domingo, outubro 14, 2012

A eleição mais polarizada desde 1985


Desde a redemocratização, apenas a eleição de 1985 teve uma polarização tão forte na corrida pela prefeitura de Curitiba como a que ocorreu no domingo passado. Naquele ano, em que havia apenas um turno, Roberto Requião (PMDB) foi vencedor no sul da cidade e Jaime Lerner, na região norte. O mesmo ocorreu agora, com Ratinho Jr. (PSC) e Gustavo Fruet (PDT), respectivamente. A diferença é que esta eleição será decidida no 2.º turno, o que exige que os candidatos se aventurem pelo “território” do adversário.
No 1.º turno, o candidato do PSC fez 332.408 votos, dos quais metade (52%) nas zonas eleitorais 145.ª, 174.ª, 175.ª e 176.ª. Os bairros que compõem essas regiões têm renda familiar média variando de R$ 700 a R$ 1,5 mil. Além disso, a maioria dos eleitores tem apenas o ensino médio completo e os menores índices de conclusão de ensino superior. A maior diferença de Ratinho sobre Fruet ocorreu na 175.ª zona (imediações do Pinheirinho e Sítio Cercado). Nessa região, Ratinho teve 48,1% dos votos válidos. Fruet ficou somente em 3.º, com 17%.
Segundo turno
Fruet dará mais atenção ao sul; Ratinho Jr. não mudará estratégia
Apesar de ter ficado com índices que variaram entre 18% e 26,3% dos votos válidos nas zonas eleitorais ao norte de Curitiba, a campanha de Ratinho Jr. afirmou à reportagem que a votação dele nessa região foi “satisfatória”. Em e-mail enviado à reportagem, a equipe informou que serão mantidas as atividades normais de campanha.
A diferença estará no programa eleitoral, de 20 minutos diários – no primeiro turno ele tinha aproximadamente 3 minutos, em dias intercalados. “Os programas permitirão aprofundar as propostas. Assim, Ratinho Jr. espera chegar mais suficientemente ao eleitor da região norte e das demais regiões da cidade, possibilitando que ele julgue as propostas apresentadas”, informou a assessoria.
Para Gustavo Fruet, o eleitor da região sul ainda não o conhece bem. “Na eleição de 2010, na disputa por cadeira no Senado, a votação na região sul também foi menos expressiva do que nas outras regiões da cidade. Isso comprova que o eleitor do sul ainda não conhece nossa trajetória e nossas propostas. Esse quadro será alterado neste segundo turno”, disse Fruet, em entrevista feita por e-mail. Ele pretende aumentar a presença nesta região, com “caminhadas, distribuição de material e movimentação de lideranças”. Na segunda-feira passada, o candidato esteve no Sítio Cercado, um dos bairros mais populosos do sul de Curitiba.
Fruet conquistou 265.451 votos em 7 de outubro, dos quais 44% nas zonas 1.ª, 2.ª, 177.ª e 178.ª. Os bairros dessas regiões têm famílias com renda média que varia de R$ 800 a R$ 3,5 mil. Também apresentam maior nível de escolaridade: de 35,2% a 49,5% do eleitorado concluiu o ensino superior. A maior diferença de votos entre o candidato do PSC e o pedetista ocorreu na 178.ª zona (que inclui uma faixa entre o Centro e Santa Felicidade). Fruet fez 34,5% e Ratinho ficou em 3.º, com 23,4%.
A retrospectiva das últimas eleições mostra como a polarização atual é forte. Em 1985, quando Curitiba tinha apenas cinco zonas eleitorais, Requião venceu na 3.ª e 145.ª. Lerner, na 1.ª, 2.ª e 4.ª. Em 1988, 1992 e 1996, as disputas pela prefeitura de Curitiba foram decididas no primeiro turno com grande vantagem para o primeiro colocado e vitória dele em quase todas as zonas eleitorais. No primeiro turno de 2000, Cassio Taniguchi ganhou de Angelo Vanhoni em todas as zonas, apesar da votação do petista ter forçado o segundo turno. Em 2004, Beto Richa e Vanhoni também se revezaram na liderança de algumas zonas, mas o tucano ganhou na 3.ª e na 174.ª. Em 2008, Richa se reelegeu com vitória em todas as regiões.
Segundo especialistas, o mais indicado é tentar avançar nas regiões onde o candidato não fez tantos votos. “Fruet precisa se popularizar nas regiões mais pobres e Ratinho Jr. precisa vencer o preconceito da classe média e alta para avançar nas regiões mais nobres”, observa Emerson Cervi, cientista político da UFPR.
Segundo Geraldo Tadeu Monteiro, diretor-executivo do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é normal que no primeiro turno os candidatos se dediquem a conquistar o voto de sua base, ou da região onde tem mais potencial. “Mas no segundo turno é preciso buscar votos de maneira ampla. Ratinho fez 34% e Fruet 27%. Para ser vencedor, é preciso ter 50% mais um dos votos. Inevitavelmente terão de buscar votos em outras áreas para ganhar.”
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Fonte: Gazeta do Povo 14/10/2012

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