Há exatamente um ano, um ônibus ligeirinho da linha Colombo/CIC protagonizou o pior acidente da história do sistema de transporte coletivo de Curitiba. Mesmo que 365 dias tenham se passado, vítimas ainda buscam indenização na Justiça e o inquérito – que investiga os motivos da colisão que matou duas pessoas e deixou outras 32 feridas – não foi concluído até hoje.
De acordo com o delegado Armando Braga, da Delegacia de Delitos de Trânsito, a investigação apontou o motorista José Aparecido Alves, 50 anos, como o responsável pelo acidente. Um laudo técnico do Instituto de Criminalística descartou a possibilidade de falha mecânica. Entretanto, faltam documentos para enviar o inquérito ao Ministério Público (MP). “Falta juntar o exame de lesão corporal de cinco pessoas. Esses exames não ficaram prontos. [Também faltam] o laudo de necropsia das duas vítimas, o laudo de dosagem alcoólica do motorista. Só assim poderemos relatar o inquérito e enviá-lo”, diz.
Benefício veio tarde
A principal mudança no transporte coletivo de Curitiba depois do acidente da Tiradentes, ocorrido há um ano, foi a implantação de um seguro contra danos físicos sofridos no transporte público. Desde novembro de 2010, quem sofre alguma lesão enquanto estiver dentro de ônibus, terminais fechados e estações-tubo pode acionar o seguro e até receber indenização.
O Segbus, nome oficial do serviço, cobre as despesas com médicos e hospitais e paga indenização para casos de morte acidental e invalidez permanente ou total. No caso de ferimentos, o seguro paga até R$ 3 mil para cobrir gastos com despesas hospitalares. Os valores máximos de indenização no caso de morte acidental ou invalidez permanente são de R$ 20 mil.
Para as vítimas do acidente da Tiradentes, o benefício veio tarde. A auxiliar de enfermagem Claudete Pimentel Silveira, 31 anos, estava no ônibus no momento do acidente. Ferida na coluna, diz que até hoje tem receio em andar no transporte coletivo. Ela diz que ficou afastada um tempo do trabalho por causa das lesões que sofreu e que busca na Justiça o direito à indenização. “Eu não recebi nenhum centavo. Até hoje sinto dores na coluna”, diz. (GA)
Caso o MP dê prosseguimento ao caso, Alves pode responder pelo crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A Gazeta do Povo tentou entrar em contato com o motorista, mas, de acordo com o irmão dele, José Carlos, Alves está afastado do trabalho, não está em Curitiba e não poderia comentar o assunto.
Casos comuns
Um em cada três curitibanos já presenciou algum acidente de ônibus do transporte coletivo, de acordo com um levantamento do Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Gazeta do Povo. Das 510 pessoas ouvidas em janeiro deste ano, 35% disseram que já presenciaram um veículo de transporte coletivo da capital envolvido em batidas de trânsito.
De acordo com dados do Batalhão de Trânsito (BPTran), de junho de 2010 para cá, foram registrados 340 acidentes envolvendo ônibus e micro-ônibus na cidade de Curitiba. Desde novembro de 2008, três pessoas morreram e 86 ficaram feridas em cinco acidentes graves envolvendo coletivos. Só ontem, quatro ônibus estiveram envolvidos em três acidentes na Grande Curitiba: duas pessoas morreram – em Campo Largo – e cinco feridas (leia mais nesta página).
Na época do acidente da Tiradentes, cogitou-se a possibilidade de o motorista ter passado mal, resultado do estresse. Sobre o caso, o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc), Anderson Teixeira, afirma que é mais fácil apontar um culpado do que uma causa. “Para evitar os acidentes é necessário identificar as causas. Se forem os motoristas, temos que aumentar o treinamento, melhorar as condições de trabalho, combater o estresse. Se forem problemas mecânicos, temos que acompanhar mais e melhor os relatórios de manutenção dos ônibus.”
Para o João Carlos Cascaes, ex-diretor de planejamento da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), depois do acidente, a única coisa que mudou no transporte coletivo foi a implantação de um seguro para os usuários. “Fora isso, pouca coisa. O transporte coletivo urbano de Curitiba não é seguro para seus usuários. São excessos de lotação, veículos sem recursos modernos de controle de aceleração e frenagem, piso rebaixado. Temos motoristas fazendo o papel de cobradores em carros pequenos”, afirma.
A Urbs – responsável pelo transporte coletivo da capital paranaense – não quis se manifestar sobre o assunto. Mas fez questão de ressaltar que a maioria dos acidentes envolvendo ônibus do transporte urbano não foi motivada por problemas mecânicos, mas por falhas humanas. A Urbs também fez questão de lembrar que todos os ônibus da frota são rigidamente vistoriados a cada seis meses.
Fonte: Gazeta do Povo 10/06/2011
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