domingo, setembro 30, 2012

66% dos alimentos têm sódio em excesso


De olho no aumento nos ín­­dices de brasileiros com do­enças crônicas como hipertensão, obesidade e diabete, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negocia com o setor alimentício uma redução da quantidade de sódio em uma série de alimentos industrializados, como pães, salgadinhos e embutidos, até 2016. E a preocupação não é por acaso. Uma pesquisa recente analisou a informação alimentar e nutricional de sódio em rótulos de cerca de 1,3 mil alimentos industrializados ultraprocessados prontos e semiprontos e constatou que a maioria dos produtos tinha mais sódio do que o recomendado.
O estudo foi desenvolvido por Carla Adriano Martins, mestre em Nutrição e membro do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com orientação da professora doutora Anete Araújo de Sousa. Segundo Carla, dois em cada três ítens tinham mais que 600 miligramas de sódio por 100 gramas ou 100 mililitros do produto, índice considerado alto, segundo a Food Standards Agency, do Reino Unido.
Advogado perde 58 quilos e dá adeus ao saleiro
Se você é do tipo que acha impossível viver sem consumir sal, precisa conhecer o advogadoAlexandre Mariath (foto). Em 2011, ele passou por uma reeducação alimentar e começou a praticar exercícios físicos para ganhar mais saúde. O resultado? Emagreceu 58 quilos em oito meses sem qualquer tipo de cirurgia.
Agora, para não voltar a engordar, mantém uma série de cuidados. O principal foi, na hora das compras, comparar as tabelas nutricionais dos alimentos para garantir que está levando o que tem menos sódio e gorduras, e mais fibras. Mas não para por aí. Mariath também decidiu banir o saleiro de casa e agora só tempera a comida com ervas frescas, alho e azeite de oliva. E ele garante: o sal não faz a mínima falta em seu prato. “Não acho que o sal saborize a comida. Pelo contrário, ele tira o gosto dos alimentos, então agora estou descobrindo outros sabores muito melhores.”
Combate
Contra o sal, Anvisa também mira consumidor e setor de serviços
Desde o ano passado, a Anvisa trabalha em três frentes para reduzir o consumo de sódio no Brasil e atingir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) até 2020. A primeira fase, iniciada em 2011, foi de acordo com a indústria de alimentos para que sejam diminuídas gradativamente as quantidades de sal em produtos como biscoitos, macarrão e achocolatados.
“Nas pesquisas que fizemos, o macarrão instantâneo foi o que demonstrou os índices mais alarmantes de sódio, então no ano que vem começa a primeira redução para, até 2016, chegar a um patamar aceitável”, explica a gerente-geral de alimentos da Anvisa, Denise de Oliveira Resende. Segundo estudo da agência, em algumas amostras de macarrão instantâneo, ao comer uma única porção, a pessoa ingeria 167% do sódio recomendado para ser consumido durante um dia inteiro.
Na próxima etapa, a Anvisa pretende trabalhar com a orientação ao consumidor, mostrando a importância da redução de sal no preparo de alimentos e, após isso, negociar com o setor de produção de alimentos (como padarias e restaurantes) para que preparem os alimentos com menos sal.
Conscientização
Para a mestre em Nutrição Carla Adriano Martins, o trabalho da Anvisa é um começo, mas não deve parar por aí. “A partir do nosso estudo, é possível concluir que essa lista pode e deve ser aumentada, haja vista a quantidade de alimentos ricos em sódio encontrados na nossa análise.”
Segundo o médico cardiologista do Hospital Costantini Marco César Barbosa, o esforço não pode se restringir aos órgãos oficiais e passa pela conscientização da população, inclusive com orientação sobre medidas de reeducação alimentar em escolas para crianças e adolescentes.
“Independentemente das medidas da Anvisa, é preciso investimento na educação. Não adianta a indústria reduzir os índices de sódio se a pessoa continuar fazendo escolhas alimentares erradas. A diminuição ajuda, mas sozinha não soluciona o problema.”
Lista
Veja quais alimentos devem sofrer redução na quantidade de sódio até 2016:
• Biscoitos (doces, salgados e recheados) 
• Embutidos (salsicha, presunto, hambúrguer, empanados, linguiça, salame e mortadela) 
• Caldos e temperos 
• Margarinas vegetais 
• Maioneses 
• Derivados de cereais 
• Laticínios (bebidas lácteas, queijos e requeijão) 
• Refeições prontas (pizza, lasanha, papa infantil salgada e sopas). 
• Massas instantâneas 
• Pães de forma 
• Bisnaguinhas 
• Pão francês 
• Bolos prontos 
• Misturas para bolos 
• Salgadinhos de milho 
• Batatas fritas e palha
Além do excesso, a pesquisa constatou uma grande variação na oferta do nutriente entre produtos similares, mas de marcas diferentes, como o molho de tomate. A pesquisadora relata que em alguns não havia adição de sódio, enquanto em outros a quantidade ofertada em 100 gramas de molho chegava a aproximadamente 80% da recomendação diária preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As conclusões reforçam a importância do cuidado na hora de escolher os alimentos. Segundo a OMS, o ideal é que cada adulto consuma diariamente até cinco gramas de sal, o que equivale a uma colher rasa de chá do produto por dia. No Brasil, pesquisas apontam que a média ultrapassa o dobro e fica em 12 gramas, um perigo para o organismo, já que, em excesso, o sódio leva a um aumento da pressão arterial – a hipertensão –, gerando problemas renais, edemas e doenças cardiovasculares, como enfarte e AVC.
Combinação
Para a professora de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cyntia Leinig, o problema aparece na soma das taxas de sódio de cada alimento que a pessoa consome ao longo de um dia, o que aumenta as possibilidades de extrapolar facilmente os valores recomendados. “Se no café da manhã tomei um copo de achocolatado e comi um pão com frios, no almoço fiz uma macarronada com extrato de tomate pronto, lanchei um pacote de biscoitos salgados e jantei outro prato da macarronada, é fácil ver que consumi muito mais sódio do que precisaria.”
Segundo a pesquisadora Carla, dentre os exemplos de combinações que merecem cuidado, os molhos industrializados para salada ganham destaque, já que, por terem alto teor de sódio, eles comprometem os benefícios da ingestão dos vegetais. “Outro exemplo de combinação perigosa é o consumo de petiscos, como azeitona, salame, queijo e molhos diversos, como ketchup, mostarda, maionese e shoyu, pois são tipos de alimentos que também podem apresentar alto teor de sódio.”
Porém, as especialistas alertam que o sódio não deve ser totalmente banido da alimentação. Em pequenas quantidades – entre 184 e 230 miligramas por dia – ele não oferece problema algum e tem seus benefícios para o organismo. “O sódio é fundamental para equilibrar o volume celular e a pessoa desempenhar suas atividades normais, como andar ou respirar”, explica Cyntia.

