quinta-feira, junho 28, 2012

Coxa perde o fã incondicional Vinícius Coelho


O Coritiba perdeu ontem um de seus fãs mais apaixonados e a imprensa um de seus grandes cronistas esportivos. Vítima de um atropelamento, o jornalista Vinícius Coelho, de 80 anos, morreu ao tentar atravessar a rua e ser atingido por um carro na Linha Verde (antiga BR-476). O acidente ocorreu perto do Auto Shopping Curitiba, região do Tarumã. O velório será hoje pela manhã no Couto Pereira.
“Todos nós, torcedores, a instituição como um todo está de luto, ele foi uma figura de destaque”, declarou o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, logo depois de saber da notícia. O Alviverde decretou três dias de luto pela morte do jornalista.
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Coelho é autor do segundo hino do Alviverde, “Eterno Campeão” – marcado pelo início “Cori, Cori, Cori, Coritiba...”. Sua estreita relação com o clube também inclui a narração para a televisão do título nacional do clube, em 1985. “Ele sempre foi um torcedor muito identificado com o Coxa, mas não era por isso que só defendia o Coritiba. Ele defendia o futebol paranaense”, recorda o ex-jogador do time do Alto da Glória, Dirceu Krüger.
Coelho também escreveu três livros que têm o Alviverde como tema: a biografia do ex-presidente do clube, Aryon Cornelsen; Atle-Tiba – Paixão de Multidões; e Evangelino: Campeoníssimo. Os dois últimos foram produtos em parceria com o jornalista e colunista da Gazeta do Povo, Carneiro Neto.
“Um grande companheiro, deixou uma marca muito forte no jornalismo esportivo. Estou na Gazeta do Povo desde 1984, quando ele me indicou para substituí-lo”, lembra Neto. A última entrevista de Coelho foi ao ar na Rádio 98 FM na manhã de ontem, na qual revelou um de seus principais desejos. “Queria muito voltar a escrever colunas em jornal. A coisa que mais gosto de fazer é escrever”, ressaltou.
O jornalista ingressou na crônica esportiva no Diário do Paraná, em 1953, passando por rádios, emissoras de tevê e jornais. Em 1969, trabalhou no Rio de Janeiro como repórter do jornal O Globo, e em 1974 voltou a Curitiba para ser chefe da editoria de esportes da Gazeta do Povo. Trabalhou também na TV Paranaense (hoje RPC TV), empresa que deixou em 1986. Seu último trabalho foi como colunista do jornal Tribuna no Paraná, em 2009.
Filho assassinado
Vinícius Coelho vivia um drama pessoal desde 2007, quando seu filho Bruno Strobel Coelho foi morto após ser supostamente agredido por agentes de uma empresa de segurança. O jovem teria sido flagrado pichando um muro e executado por vigias após ter revelado que era filho de um jornalista. Vinícius tinha outros três filhos.
História em detalhes
Nascido em 1932, em Curitiba, Vinícius Coelho ingressou na crônica esportiva duas décadas mais tarde, no Diário do Paraná, em 1953. Em 1962, foi contratado pelo Canal 6, aonde viria a ser locutor esportivo.
Coelho trabalhou no jornal e na televisão até 1969, quando se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi repórter do jornal O Globo. Nesse ano, conseguiu em primeira mão a informação de que Zagallo seria escolhido para dirigir a seleção brasileira na Copa de 1970.
Retornou a Curitiba em 1974 para ser chefe da editoria de esportes da Gazeta do Povo, onde trabalhou por dez anos. Simultaneamente, trabalhou na TV Paranaense (hoje RPC TV), empresa que deixou em 1986. Um ano antes, viveu o momento mais emocionante da carreira. ao narrar ao vivo do Maracanã a maior conquista de seu time do coração, o Coxa, o título nacional.
Vinícius Coelho também acumulou várias passagens por rádios da cidade. Trabalhou nas rádios Colombo, Independência, Universo e Cidade.
Com nove Copas do Mundo e duas Olimpíadas currículo, ele acumulou carimbos em seus passaportes. A primeira cobertura internacional do jornalista foi em 1959, no extinto Campeonato Sul-Americano de futebol (atual Copa América), na Argentina. O curitibano também foi presidente da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos.
Confira alguns depoimentos sobre Vinícius Coelho.
Carneiro Neto, colunista da Gazeta do Povo
