quinta-feira, junho 06, 2013

"Nunca abreviei a vida de paciente de propósito"

André Rodrigues/Agência de Notícias Gazeta do Povo / Virgínia deixa a prisão em 20 de março:
Pela primeira vez e dois meses depois de deixar a prisão, a médica Virgínia Helena Soares de Souza, de 57 anos, suspeita de acelerar a morte de pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba, falou sobre as pesadas acusações que sofre na Justiça em uma longa e detalhada entrevista à edição deste mês da revista Piauí.
Bem mais magra e reclusa em casa, com receio de “cara feia” na rua, ela contou à repórter Daniela Pinheiro que as expressões que usava na UTI e as gravações telefônicas que constam no processo não significavam o que a investigação e a imprensa em geral faziam crer. “Desentulhar a UTI” seria encaminhar o paciente para o quarto e “desligar o paciente” teria o sentido de não administrar algum medicamento ou realizar um procedimento.
Desde que deixou a cadeia no dia 20 de março, depois de um mês detida, Virgínia tem ocupado o tempo analisando o inquérito da investigação. Disse se lembrar de cada um dos pacientes citados na denúncia e que os prontuários médicos são provas de que tudo o que era possível, e esperado pela Medicina, foi realizado. E reconhece que a sua aparência e os modos nada simpáticos devem ter pesado contra ela, mas jamais imaginava sofrer um processo por homicídio. “Eu cobrava, exigia. Isso incomoda, perturba (...) Eu esperava um processo de assédio moral. Mas não houve nenhum”, disse à revista.
"Nunca"
Informações fora de contexto, ignorância sobre os procedimentos médicos e simplificação de situações médicas complexas teriam influenciado a interpretação errada, na visão da médica, do que acontecia na UTI. Em uma das poucas respostas curtas e categóricas na entrevista, Virgínia afirma, ao ser perguntada se o tempo de algum paciente foi propositalmente abreviado: “nunca.”
Virgínia acha que a parada cardíaca de um paciente não deve, necessariamente, levar a um procedimento de reanimação. “Tem doente que até não tem que ir para a UTI. Mas, se você tenta explicar isso, acontece o que aconteceu comigo: ‘Ela deixou o doente morrer’, ‘Ela acelerou a morte.’ Não! O doente já estava tecnicamente morto. Ninguém acelera nada”, declarou.
Alegando que não suportaria olhares de desconfiança, Virgínia acredita que a vida profissional, “tocando em paciente”, está encerrada. Neste mês, um novo pedido de prisão, feito pelo Ministério Público, dever ser analisado pela Justiça. As investigações continuam na Polícia Civil e no Ministério Público, além das sindicâncias abertas no Conselho Regional de Medicina, no Ministério da Saúde e no próprio Evangélico.

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