Cuidados
Veja algumas dicas para reduzir a ingestão de sódio:
• Evite os campeões de sódio: reduza o máximo possível o consumo de embutidos (como salsichas, presunto e salame) e desidratados, como sopas prontas e macarrão instantâneo com tempero. Outro perigo são os temperos para comida, como caldos de galinha e carne, além de molhos para salada, shoyu e inglês, todos por terem altas concentrações de sódio. Se puder, consuma produtos em conserva em pequenas porções apenas uma vez por semana e prefira as versões in natura. E é bom ficar de olho no cardápio porque alimentos doces, como biscoitos recheados, chocolates, guloseimas e refrigerantes, inclusive os light e diets, que usam sacarina e ciclamato em sua composição, também têm altos níveis do nutriente.
• Tire o saleiro da mesa: se ele não está próximo, você diminui a vontade de acrescentar sal à comida quando ela está pronta. Se for comer fora de casa, evite os sachês de sal. Cada um contém um grama do produto, então fica fácil extrapolar o limite diário.
• Seja criativo na cozinha: use o mínimo de sal na hora de temperar algum prato e invista em ervas frescas e secas (manjericão, sálvia, cominho, alfavaca, orégano, manjerona e alecrim), pimenta, cebola, alho, salsinha, cebolinha, limão, cheiro verde e vinagre. Uma receita caseira e saudável é fazer um tempero misturando um terço de alho picado, um terço de manjerona e um terço de sal. Outra substituição recomendada é usar o sal de cloreto de potássio, que não têm sódio em sua composição. A única ressalva é que ele não é recomendado para pacientes com problemas renais.
• Reduza aos poucos: como o paladar está acostumado com a comida bem salgada, é difícil se acostumar com o novo sabor dos alimentos se a diminuição for muito radical. Vá adicionando cada vez menos sal aos preparos até chegar a uma quantidade razoável ou eliminá-lo completamente.
• Leia o rótulo: a quantidade de sódio está relacionada na tabela nutricional no rótulo de todos os alimentos industrializados. Leia atentamente, compare marcas e opte sempre pela que tem o menor valor. Também fuja de produtos com mais 600 mg de sódio a cada 100 gramas de alimento, taxa considerada alta e prejudicial à saúde.
• Anote tudo o que come: para saber o quanto ingere de sódio todos os dias, anote os valores referentes a este nutriente em tudo que comeu ao longo do dia e, no fim, some para ver se está dentro do recomendado.
• Prefira alimentos naturais e frescos no lugar dos industrializados: dá mais trabalho, mas procure tirar um tempinho e preparar o máximo de pratos em casa. O hambúrguer pode ser feito com carne moída e ervas em casa. Uma macarronada, por exemplo, fica muito mais saudável se você preferir o macarrão tradicional ao instantâneo, separar os tomates, o alho e as ervas, preparar o molho e evitar o produto industrializado, que é riquíssimo em sódio. Também evite comprar refeições prontas para aquecer, como as carnes cozidas ao molho, pizzas e lasanhas, pois geralmente têm alta quantidade de sódio.

