domingo, abril 01, 2012

MEMÓRIA, Há 45 anos, “Robertão” batizava o futebol do PR

Paulo Vecchio, 69 anos, um dos destaques do Ferroviário, não vacila ao lembrar de 1967: “Não foi brincadeira”

Na 1ª inserção de fato do estado no cenário nacional, Ferroviário, na época o bicampeão paranaense, conhecia o abismo entre o futebol local e os grandes do país

Há 45 anos, o Ferroviário tirava o Paraná da periferia nacional ao disputar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Uma primeira jornada diante dos grandes clubes do país que representou um duro choque de realidade para o então bicampeão estadual.

Antes dessa inserção, o estado havia disputado a Taça Brasil, como o Atlético, em 1959, mas sempre sem ultrapassar a fase regional, diante de catarinenses e gaúchos. Foi com o embrião paranista que o Sul deixou de ser o limite.
Entre os meses de março e maio de 1967, foram 14 partidas e nenhuma vitória do Boca-Negra – quatro empates e oito derrotas, com nove gols marcados e 26 sofridos. “Nosso time sentiu a diferença, pois estávamos acostumados com o campeonato local que, naturalmente, era menos exigente”, relembra o atacante Paulo Vec­­­­chio, autor de dois gols na competição. Hoje aos 69 anos, ele trabalha na Caixa Econômica Federal.

Também avante, Fer­­nan­do Augusto, 76, hoje funcionário do Paraná (clube que tem o Ferroviário entre os an­­tepassados) na sede da Ave­­nida Presidente Kennedy, re­­corda do contato com as estrelas daquele tempo – um intercâmbio inédito e marcante. “Enfrentamos o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Tostão, o Corinthians de Rivelino, o Botafogo de Gérson. Não foi brincadeira”. O Palmeiras, de Djalma Santos e Ademir da Guia, levantou o caneco.

Tratava-se da primeira edi­­ção do Robertão, criado como uma versão ampliada do Torneio Rio–São Paulo. Em um primeiro momento, sem prestígio, o Paraná estava fora dos planos. Mas uma manobra de José Milani, presidente da Federação Paranaense de Futebol, incluiu o time da Rede Ferroviária Federal no certame.

Um dos argumentos do dirigente era de que os clubes do Sudeste teriam de cru­­zar o estado para enfren­­tar os gaúchos Grêmio e In­­­­ter­­nacional. Logo, não se­­ria problema passar por Curitiba. De quebra, a medida refor­­çaria o caráter nacional do campeonato.

“Nós tínhamos por aqui amistosos eventuais. Receber uma competição desse porte foi diferente. Eu morava no centro, ia a pé para a Vila Capanema, pela Rua João Negrão. Lembro do frio no estádio, que acabou acompanhando os resultados”, recorda o publicitário Ernani Buchmann, torcedor do Ferroviário e ex-presidente do Paraná (1996-97).

O desempenho ruim dos comandados do técnico Marinho pode ser explicado, em parte, pela decisão da diretoria de não reforçar o elenco com o empréstimo de atletas dos coirmãos – estratégia comum na época e utilizada pelo Furacão para a disputa do ano seguinte. Nem mesmo contratações foram feitas.

Apoio extra só veio das arquibancadas do Durival Britto. Até um slogan foi lan­­çado e ganhou às ruas: “Estamos com o Boca no Ro­­bertão, pelo progresso do futebol do Paraná”. As torcidas de Atlético e Coritiba, entre outras, mandaram as suas “charangas” para os jogos.

“O Ferroviário tinha uma grande torcida e as partidas receberam ótimos públicos, com rendas recordes. E ainda contou com a curiosidade dos demais torcedores da capital. Foi uma manifestação muito bonita”, diz Airton Cordeiro, colunista da Gazeta do Povo, narrador na época.

"Fonte" Gazeta do Povo

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