sexta-feira, março 09, 2012
Derosso perde força no PSDB e partido racha
A sete meses da eleição, o cerco ao presidente licenciado da Câmara Municipal de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), está se fechando. O movimento pela sua destituição – que antes se restringia à oposição e outros poucos vereadores – ganhou força nesta semana, chegando a causar divergências no PSDB.
O líder do partido na Casa, vereador Emerson Prado, recomendou aos colegas do partido que fossem favoráveis à saída do presidente licenciado do cargo. Contudo, a legenda ficou dividida. Sete dos 13 integrantes da bancada tucana na Câmara assinaram a representação para destituir Derosso da presidência da Casa – atualmente, ele está licenciado do cargo. Ao todo, a oposição conseguiu 27 assinaturas para iniciar o processo de destituição.
Análise
Medo das urnas move tucanos, avaliam especialistas
O temor de que os escândalos envolvendo o presidente licenciado da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso, respinguem nos demais vereadores do partido, em função da proximidade das eleições, teria sido o motivo que levou o PSDB a se dividir sobre o afastamento definitivo de Derosso do cargo, na avaliação de especialistas consultados pela Gazeta do Povo. Mesmo oficialmente fora do comando da Câmara, Derosso mantinha forte influência na Casa. Mas, nos últimos dias, perdeu o apoio até de parte do seu partido.
“O PSDB está preocupado com o contágio eleitoral que a situação está provocando. Os vereadores foram os primeiros a perceber e isso deve chegar à cúpula, especialmente em razão de uma eleição competitiva que se desenha”, diz o cientista político Ricardo Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná.
Para Samira Kauchakje, cientista social e professora de Gestão Urbana e Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Parabá (PUCPR), o uso da lógica eleitoral esclarece o posicionamento do partido. “Em uma democracia partidária, as ações dos políticos visam votos e as eleições”, afirma.
Samira lembra que nem sempre um político denunciado sofre revés nas urnas. “Em algumas ocasiões, a opinião pública nem sempre acompanha os fatos de perto”, esclarece, citando os casos dos deputados estaduais Nelson Justus (DEM) e Alexandre Curi (PMDB). Mesmo com as denúncias da série Diários Secretos, ambos foram reeleitos para a Assembleia Legislativa em 2010.
O presidente da comissão provisória do diretório municipal de Curitiba do PSDB, Fernando Ghignone, afirma que haverá uma reunião na segunda-feira para alinhar o discurso da legenda. Diretórios estadual e municipal têm opiniões distintas.
Segundo Ghignone, Prado decidiu sozinho por orientar a bancada a apoiar o afastamento de Derosso: “Diria que foi pessoal [a decisão de Prado]”. Ghignone ainda revela que não se descarta a retirada das assinaturas dos tucanos. Isso não impediria, porém, a abertura do processo de destituição. Isso porque, mesmo retirado o apoio dos vereadores do PSDB, restariam as 20 assinaturas necessárias para protocolar a representação pedindo a saída do tucano. “Vamos debater para chegar a uma conclusão.”
Embora não tenha consultado Ghignone, Emerson Prado afirma que entrou em contato com a direção estadual antes de passar qualquer orientação à bancada. “O diretório estadual vem há tempos nesta linha. Chegamos a um ponto em que a pressão é insuportável nesta Casa”, explica. “Os sete que assinaram a representação não vão voltar atrás. Ou o Derosso renuncia, ou será cassado”, sentencia Prado.
O presidente do diretório estadual do PSDB, o deputado Valdir Rossoni, confirma ter sido consultado por Prado e dado a recomendação de que o partido se posicionasse contrário a Derosso. “O PSDB não pode pagar por eventuais erros de pessoas que compõem o partido. Existe uma linha ética a ser seguida.”
Embora se diga contrário à permanência do presidente licenciado no cargo, Rossoni afirma que a executiva municipal tem autonomia para deliberar em sentido contrário. “O diretório estadual só entra na discussão se houver extrema necessidade.”
Cobrança
Nos bastidores da Câmara, os vereadores alegam que a presença de Derosso no comando da Casa gera cobranças em suas bases eleitorais. Isso vale para membros do PSDB e também para os partidos da oposição.
De certa maneira, o maior temor é de que a permanência do presidente licenciado no cargo possa influenciar no momento do voto, mesmo para quem se posicionou de forma contrária a Derosso. Baseada nessa percepção, boa parte dos vereadores desistiu de conceder apoio incondicional a Derosso – como o demonstrado no início das investigações sobre os contratos de publicidade da Casa suspeitos de irregularidade.
Os presidentes dos diretórios municipal e estadual do PSDB, porém, demonstram não acreditar nessa relação. “A reeleição dos vereadores está ligada a suas ações com a comunidade. Eles serão julgados pela atuação em seu mandato, não pela forma como se posicionaram nesse caso”, afirma Ghignone. Para Rossoni, o maior desgaste ainda é de Derosso. “É automático que o partido sofra, mas o mesmo PSDB está fazendo uma transformação na Assembleia Legislativa, que também está sob o seu comando.”
Fonte: Gazeta do Povo 09/03/2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário