quinta-feira, novembro 24, 2011

Para cada cidade, um monumento curioso


Várias cidades paranaenses são marcadas por seus apelidos, nomes que remetem a algum episódio histórico ou à vocação econômica da localidade. Em muitos municípios, a identificação com esses títulos ocorre de uma maneira mais visível, na forma de monumentos. Com formatos curiosos e variados, essas obras refletem um pouco a realidade local e chamam a atenção de quem passa por perto. Não sem antes dividir opiniões.

Para enaltecer o título de Cianorte, a “Capital do Vestuário”, no Noroeste, foi criado em 2006 um monumento que reúne elementos do setor da confecção: a agulha, o alfinete, o zíper, a linha e o manequim. Já em Santa Fé, também no Noroeste, o tema escolhido foi uma máquina fotográfica gigante. A obra, inaugurada em junho deste ano, tem seis metros de altura por oito de largura e simboliza o título de “Capital da Fo­­tografia”. Com pouco mais de 10 mil moradores, Santa Fé conta com quase 50 empresas atuando no ramo, produzindo uma média de 75 mil fotografias por dia.

Réplicas

Visitar Nova York e Paris é apenas um sonho distante para muitas pessoas. No entanto, quem está no Paraná pode ter um “aperitivo” de monumentos famosos. Veja onde ficam algumas reproduções:

Torre Eiffel

Umuarama

Na cidade do Noroeste do estado, uma réplica da torre parisiense foi construída ao lado da BR-323. A obra é resultado do sonho do empresário Edson Ferrarin, que investiu R$ 180 mil na estrutura formada por mais de duas mil peças e 30 toneladas de ferro. A torre brasileira tem a altura de 32 metros e equivale a 10% da original francesa. A visitação da réplica é gratuita.

Estátua da Liberdade

Curitiba

A réplica do monumento novaiorquino foi erguido pela empresa catarinense Havan. A ação faz parte de uma estratégia de marketing da rede de lojas, que já construiu cinco estátuas em todo o Brasil. A maior delas está em Barra Velha, em Santa Catarina, e mede 57 metros de altura. Segundo a assessoria de comunicação da empresa, esta seria a maior estátua do Brasil.

Cristo Redentor

Francisco Beltrão, Guaratuba e Cornélio Procópio

Não é só a “Cidade Maravilhosa” que conta com a imagem de um Cristo Redentor. Vários municípios paranaenses têm estátuas semelhantes à do Rio de Janeiro, como Francisco Beltrão (no Sudoeste), Guaratuba (no Litoral), Cornélio Procópio (no Norte), entre outras. A opção pelo cristianismo da maioria dos habitantes também aparece em União da Vitória (no Sul) está localizada a estátua do Sagrado Coração de Jesus, considerada a segunda maior imagem de Cristo em todo o país. O monumento erguido no alto de um morro tem 27 metros de altura e está fixado em um pedestal que mede outros seis metros.

Extravagâncias

Alguns monumentos do Paraná não são marcados por sua ligação com os municípios, mas sim por seus formatos estranhos, que receberam apelidos. Confira:

“Cocozão”

Ponta Grossa

Criado em 2004 para homenagear os 300 anos da formação da região e avaliado em R$ 90 mil, o “Monumento dos Campos Gerais” tinha uma haste de aço de oito metros de altura com uma pedra em resina na ponta. A obra acabou virando motivo de chacota, sendo demolida em 2009.

“Aros gigantes de basquete”

Matelândia

É um conjunto de cinco estruturas metálicas e de concreto, instaladas no calçadão da cidade, que fica no Oeste. O Aros representa o Aquífero Botucatu.

“Dedão”

Cascavel

O dedo de quase cinco metros de altura foi concebido pelo escultor cascavelense Dirceu Rosa em 1997. A obra é formada por centenas de dedos entrelaçados.

