quarta-feira, março 21, 2012

Da barra ao ovo, preço do chocolate é multiplicado por 5


Um “protesto” nas redes sociais tem chamado a atenção para um fato que há tempo surpreende os consumidores: por que é tão grande a diferença entre os preços da barra de chocolate e do ovo de Páscoa? Para a indústria, são produtos diferentes, com produção e características distintas. A explicação, porém, não convence quem quer trocar presentes nesta época do ano, e a manifestação virtual já causa mudanças de comportamento entre alguns consumidores.

Faça você mesmo

Analista ensina receita caseira

O analista de TI João Gerardo de Oliveira Santos viu a manifestação sobre a diferença dos preços nas redes sociais e se propôs a realizar um experimento: comprar barras de chocolate e transformá-las em ovos de Páscoa. O que é comum em muitas famílias se tornou em um “estudo científico” em sua casa.

Santos, que nunca havia feito ovo de Páscoa, anotou todos os passos e gastos e resolveu difundir para os amigos, para compartilhar a alternativa aos altos preços. Ele calculou, inclusive, gastos com aparelhos domésticos, como geladeira e micro-ondas.

Ele, que é de Joinville (SC), comprou uma barra de chocolate Diamante Negro para fazer seu próprio ovo. “Eu nunca tinha feito o ovo e vi que posso economizar. Fica igual ao comprado no supermercado e fazê-lo ainda se transforma em um bom momento na família. Vou presentear meus parentes com os meus ovos de barra derretida, com meu carinho agregado”, conta Santos.

Confira abaixo a receita que o analista de TI compartilhou nas redes sociais. O custo total fica em R$ 5,10:

• Compre uma forma de ovos de Páscoa (R$ 0,50).

• Compre uma barra de Diamante Negro (R$ 4,50).

• Quebre a barra em pedaços pequenos em um recipiente e derreta-os no micro-ondas por 40 segundos (150 W de consumo a R$ 0,00008).

• Retire do micro-ondas e misture até ficar homogêneo.

• Derrame o chocolate na forma, e espalhe.

• Deixe secar ao tempo ou leve à geladeira por alguns instantes (30 W a R$ 0,000016).

• Após a secagem, retire da forma, junte as partes e enrole na embalagem de Diamante Negro em ovo de Páscoa do ano passado. Se não tiver, compre uma embalagem comum por R$ 0,10.

Opiniões

Leia alguns comentários de leitores que responderam à enquete no site da Gazeta do Povo: “Você trocaria o ovo de Páscoa pela barra de chocolate por causa da diferença de preço entre eles?”


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“Um absurdo a diferença de preço. Já fiz minha opção: barra de chocolate com certeza.”

Carlos.


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“Trocaria sem dúvidas. Acho um absurdo o preço de um ovo comparando com uma barra praticamente do mesmo peso. Ovo de Páscoa é apenas uma ilusão, é apenas uma maneira de o comércio crescer financeiramente com essa época.”

Rosiane.


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“Com certeza. É simplesmente absurdo o valor cobrado pelos ovos de Páscoa, tendo-se em conta o peso dos chocolates. Não sei qual a justificativa das fábricas para tamanha discrepância; a única razão aparente é o mero abuso. Seria ideal que os consumidores se conscientizassem disso e passassem a boicotar os ovos de Páscoa.”

Diego.


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“Depende. Se for para adultos ou crianças já ‘grandinhas’, eu trocaria, sim. Senão, não trocaria, pois, querendo ou não, uma criança pequena se realiza com o ‘ovo de chocolate do coelhinho da Páscoa’. Faz parte da infância. Sendo apelo mercadológico ou não, faz parte.”

Rodrigo.


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“Não trocaria um ovo de Páscoa por uma barra de chocolate porque esta é uma comemoração única durante todo o ano. Não se encontram ovos de Páscoa em outra época do ano. Seria a mesma coisa que trocar a figura do Papai Noel no Natal.”

Ana.

Interatividade

Para economizar, você optaria pela barra de chocolate em vez do ovo de Páscoa?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

O preço do quilo do chocolate em barra e em forma de ovo pode variar quase 400% – ou seja, o ovo custa perto de cinco vezes o preço da barra. É o caso do Lacta Laka: sua barra de 170 gramas custa nas lojas e supermercados R$ 3,99, o equivalente a R$ 23,47 por quilo, ao passo que o ovo de 196 gramas sai por R$ 21,99 (ou R$ 112,19 o quilo).

