientes. Quando o trabalhador mostra que tem perfil para o cargo, já entra como “temporário efetivo”. “Nos últimos 60 dias eu fiz quatro anúncios em jornais e nenhum deles trouxe mais de três candidatos. O pior é que não aproveitei nenhum. Estou há 20 anos no comércio e não me lembro de um final de ano como este.”
Bares contratam estrangeiros
A falta de mão de obra atinge todos os setores, mas é no ramo de bares e restaurantes em que a competição por funcionários está mais acirrada. No fim de ano, a situação piora, devido ao aumento da demanda. Pelas contas da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar-PR), o movimento nestes estabelecimentos cresce 30% a partir da entrada em vigor do horário de verão, crescendo gradativamente até o pico de 50% a mais de clientes no auge da estação.
A maioria dos empresários vem recorrendo a anúncio de emprego no interior do Paraná para encontrar funcionários, mas há outros sotaques que podem ser ouvidos nos restaurantes da capital, como o “portunhol” de vizinhos do Mercosul. De acordo com Fábio Aguayo, presidente da Abrabar-PR, argentinos e paraguaios já perceberam a carência do mercado de trabalho brasileiro e cruzaram as fronteiras para preencher as vagas desocupadas.
“Guerra”
Segundo Aguayo, o “jogo sujo” de alguns empresários alimenta a guerra no setor e inflaciona salários dos profissionais. Ele conta histórias de bares que têm planos de carreira, oferecem um bom treinamento profissional e veem os concorrentes assediarem – e levarem – seus funcionários. “É uma verdadeira guerra interna, em que os bares mais organizados são os mais atacados. Os concorrentes oferecem salários muito maiores, porque estão precisando de gente boa, e acabam aumentando, e muito, a remuneração média de mercado”, analisa o presidente da Abrabar-PR. O piso da categoria é de R$ 698, mas Aguayo conta que há profissionais que recebem propostas de R$ 2 mil, quase três vezes o salário mínimo da classe.
Fonte: Gazeta do povo 14/11/2011
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