“Meu parceiro em dois livros: Atletiba – Paixão das Multidões – de 1994 e Evangelino: o Campeoníssimo, de 2002. Eu conheço ele desde 1964, quando comecei na crônica esportiva. Ele veio desde 1956. Eu comecei a trabalhar com ele no Diário do Paraná em 1969 por indicação dele e assumi por indicação dele o lugar de editor quando ele foi para O Globo em 1969. Ele me prestigiou muito e me apoiou no começo da carreira. Depois, eu retribuí sempre o chamando para ser comentarista nas minhas equipes de rádio. Estávamos em conversa para fazer uma nova edição atualizada do Atletiba – Paixão de Multidões. Um grande companheiro, deixou uma marca muito forte no jornalismo esportivo. Em 1974, ele voltou para Curitiba, para a TV Paranaense (atual RPC) e era apresentador e narrador. Saiu de lá em 1984 para o retorno da Paraná Esportivo. Ele estava também na Gazeta do Povo. Eu estou na Gazeta do Povo desde 1984, quando ele me indicou para o substituir”
Edson Militão, colunista da Gazeta do Povo
“Eu posso dizer que o Vinícius colocava a paixão em tudo, principalmente no texto e na voz. Sempre foi atual e saudosista, ele tinha uma memória muito boa do passado e acompanhava como ninguém o universo do esporte. Perdemos um talento extraordinário, tanto de texto como depoimento. Eu lamento muito”
Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba
“Foi um acidente lamentável, estamos decretando luto oficial. Vamos fazer todas as homenagens a esse grande coxa-branca. Foi uma figura de destaque, importante em tudo o que o clube representa hoje”
Dirceu Krüger, ex-jogador e ídolo do Coritiba
“Ele foi um jornalista extraordinário, com uma cultura muito bem colocada nas suas ideias, nas suas análises. Lamentamos profundamente essa notícia. Ele sempre foi um torcedor muito identificado com o Coritiba, mas não era por isso que ele só defendia o Coritiba, defendia o futebol paranaense. As colunas dele eram muito bem colocadas, muito bem analisadas, com bastante frieza”
Luiz Augusto Xavier, colunista da Gazeta do Povo
“Foi um grande amigo, um dos meus professores no jornalismo esportivo. Vinícius Coelho tinha um texto admirável e, não de graça, foi um dos nomes mais importantes da imprensa paranaense. Pioneiro da televisão, transmitiu o título do Coritiba em 85 pela RPC (então TV Paranaense). Brilhou como repórter e redator de O Globo e sempre teve as portas abertas na CBF, onde fez muitos amigos, antes de voltar para o nosso convívio. Uma perda irreparável para todos nós, paranaenses”
Guilherme Straube, pesquisador do Grupo Helênicos, especializado na história do Coritiba
“A primeira parte mais importante para mim, acima da importância profissional dele, era a amizade que a gente tinha. Semana passada, antes de desligar o telefone, ele disse para eu ligar mais vezes porque gostava muito de mim. Conhecia ele desde 2004, quando o Coritiba levantou o memorial das taças. Desde então houve uma grande sintonia entre nós, porque ele gostava de quem gostava da história do clube”
Cristian Toledo, jornalista da Rádio 98FM
“Nós convivemos durante 10 anos juntos e ele sempre foi um cara muito gentil e educado. Ele chegou a um patamar muito alto no jornalismo brasileiro e, mesmo assim, nunca deixou de ser uma pessoa muito gentil, sempre ajudando todo mundo. Ele foi uma figura símbolo no jornalismo brasileiro, mas sempre teve uma relação muito forte com o estado. Além de tudo, de ter sido uma pessoa muito educada e atenciosa, ele foi um dos pioneiros em multimídia, muito antes de todo mundo”
Gil Rocha, gerente de Esportes da RPC TV
“Ele sempre foi um grande nome do jornalismo paranaense e um grande líder. Eu tinha um carinho profissional muito grande, além de tudo era um grande amigo. Eu sempre viajei muito e vi o respeito e admiração que os jornalistas de outros estados têm por ele. Ele sempre representou o Paraná. Ele tinha um grande nome e poderia ter ficado na imprensa no Rio de Janeiro, mas preferiu voltar e ficar aqui no Paraná. Ele sempre foi um cara muito bacana, uma pessoa muito boa de se conviver. O momento mais marcante foi a cobertura da Copa do Mundo de 1986, porque era a minha primeira cobertura e ele já era experiente. Ele sempre muito atencioso ensinando todo mundo. Além de um colega, eu perdi um amigo.”
Veja a letra de um dos hinos do Coritiba, composto na década de 70 por Vinicius Coelho e Sebastião Lima.
Eterno Campeão
Cori, Cori, Cori
Cori, Cori, Cori
Coritiba
Coritiba, meu esquadrão
Sempre presente no meu coração
Vencer é o seu lema
Trabalhar é tradição
Salve, Salve, Coritiba
Eterno Campeão
Suas cores Verde e Branca
No mastro da vitória
Hão sempre de tremular
A uma voz vamos todos cantar
Vencer é o seu lema
Trabalhar é tradição
Salve, Salve, Coritiba
Eterno Campeão
Fonte: Gazeta do Povo 28/06/2012

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