sábado, setembro 14, 2013

De cofrinho cheio

Os jovens estão dando uma lição de economia. Segun­­­­do pesquisa feita pelo Ibope em 2012, última sobre o assunto, a maior parte dos brasileiros que poupam, 37%, tem entre 16 e 24 anos – índice maior que da população adulta, que é 31%. Mas como essa galera faz isso? Para descobrir, o Gaz+ foi atrás de quem sabe manter o cofrinho cheio, como a estudante Marina Cym­­­baluk, de 13 anos.
Já que não ganha mesada, a jovem decidiu guardar todo aquele troco que sobra no dia a dia, como o do pão, por exemplo. Parece pouco, mas tem dado resultado.
A intenção inicial era usá-lo em umas comprinhas durante uma viagem que faria com os pais para fora do país, aos 10 anos. Não deu outra. Conseguiu juntar quase R$ 500, valor que se transformou em um videogame, um par de tênis e uma roupa. Com o sucesso da primeira experiência, partiu para a próxima e não parou mais. Seu segundo porquinho lhe rendeu R$ 230, que foram revertidos em livros de literatura, um hobby da garota.
Poupança caseiraAgora os planos de Marina são bem mais ambiciosos. Ela está economizando para ir ao Japão em 2015, para participar de um encontro de escoteiros. “Vou juntando tudo que posso. Penso em guardar para os estudos também, mas por enquanto estou focada na viagem”, conta.
Assim como Marina, Igor Taborda Leite, 15 anos, também não ganha mesada da família, mas consegue fazer uma bela poupança. Toda grana que recebe de vez em quando, seja de presente ou não, guarda, em casa mesmo. Só assim já juntou R$ 1.200. Foi assim desde seus 11 anos. “ Tento não gastar o dinheiro que recebo com algo que possa ser dispensado. Essa medida gera uma grande economia”, comenta. Ele não sabe ao certo o que fará com o dinheiro, mas estuda duas possibilidades. Uma é fazer uma viagem e a outra é ter uma poupança permanente, por longos anos de sua vida.
Com objetivo
Segundo os especialistas em economia e finanças, a maior dificuldade que os jovens enfrentam para poupar é controlar os impulsos. Nem sempre é fácil deixar de lado passeios e saídas com os amigos ou evitar de comprar aquele produto da moda que todo mundo tem.

Lições de economia devem vir de família
Mas existe uma dica básica que pode ajudar muito, que é ter sempre um objetivo em vista para o dinheiro, como fazem Marina e Igor. “Claro que a maioria quer consumir já, é normal. Por isso é mais fácil guardar quando se tem um plano, deseja algo específico e não simplesmente o poupar pelo poupar. Isso é mais para os adultos”, diz o professor de Finanças da FAE Amilton Dalledone Filho.Independente de onde venha o dinheiro – mesada, presente ou até trabalho e estágio – e de quanto seja o valor, é importante que todo mês pelo menos uma quantia mínima seja separada. A dica do professor Amilton é reservar entre 10% e 20%. “Claro que se o objetivo for algo maior e o prazo menor, vale guardar mais”.
É consenso entre os economistas que guardar dinheiro é questão de hábito. Para que o jovem o forme, uma ajudinha dos pais é fundamental. Ou seja, é mais fácil que eles aprendam e gostem de economizar quando se espelham na família e recebem o apoio dela.
Que o diga Marcos Silveira, 17 anos. As duas frentes de economia que ele tem são resultado de apoio e incentivo familiar. Desde pequeno seu avô o ajuda a formar uma poupança para pagar a faculdade de Medicina, que é o sonho do estudante. Mas além desse dinheiro – que está em uma caderneta de poupança – ele tem outras economias, que servem para compras pessoais.
A forma que achou de poupar foi juntar tudo que ganhava e trocar os presentes das datas comemorativas por dinheiro. Com esforço conseguiu juntar uma vez R$ 3 mil, que usou para comprar uma baia para seu cavalo, que fica na chácara da família. “Eu sou assim porque meus pais me ensinaram o valor das coisas. Eu cuido bastante do que tenho e não gasto de bobeira. Penso bem antes de comprar”, conta Marcos. Além dele, seus irmãos menores, de 10 e 7 anos, também economizam.
Porém, não é só a educação a responsável por tornar uma criança ou um adolescente em poupador. De acordo com Jurandir Sell Macedo Júnior, especialista em finanças comportamentais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e consultor do banco Itaú, estudos recentes apontam para um outro fator, a personalidade. Existe a hipótese de que alguns nascem com isso e, para esses, economizar é mais fácil e não um sacrifício. “É apenas uma ideia. Não se sabe ao certo o que faz um jovem poupar, além da influência dos pais”.

Ideia – Ela escolheu as ações
A estudante de Administração Júlia Macedo, 19 anos, tem uma história curiosa com o pai, o especialista em finanças comportamentais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e consultor do banco Itaú, Jurandir Sell Macedo Júnior. Quando ela tinha 5 anos, ele a convenceu a pegar o dinheiro do cofrinho – que juntava com ajuda dos parentes – e investir em ações.
Para que ela entendesse do que se tratava, já que era bem pequena, ele disse que era como ser dono de uma empresa e que todo mês ela teria um pequeno lucro. A garota, que adorava sorvete, decidiu investir na Kibon. Todos os meses o pai lhe dava uma caixa de sorvete e dizia que era o resultado do investimento. “Era mentira, claro. Ele investiu em outra empresa, mas foi o jeito que arrumou de me convencer a trocar o porquinho pelas ações”, conta Júlia.
A ideia deu tão certo e ela pegou tanto gosto pela coisa, que assim que fez 18 anos passou a investir sozinha. Hoje, aos 19, tem ações de três empresas e títulos públicos. Esse dinheiro só será usado no futuro, para aposentadoria ou para comprar um imóvel. Mas além dele, Júlia – como boa poupadora – tem uma caderneta de poupança. Todo mês tira parte do salário que recebe do estágio e coloca lá.
Com o primeiro dinheiro guardado fez uma viagem para Europa. Foram dois anos cortando toda despesa que podia. “Meus pais não me deram nada. Fiz tudo por conta. A força de vontade veio justamente disso, de ter o gosto de dizer que foi com meu dinheiro”, diz.
Agora continua juntando para novas viagens ou para fazer um curso depois que se formar. O segredo, segundo ela, é economizar em tudo, até no lanche do dia. “Acho que fiquei até meio compulsiva por poupar, me sinto culpada quando não guardo. Acho importante ter sempre uma reserva para quando tiver vontade de fazer algo, sem ficar impedida por falta de dinheiro. Aprendi que é assim que vou ter as coisas no futuro”.

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