sexta-feira, outubro 21, 2011
“Guerra” no trânsito sobrecarrega sistema de emergência no Paraná
A violência no trânsito está sobrecarregando o sistema de urgência e emergência médica no Paraná. A alta demanda de atendimento a vítimas de acidentes é apontada por administradores de prontos-socorros como um dos maiores culpados pela oferta insuficiente de leitos de UTI no estado. Nos últimos dez anos, o número de feridos no trânsito no estado cresceu 54%. Só no ano passado foram 56.926 vítimas de colisões e atropelamentos, segundo o Anuário de Trânsito do Paraná 2010.
“Vivemos hoje uma epidemia de acidentes de trânsito. Nos últimos seis anos, o número de acidentes de moto aumentou em sete vezes. Nos municípios com menos de 20 mil pessoas, esse número aumentou nove vezes”, afirma o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que esteve em Curitiba na última terça-feira. “O trânsito se tornou uma fonte inesgotável de pacientes”, lamenta Gustavo Justo Schulz, coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência do Conselho Regional de Medicina do Paraná.
A saúde pública no Paraná conta hoje com 824 vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), mas somente 32 cidades oferecem esse tipo de leito. A região metropolitana de Curitiba (RMC) concentra a maior parte: são 297 em toda a RMC e 179 em Curitiba, segundo dados do DataSUS.
Entrevista
Marcelo Rangel, deputado estadual e relator da CPI dos Leitos.
O Paraná precisa urgentemente aumentar a rede de urgência e emergência médica. Essa é uma das conclusões que constam no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Leitos, da Assembleia Legislativa, que vistoriou 32 hospitais, em 14 cidades do estado, nos últimos quatro meses. Relator da comissão, Marcelo Rangel defende a criação de uma central de leitos on-line.
Qual a impressão da CPI sobre o atendimento de urgência e emergência no estado?
Muitos prontos-socorros estão saturados. Algumas entidades poderiam fazer esse atendimento de emergência, mas não estão contratualizados ou estão simplesmente ociosas porque a demanda não chega. Em um hospital da capital, vimos muita gente na portaria para ser atendida. Mas o local poderia dar um atendimento maior porque tem estrutura e funcionários. O que precisa mesmo é uma fiscalização mais apurada e severa porque na porta do hospital está lotado, mas lá dentro, às vezes, a situação é diferente.
Faltam leitos de UTI no Paraná?
Os leitos resolutivos e de UTI estão realmente saturados. É necessária a abertura de novas vagas, mas também muitos leitos se encontram ociosos. Nos últimos anos houve um aumento muito grande de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motos. E esses acidentes são graves, o que aumentou o número de pacientes que precisam de UTI. Cerca de 90% dos hospitais que visitamos estão com as unidades lotadas. Por outro lado não constatamos a sonegação de UTIs para atender pacientes particulares. Os hospitais estão com a capacidade quase esgotada ou lotada, mas o atendimento do SUS não está sendo prejudicado.
A CPI sugeriu a criação de uma central de leitos on-line. Por quê?
Hoje ninguém sabe quantos leitos estão vagos. Em quase todos os hospitais, nem a direção sabia quantos leitos estavam usados e quantos estavam disponíveis. Hoje você entra na internet e sabe se um hotel tem vagas e isso precisa acontecer na saúde pública. Hoje se verifica por telefone se tem ou não vagas para os pacientes que precisam. Se isso estivesse na internet, acabaria com as filas.
Uma das soluções para desafogar os atendimentos de urgência nos hospitais referência seria a instalação das Unidades de Pronto Atendimento 24 horas, conhecidas como UPAs, um projeto do Ministério da Saúde. Mas apenas nove estão em funcionamento no estado e a construção das 43 previstas caminha lentamente.
A superintendente de gestão da Secretaria de Saúde de Curitiba, Anna Paula Penteado, diz que é nos finais de semana que a rede de urgência mais sofre com a falta de vagas. “De quinta a domingo acontece de tudo: acidentes de trânsito, acidentes com idosos, violência. Com isso, os prontos-socorros ficam lotados até segunda-feira”, afirma.
Saturado
Recentemente, os Hospitais do Trabalhador e do Cajuru, em Curitiba, foram obrigados a recusar mais pacientes nos prontos-socorros por causa da superlotação no fim de semana. O pico de atendimento durou menos de 48 horas, mas foi suficiente para causar transtornos.
Segundo o diretor do Hospital do Trabalhador, Geci Labres de Souza Junior, o fechamento da emergência foi um caso pontual, mas a demanda realmente aumentou. Para ele, o sistema de atendimento de saúde em geral deve funcionar em rede. “Pacientes mais leves têm que ficar em atendimentos mais simples e casos graves e complexos devem ser atendidos em hospitais”, afirma.
“Grande parte do excesso que chega é fruto de uma falta de estruturação do sistema como um todo. O termômetro dessa rede é a emergência. Quando acende uma luz vermelha significa que alguma coisa está errada”, opina Schulz.
Segundo o secretário de estado da Saúde, Michele Caputo Neto, a situação atual é reflexo da falta de atenção ao setor. “É um problema histórico. Foram muitos anos de falta de investimento e de prioridade. Mas vamos qualificar nosso atendimento”, diz.
Schulz considera que apenas a criação de novos leitos de UTI não é suficiente. “Também precisamos resolver os casos mais rápido, para haver um giro dos leitos. Mas isso não é só culpa do médico e, sim, do sistema como um todo, do subfinanciamento da saúde”, diz.
Fonte: Gazeta do povo 21/10/2011
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