quinta-feira, julho 04, 2013

O nome é enduro paraequestre, mas pode chamar de terapia

Jonathan Campos/Gazeta do Povo / A cavalo: acometido por paralisia cerebral, Davi Lucas, é um dos membros da equipe paranaense de enduro paraequestre
A paixão pelas cavalgadas e a vontade de proporcionar lazer para pessoas com deficiência levou uma funcionária pública de Curitiba a criar uma modalidade esportiva. Claudiane Crisóstomo Pasquali, praticante de cavalgada desde a infância, trabalha há dois anos na difusão do enduro paraequestre, uma competição de hipismo destinada a paratletas. A ideia surgiu meio por acaso e se transformou em uma experiência que está sendo replicada em outros estados.
Equipe
“A gente sente o movimento das pernas como se fosse o nosso”
Aos 7 anos, Davi Lucas ainda precisava ficar de quatro para subir uma escada. O menino, acometido por paralisia cerebral, hoje é um dos integrantes da equipe paranaense de enduro paraequestre. Aos 11 anos, demonstrou grande evolução nos movimentos corporais desde que começou a fazer equoterapia. Também melhorou a sua autoestima e ganhou confiança para correr, brincar e interagir com outras crianças, segundo a mãe, a trabalhadora autônoma Claudia Omena. “Ele pensava que não tinha autonomia para fazer nada sozinho, e hoje participa de campeonatos e acumula premiações. Para nós, os pais, é uma honra vê-lo participando”, afirma.
Colega de equipe, Gabriel, 13 anos, tem uma história semelhante. Após cinco anos de terapia, demonstra melhoria no equilíbrio e venceu a timidez. Ao vê-los andar a cavalo, o desavisado jamais notaria que são crianças com dificuldades motoras. A coluna fica reta, as mãos apertam firme a rédea e as pernas permanecem rentes ao dorso do cavalo.
“É legal domar um animal bem maior que você, e aprender as manhas para que ele obedeça. A gente aprende a ter carinho por ele”, conta. “Quando o cavalo anda, a gente sente o movimento das pernas como se fosse o nosso”.
Cavalaria
PMs voluntários atendem comunidade em projeto gratuito
Há quase uma década, a Polícia Militar do Paraná mantém um projeto gratuito de equoterapia oferecido pelo Regimento de Polícia Montada Coronel Dulcídio. São cerca de 100 pessoas atendidas, entre a comunidade em geral e filhos de policiais militares. No quartel da cavalaria, no bairro Tarumã, em Curitiba, eles fazem uma sessão semanal de 30 minutos de terapia, ministrada por policiais voluntários.
“Tudo começou quando um colega de trabalho trouxe até nós uma criança com deficiência e começou a trabalhar com ela no cavalo. Além disso, ele era muito brincalhão e a gente percebia como isso fazia bem para o menino. Hoje somos em cinco voluntários, todos preparados para essa atividade”, ressalta o capitão Carlos Assad Mady, coordenador do projeto, que tem uma lista de espera de 350 pessoas. O objetivo agora é ampliar o atendimento à comunidade.
A equoterapia existe no Brasil desde os anos 70, e foi reconhecida como método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina em 1997. O balanço do passo do cavalo, de acordo com estudos, funciona como estímulo ao sistema nervoso central, aumentando o equilíbrio e estimulando o desenvolvimento motor.
Claudiane é praticante de enduro, uma prova de longa distância em que o conjunto (cavaleiro e cavalo) atravessa grandes distâncias, passando por matas, rios e pontes. De atleta, ela passou a organizadora a partir do interesse de um amigo que, após um acidente de moto que lhe tirou o movimento das pernas, passou a praticar a equoterapia – um método de estímulo muscular com a cavalgada. Ele gostaria de saber como participar de um enduro, já que, apesar da limitação física, montava relativamente bem.
“Seria impossível já de começo, quando o atleta precisa correr ao lado do animal, puxando-o pela rédea, e apresentá-lo aos juízes”, relembra Claudiane. Mas ela percebeu que as adaptações eram possíveis. Começou a contatar outros centros de equoterapia à procura de mais interessados.
Início
A primeira prova de enduro paraequestre ocorreu em dezembro de 2011, com a participação de 20 competidores, em sua maioria crianças e adolescentes. Foram feitas alterações na estrutura do local da prova, como a instalação de barras no banheiro, e nos equipamentos de competição, como a colocação de uma rampa para que os cavaleiros pudessem alcançar a sela. O percurso foi encurtado. De 60 a 80 quilômetros, dependendo da prova, passou para 2 a 4 quilômetros. Os competidores são acompanhados por um cavaleiro auxiliar, montado, ou um auxiliar lateral, que segue a pé.
“Uma criança ganhou um troféu e ao chegar em casa, tarde da noite, foi acordar os vizinhos para mostrar a conquista”, conta Claudiane. A aceitação entre os centros de equoterapia foi rápida, e novos interessados ligavam para saber quando seria o próximo evento. A novidade “vazou” para outros estados, levada pelos juízes que vieram ao Paraná para arbitrar a prova. Existe o registro de duas provas similares realizadas há cerca de uma década em Brasília, o mais importante centro de equoterapia do país, mas jamais havia sido feita uma competição nesses moldes.
A idealizadora passou a divulgar o enduro paraequestre junto a outras federações de hipismo. São Paulo já promoveu competições e Minas Gerais está a poucos meses de ter o seu primeiro evento. Enquanto isso, o Paraná já tem uma seleção estadual, composta por cinco atletas, que participou de uma prova em Bragança Paulista (SP) ao lado de competidores convencionais. Ficaram em 4.º lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário