Toda vez que ouve a música “Have You Ever Seen the Rain?”, do Creedence, Célia Maria Maia vai às lágrimas. A canção era tocada no contrabaixo pelo filho dela, Matheus Hoepers, assassinado em outubro do ano passado, no bairro Uberaba, em Curitiba. Conforme o tempo passa, no entanto, a dor da família aumenta. No mês em que a morte completa um ano, a polícia continua investigando o caso.
Matheus foi baleado à luz do dia na esquina das ruas Dona Saza Lattes e Professor Paulo Dassumpção, no bairro Uberaba, no dia 1.º de outubro. O jovem – que tinha acabado de completar 17 anos - voltava da aula de música, perto da casa em que morava. Os autores do crime chegaram em um Ecosport preto, que foi flagrado por câmeras de segurança da vizinhança.
Descrito como um rapaz gentil, responsável e sem inimigos, o adolescente tinha uma vida regrada, sem envolvimento com qualquer atividade ilícita. As investigações se arrastam sem que a polícia tenha conseguido reunir provas para concluir o caso. “O que se constata é que o Matheus era um rapaz acima de qualquer suspeita. Vasculhamos tudo na vida dele e não encontramos nada que justificasse este crime. Isso nos leva a crer que a situação [que motivou o crime] não fosse com ele”, disse o delegado Jaime da Luz, da Delegacia de Homicídios (DH), responsável pelas investigações.
Nas últimas semanas, os investigadores se debruçam sobre a agenda de telefones de suspeitos e está fazendo o cruzamento de informações técnicas levantadas. Para o delegado, a motivação do assassinato pode estar relacionada a um eventual sequestro ou roubo. “Algo teria dado errado e o rapaz, atingido”, supõe o delegado.
Outra linha de investigação – não descartada – envolve a ex-madrasta de Matheus, uma mulher de 32 anos, que chegou a ser presa temporariamente, em janeiro deste ano. Ela foi casada e tem uma filha – hoje com seis anos – com o pai de Matheus. Na ocasião, a polícia levantou a hipótese de ela ter sido a mandante do crime, como forma de se vingar do ex-marido, que, após a separação, conquistou a guarda da menina.
Computador
A DH está analisando o computador pessoal da mulher, apreendido no início do ano. O objetivo é tentar rastrear trocas de mensagens que façam menção ao crime. O namorado dela também é investigado. Segundo Jaime da Luz, a mulher segue como suspeita, mas não há provas contra ela. “As investigações continuam até para manter esses antigos suspeitos ou então descartá-los”, disse o delegado.
Família vive entre a dor a indignação
O assassinato do filho passou a ser um divisor de águas para a família. Célia Maia conta os dias a partir da data do crime. “Hoje faz 56 semanas exatas”, menciona. Por oito meses, ela conseguiu continuar morando na mesma casa – localizada a duas quadras de onde o crime ocorreu. Sem suportar a dor, a família optou por se mudar para outro bairro. “Aquele lugar [o local onde Matheus foi baleado] parecia um imã. Eu passava ali o tempo todo, como se tivesse ficado qualquer coisa dele ali, no ar”, diz Célia.
De quando em quando, a mãe do jovem se pega acariciando o contrabaixo que foi do filho, como se fosse o próprio menino que estivesse ali. A falta também se estende aos irmãos de Matheus: Arthur, de 10 anos, e Ana, de três anos e meio. “Ele [Matheus] vivia correndo pela casa com os menores. É difícil para todo o mundo”, menciona.
Indignação
A dor da falta se transforma em indignação quando Célia relembra que os assassinos do filho dela estão na rua. Engajada, criou um blog (matheushoepers.blogspot.com), onde escreve sobre o caso e, por vezes, desabafa. “Muitas vezes, essa indignação é o que me faz ficar em pé, porque eu não vi os responsáveis serem punidos. Então eu fico entre a dor e este sentimento forte”, disse.
Célia quer que o caso de Matheus sirva de exemplo para repensarmos a segurança pública como um todo. O maior temor da mãe é de que os casos de homicídio sejam tratados apenas como números em estatísticas. “A gente tem que parar de ser conivente com isso. Está na hora de despertarmos. A sociedade precisa acordar”, brada.
Fonte: Gazeta do povo 29/10/2011
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