Mas será que os consumidores estariam dispostos a abrir mão do ovo de chocolate pela economia que a troca poderia gerar? Uma enquete realizada ontem no site da Gazeta do Povo mostra que 92% dos leitores não se importariam em presentear alguém ou receber uma barra de chocolate.

O radialista André Ambonatti é um deles. Ele já avisou a esposa que neste ano quer apenas barras de chocolate, porque, segundo ele, o preço do ovo está muito alto. Mas, quando o assunto é criança, a opinião muda. “Tenho uma sobrinha pequena e é difícil para ela entender que a barra é mais barata que o ovo. Mas para adulto vai ser caixa de bombom ou barra. Não é questão de ser pão-duro, é questão de dar valor ao nosso dinheiro. Esses ovos estão sendo vendidos a preço de ouro”, reclama.

Para a coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano, embora seja difícil presentear as crianças com barras de chocolate em vez de ovos, a Páscoa pode ser uma oportunidade de diálogo entre pais e filhos sobre a relação de consumo. “A simbologia da Páscoa não justificaria uma diferença tão grande entre os preços, mesmo sabendo que há tecnologias diferentes no processo de fabricação dos dois produtos. Em vez de os pais sucumbirem à simbologia, por que não ensinar às crianças que elas podem ganhar mais chocolate com o mesmo preço?”, sugere.

Produto de época

A sazonalidade é um dos fatores que influenciam o preço – o ovo de chocolate só é vendido nesta época. Na opinião do professor de Economia da PUCPR Fábio Tadeu Araújo, mesmo aqueles que dizem resistir ao ovo por causa do preço acabam se rendendo na “hora H”. “É o momento da Páscoa. A procura maior também colabora com o aumento. Algumas vezes até barras de chocolate ficam mais caras na Páscoa. A única saída é pesquisar, fazendo uma lista do que se precisa e comparando preços”, pondera o economista.

Entretanto, nem toda fábrica de chocolate tem diferenças tão grandes entre as barras e os ovos. A Casa de Chocolates Schimmelpfeng, especializada em chocolates artesanais finos, produz um ovo de 300 gramas por R$ 36 e uma barra de 350 gramas por R$ 35. Para o gerente comercial da fábrica, José Augusto Fortes, o custo da produção é alto porque os produtos são feitos um a um.

“No caso de produtos industrializados, em que são feitos em larga escala, acredito ser possível haver uma diferença menor de preço. Já vi alguns ovos de grandes marcas mais caros que os nossos, que são premium e normalmente custam mais. Os ovos de Páscoa não estão baratos”, opina.

Produção é diferente, argumenta a indústria

Uma das explicações da indústria para a diferença de preço entre os ovos e as barras de chocolate é o processo de fabricação. De acordo com Rommel Barion, diretor-geral da Barion, fábrica de chocolate localizada em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, o ovo tem diferenças importantes, como a embalagem e a fita, que o encarecem.

“Não há como comparar porque são produtos diferentes. O processo de fabricação da barra é muito mais simples e do ovo é mais sofisticado, requer mais tempo para o preparo, outro maquinário, para centrifugar e resfriar o chocolate”, pontua Barion.

A marca Lacta, da fabricante de alimentos Kraft Foods, que fica na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), também considera os dois produtos diferentes. Segundo a empresa, a produção de um ovo de chocolate é mais artesanal – cada um deles é embalado manualmente, em uma área exclusiva da fábrica, com equipamentos e espaços de armazenamento dedicados apenas à Páscoa.

Para a gerente de marketing de Páscoa da Lacta, Mariana Perota, outra diferença do ovo é o trabalho temporário: para a Páscoa de 2012, a Lacta contratou cerca de 1,2 mil funcionários temporários, que trabalham desde agosto para produzir os 27 milhões de unidades neste ano. “Todos esses ovos são embalados à mão. É uma cadeia muito especial, com milhares de pessoas trabalhando para a Páscoa. Fazemos um produto bonito e intacto, com embalagem e fita que protege o chocolate durante o transporte”, ressalta Mariana. Procuradas, Nestlé e Garoto não se posicionaram até o fechamento da edição.
Fonte: Gazeta do Povo 21/03/2012

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