domingo, março 18, 2012

Criado como projeto-modelo, Ninho revela drama paranista

Jovens das categorias de base tiveram de lidar com a falta de estrutura, que acarretou baixo rendimento escolar e nos gramados

Reprovação escolar em massa, falta de alimento para os atletas e atraso salarial fazem da base tricolor um pesadelo para a gestão do clube

De projeto-modelo a um negócio malsucedido. O centro de formação de atletas Ninho da Gralha, em Quatro Barras, se transformou em uma dor de cabeça para a diretoria do Paraná. Com uma estrutura pa­­ra abrigar cerca de cem jovens jogadores, o complexo esportivo do Tri­­color foi definhando ao longo tempo e iniciou o ano no caos.

Nos últimos meses, os candidatos à craque têm encontrado uma realidade bem diferente da que imaginavam. Desde o segundo se­­mestre do ano passado, os meninos, que têm idade entre 14 e 20 anos, estão tendo de lidar com a fal­­ta de refeições, o baixo desempenho escolar e o fraco rendimento den­­tro de campo.
Os problemas são reflexos do abandono a que o centro de treinamento foi submetido desde 2008, quando foi inaugurado. Admi­nis­tradas pela Base (sigla para Bom Atleta Sociedade Empresarial) – que foi criada para construir o CT, de 241 mil m² – as categorias inferiores do clube não ergueram nem um troféu sequer no período da parceria.

Além disso, a formação pessoal dos piás do Ninho também decepcionou. Em 2010, ao final do ano letivo, cerca de 90% dos atletas que estão alojados no CT foram reprovados. A maioria por não frequentar as aulas.

Para Clau Júnior de Paulo, diretor do colégio Arlinda Ferreira Crep­live, onde estudam 30 meninos da base, a falta de uma boa alimentação foi o principal motivo do alto índice de reprovação. Com aulas à noite, os estudantes-atletas chegavam para o turno escolar ten­­do recebido apenas o café da manhã e o almoço.

“Eles cortaram o lanche e o jantar dos meninos, que se sustentavam de biscoitos. Ti­­vemos de co­­meçar a oferecer comida na cantina antes das aulas porque muitos acabavam passando mal de tanta fome”, afirmou.

O diretor garantiu que chegou a pensar em denunciar o Paraná e a empresa Base para o Conselho Tu­­telar por abandono intelectual e de incapazes. “Percebemos que quase todos estavam chegando cansados nas aulas, dormindo na sala. Só não oficializei a denúncia porque conversei com a pedagoga do Ninho da Gralha e ela me disse que as coisas melhorariam neste ano”, explicou Júnior de Paulo.

A situação tornou-se tão precária que itens básicos, como cebola, óleo e massa de tomate desapareceram das despensas do CT. Pro­­du­­tos de limpeza, como detergente e sabão em pó, precisaram ser levados de casa pelos próprios funcionários.

Além das prateleiras vazias, a im­­pontualidade no pagamento dos salários dos empregados e da ajuda de custo aos garotos agravou a crise. Na última terça-feira, os atrasos salariais – que para alguns alcançou sete meses – culminaram na paralisação das atividades. Somente após o acerto de parte dos valores, no meio da tarde, os trabalhadores descruzaram os braços.

Sem dinheiro para bancar a ma­­nutenção dos funcionários, o Ninho foi esvaziado. Desde quando entrou em operação, em 2008, até o início deste ano, o quadro de trabalhadores caiu pela metade. Cargos importantes como o de psicólogo, dentista e inspetor deixaram de existir.

O cenário catastrófico e a falta de rumo na administração interromperam a parceria entre Base e Paraná com apenas um terço da duração do contrato. Programada para durar 12 anos, a sociedade será oficialmente desfeita nos próximos dias.

No acordo firmado entre a diretoria paranista e o sócio majoritário da Base, Renê Bernardi, o atual contrato será rescindido de forma consensual. Com isso, além da gestão das categorias de base voltar a ser unicamente do clube, os direitos econômicos dos jovens jogadores, que eram divididos em 50% para cada um dos parceiros, também retornam integralmente para as mãos tricolores.

“Vamos profissionalizar as ca­­tegorias de base. Estamos elaboran­do um plano de trabalho para voltar a revelar grandes jogadores”, garantiu Celso Bittencourt, superintendente geral do Paraná, admitindo que custos devem ser cortados com a diminuição no número de jovens no CT.

O presidente paranista, Ru­­bens Bohlen, segue na mesma linha. “Ali que está o salto de qualidade do clube. Não precisa ficar contratando jogador a torto e direito. A solução está em Quatro Barras.”

"Fonte" Gazeta do Povo

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