sábado, julho 27, 2013

RELIGIÃO, Francisco cita “incoerência de cristãos”

Ueslei Marcelino/Reuters / Via-Sacra, um dos principais eventos da JMJ, levou cerca de 1 milhão de pessoas à praia de Copacabana ontem à noite
Via-Sacra, um dos principais eventos da JMJ, levou cerca de 1 milhão de pessoas à praia de Copacabana ontem à noiteNa Via-Sacra marcada por discurso politizado e crítico, Francisco relacionou a perda de fiéis a falhas de clérigos da Igreja
Durante a Via-Sacra em Copacabana, ontem à noite, o papa Francisco usou da linguagem religiosa para admitir a existência de clérigos e cristãos “incoerentes” e perguntou à multidão: “Você é o que lava as mãos, se faz de distraído e olha para o lado?”
“Jesus te olha agora e diz: quer me ajudar a carregar a cruz?”, prosseguiu Francisco, após a apresentação da Via-Sacra.
Sergio Moraes/Reuters
Sergio Moraes/Reuters / Ampliar imagem
Candelária
Na presença de cinco jovens infratores brasileiros, Francisco fez um alerta forte ontem contra a violência da polícia no Brasil. “Candelária nunca mais”, declarou o papa diante dos menores internados em instituições no Rio. No encontro no Palácio São Joaquim, ontem, os jovens explicaram ao papa sua situação e Francisco teria se emocionado. Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, os cinco deram ao papa um rosário gigante, com o nome de cada um dos oito jovens e crianças mortos por policiais há 20 anos.
Boate Kiss
O papa Francisco pediu oração aos jovens que morreram na tragédia da boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em janeiro deste ano. A oração ocorreu no final da cerimônia da Via-Sacra, na 14ª estação, em Copacabana, na noite de ontem. O papa também fez referência ao primeiro nome dado ao Brasil, Terra de Santa Cruz. “A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e muitos outros povos”, disse.
Protestos
Manifestantes que se concentravam desde o fim da tarde de ontem em frente da estação de metrô Cardeal Arcoverde, em Copacabana, tentaram invadir à noite a área reservada que leva ao palco onde o papa Francisco tinha participado de uma das cerimônias da Jornada Mundial da Juventude. O papa já tinha deixado o local quando os cerca de 500 manifestantes chegaram.
Durante o trajeto, foram 13 estações ao longo da Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, nas quais foram reproduzidos elementos da Via Dolorosa, de Jerusalém, misturados a símbolos do Rio de Janeiro, como a Escadaria Selarón e o Arpoador. O pontífice relacionou a perda de fiéis às falhas dos clérigos da Igreja.
“Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho”, disse o papa.
No discurso, feito em português e espanhol, o papa voltou a mencionar o problema da corrupção na política e lembrou vítimas do racismo e da fome.
“Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele.”
Não é a primeira vez que o papa faz críticas públicas à sua Igreja – a reforma da Cúria tem sido uma das prioridades nos seus primeiros quatro meses de pontificado. A principal medida foi a criação, em abril de uma comissão formada por oito cardeais de cinco continentes para aconselhá-lo sobre mudanças. A primeira reunião será em outubro. Na semana passada, o Vaticano anunciou uma comissão para reformar a estrutura administrativa e econômica do Vaticano. No trajeto, o papa saiu duas vezes do papamóvel, Na primeira, ganhou uma pomba branca de porcelana e em seguida deixou nas mãos de uma estátua de São Francisco Num segundo momento, desceu para cumprimentar cadeirantes.
Segurança tem reforço do Exército

As Forças Armadas vão atuar na segurança nos últimos dias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). De acordo com o Ministério da Defesa, os termos do novo decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) já estão sendo articulados entre o governador Sérgio Cabral e a presidente Dilma Rousseff. Agora, toda a Zona Sul e o Centro deverão ser incluídos no cinturão federal de segurança. A GLO dará plenos poderes às Forças Armadas, sob o comando do Exército, para atuar com poder de polícia. O novo planejamento militar já está praticamente pronto. Ele começou a ser traçado na quinta-feira. Novo encontro entre os especialistas, que contou com a supervisão de ministros, como Celso Amorim, da Defesa, por videoconferência, foi realizado na manhã de ontem.

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