“Peladão”

Maringá

Inaugurada em 1972, a estátua de latão com sete metros de altura foi erguida pelo artista plástico Henrique Aragão. O “Monumento ao Desbravador” mostrava a figura de um homem nu, com os braços esticados. Como chocou a sociedade, a figura ganhou um ramo de folhas para esconder a parte íntima.

“Setão”

Santo Antônio da Platina

Em um mirante na rodovia PR-439, no trecho entre Santo Antônio da Platina e Ribeirão do Pinhal, no Norte Pioneiro, o monumento tem forma de uma espinha de peixe que aponta em direção ao Rio das Cinzas e para Santo Antônio.

A obra criada pelo artista plástico Luiz Gagliastri custou R$ 255 mil, dos quais R$ 195 mil repassados pelo Ministério do Turismo e ou­­tros R$ 60 mil de contrapartida do município. Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Santa Fé, Henrique dos Santos, a construção poderia ser mais simples. “Nada mais justo que homenagear o que impulsiona a economia local. Agora, não precisava ser algo suntuoso, pois isso não vai trazer lucro algum para o município.” Já a prefeitura defende a construção e afirma que vai tentar re­­gis­­trar o monumento no Guinness Book como a maior máquina fotográfica do mundo.

Um monumento paranaense que já entrou para os recordes brasileiros é o cacho de uva de Marial­va, no Noroeste, considerado o maior do país, segundo o Rank Bra­­sil, o livro dos recordes nacionais. O cacho de ferro e concreto armado, com quase 18 metros de altura e 9 metros de largura, foi feito em 2004 para representar a “Capital da Uva Fina”. Marialva conta com 750 produtores e 1,5 mil hectares de parreirais.

O artista

A obra foi feita pelo artista plástico cearense Gilberto Gomes Moura, uma espécie de especialista em monumentos gigantes. Ele é responsável pela criação de várias obras espalhadas pelo Paraná, incluindo o Garrafão de Bituruna, município na Região Sul do estado, conhecido como a “Terra do Vinho”. A estrutura tem 18 metros de altura e conta com uma taça e um cacho de uva.

Outro trabalho feito pelo cearense é o Monumento do Boné de Apucarana, no Norte. A obra foi criada no final de 2008 para divulgar o potencial econômico do mu­­nicípio, considerado a “Capital Na­­cional do Boné”. Lá estão instaladas 200 fábricas do acessório, que produzem mais de 5 milhões de produtos por mês, o equivalente a mais da metade da produção brasileira.

No improviso

As obras gigantes de Moura duram em média três meses para serem construídas e normalmente envolvem outras quatro pessoas. “É um trabalho de improvisação. Quem me contrata explica a ideia que ele tem e vou criando na hora. Du­­rante o processo de criação, o povo fica curioso, se aglomera ao redor e comenta.”

Enquanto alguns consideram os trabalhos do artista criativos e interessantes, outros acham de mau gosto. “Aceito a crítica quando é construtiva e fico feliz quando as pessoas gostam de imediato.”

Estética

Aberração desvaloriza cidade

Para o engenheiro civil e inspetor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), Luiz Fabiano Calderoni, a criação de monumentos é um importante meio para a valorização de uma localidade e sua cultura. No entanto, ele ressalta que as obras precisam ter uma ligação com o município. “Dependendo do monumento, ele acaba se tornando um ponto turístico, um marco. Mas se não tiver este vínculo com a identidade do local, acaba sendo visto somente como um gasto público, algo sem utilidade”.

Para o arquiteto e professor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Cássio de Menezes Júnior, além do fator histórico e cultural, os monumentos devem ter um cuidado estético. “Quando o monumento não é bem feito, ele desvaloriza a cultura local. É comum encontrar algumas aberrações que marcam a cidade de forma pejorativa”, explicou Menezes, que defende a participação de um profissional da área de Arquitetura na composição deste tipo de obra.

Fonte: Gazeta do povo : 24/11/2011

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