quinta-feira, maio 02, 2013

O cidadão que veio do frio



A varanda da casa de Stephan Knecht parece esperar por um tipo de clima que dificilmente ocorre em Curitiba. As cadeiras de metal e palha, a mesa e o guarda-sol, as plantas e a fonte seriam mais agradáveis sob uma temperatura dez graus acima da média do outono curitibano. Ainda assim, ele nos recebe de sandálias, calça jeans, camiseta branca e colete. Para este executivo de marketing aposentado que trocou a Suíça (entre -2°C e 7°C no inverno) por Curitiba (não muito mais que isso), um “célsio” a mais que seja é muita coisa.
Essa não foi a única diferença percebida de imediato. Seu país natal tem um dos mais baixos índices de violência do mundo. Por isso, ele reagiu com surpresa quando os proprietários da casa que estava comprando, um casal de idosos se mudando para um apartamento, citaram o temor de assaltos como motivo para a troca.
No bairro escolhido por Stephan e sua esposa, o Hu­­go Lange, predominam casas com muros altos e cercas ele­­trificadas. O recém-aposentado imaginou então um novo cenário para o bairro. “Trabalhei em vários lugares do mundo desenvolvendo mercados. Aprendi que, quando você tem uma ideia, precisa estruturar uma forma de desenvolvê-la”, diz Stephan, 66 anos, que durante duas décadas foi executivo de marketing em uma indústria de chocolates finos.
Estabelecendo critérios que remetem à gestão corporativa, começou a atacar o problema com armas que sabia manusear. O primeiro passo foi elaborar um questionário para os vizinhos, que revelou as principais demandas e reclamações. Sem surpresas, a segurança despontou na primeira colocação. Então Stephan convidou os reclamantes a se reunirem para enfrentar o problema.
O bairro ainda não tinha conselho de segurança. A partir de uma sugestão da Polícia Militar, os vizinhos fundaram o Conseg do Hugo Lange. Stephan Knecht foi eleito o primeiro presidente.
A primeira solicitação à prefeitura foi inusitada. O Conseg pediu autorização para plantar orquídeas no tronco das árvores da rua. “A polícia nos informou que um bairro com bastante gente andando na rua se torna mais seguro. Então tínhamos que torná-lo mais bonito, para estimular as caminhadas”, diz. A partir de então, Stephan foi se tornando um especialista em segurança comunitária.
Passados cinco anos do início do Conseg, Stephan encerra o segundo mandato como presidente neste mês de maio. Mostra-se cioso do trabalho e preocupado com a continuidade da associação, mas acredita que o novo presidente continuará com as boas práticas. Com o apoio da comunidade, ele conseguiu criar e manter um Conseg apolítico e informal. “Sem CNPJ, não podemos receber doações do poder público. O que é bom, pois garante a autonomia e evita a corrupção”, diz ele, temeroso em relação a outra diferença entre Suíça e Brasil.
Causas variadas
Com soluções simples para o trânsito, Conseg conquista status nacional
Nas discussões comunitárias sobre segurança, os moradores do Hugo Lange perceberam que o trânsito era um assunto que precisava de atenção. Estavam preocupados com os frequentes acidentes nas ruas do bairro. Na esquina próxima à casa de Stephan Knecht, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do Hugo Lange, a situação se mostrava urgente, com o registro de duas colisões de veículos ao mês, em média.
A mobilização popular trouxe para o cruzamento uma solução tão simples quanto eficiente. Com sinalização no chão e colocação de alguns tachões pela prefeitura, criou-se no local uma rotatória que obriga os motoristas a reduzir a velocidade. Desde então, a segurança no trânsito virou a segunda causa abraçada por Stephan, e o conselho presidido por ele se tornou o representante dos Consegs de Curitiba no programa Vida no Trânsito, uma ação interministerial do governo federal e entidades internacionais presente em Curitiba e outras capitais do país.
À procura de um trânsito melhor para o bairro, os participantes do Conseg se engajaram na pressão pela revitalização da Rua Augusto Stresser, uma das principais vias do bairro. “Por falta de vagas, os carros estavam parando na calçada, colocando o pedestre em perigo”, lembra Stephan. O grupo passou a acompanhar as audiências públicas e reuniões sobre o orçamento do município, sempre munidos de faixas clamando por obras na rua, que também é um importante ponto de comércio nessa região da cidade. A obra foi realizada no segundo semestre de 2012 e entregue no final do ano, três dias depois do Natal. Agora, a bandeira do suíço e seus colegas é a melhoria nas condições de segurança no Jardim Ambiental, uma área verde localizada no Alto da XV. “Apesar de não ser no nosso bairro, vai nos beneficiar também”, justifica.

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