Confira uma lista com alguns alimentos e a quantidade de sódio (em miligramas) em cada um deles:

CAFÉ DA MANHÃ

1 xícara de leite com achocolatado160
1 xícara de café com leite130
1 xícara de chá de ervas ou mate0
1 pão de queijo (20g)350
1 pão francês300
2 fatias de pão de forma integral250
2 colheres de sopa de granola200
1 fatia de queijo tipo minas15
1 fatia de queijo prato108
1 colher de sopa de requeijão cremoso167
1 colher de sopa de ricota42
1 colher de sopa de margarina com sal100
1 colher de sopa de margarina sem sal8
1 fatia de mamão0
1 copo de suco de laranja natural0
1 copo de refresco em pó67
1 fatia de presunto220
1 fatia de peito de peru110
1 colher de sopa de patê de presunto66
Ovos com bacon (1 ovo com 1 fatia de bacon)230

ALMOÇO

1 bife grelhado (100g)75
1 linguiça assada pequena (50g)745
1 filé pequeno de bacalhau assado (90g)1130
1 filé de pescada grelhado (100g)115
1 filé de peito de frango grelhado (100g)62
1 filé de peito de frango a milanesa (130g)158
2 colheres de camarão refogado367
1 concha de feijão simples188
2 conchas de feijoada1140
1 concha de batata palha120
1 concha de batata ou aipim cozido20
1 concha de farofa temperada220
1 colher de salada de maionese200
1 xícara de milho em conserva (100g)466
1 pires de salada verde0
1 colher de chá de molho shoyo390
3 colheres de sopa de arroz branco ou integral (sem sal)1
3 colheres de sopa de arroz à grega362
1 copo de refrigerante10

JANTAR

1 fatia de pizza de calabresa790
1 fatia de pizza de frango com requeijão590
1 prato fundo de sopa daquelas de pacote814
1 prato fundo de sopa caseira de carne e legumes (com pouco sal)250
1 unidade de macarrão instantâneo (80g)1991
1 unidade de hambúrguer (80g)629
1 pedaço de lasanha congelada (150g)884
1 prato raso de macarrão ao sugo420
1 misto quente830

LANCHE

1 pacote de salgadinho tipo chips (50g)410
2 colheres de sopa (30g) de amendoim salgado120
6 biscoitos salgados250
1 barra de cereais (25g)30
1 empadinha de frango525
1 maçã0
1 banana0
1 barra pequena de chocolate ao leite (35g)23
1 bola de sorvete de creme27
1 copo (200ml) de iogurte comum120
Fonte: Gazeta do Povo 30/09/2012

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