segunda-feira, maio 23, 2011

Quando a terra treme em Curitiba.

A terra treme várias vezes ao dia, todos os dias, em diversos pontos de Curitiba. A causa dos abalos não está apenas sob a terra, mas também sobre ela. Não se trata de nenhuma acomodação de placas tectônicas, e sim do choque do rodado de veículos pesados na superfície irregular das ruas esburacadas ou mal-remendadas. A topografia acidentada em alguns pontos e o solo argiloso deixam a capital muito suscetível a estremecimentos. Moradores de diferentes regiões reclamam tanto do desconforto das trepidações quanto de estragos na estrutura das casas. Mas há motivos para preocupação? Esses sismos podem causar algum dano?

“Não só podem como vão”, enfatiza o PhD em Engenharia Estrutural Mauro Lacerda, professor titular de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para imóveis submetidos a tremores constantes, a dúvida não é “se” vai acontecer dano, mas “quando” vai acontecer. Os efeitos nem sempre são imediatos. O risco de colapso é maior para edificações mais antigas. Para as mais novas, o problema está na redução da vida útil. O que vai determinar a aceleração da fadiga da estrutura é a qualidade da construção, a frequência e a intensidade da pressão. São esses fatores somados que vão determinar quanto tempo de “vida” uma edificação perderá.

Ainda que não ateste o colapso da estrutura sem antes ter um estudo de caso em mãos, o presidente do Sindicato dos Engenhei­ros do Paraná, Valter Fanini, reconhece que esses tremores podem fatigá-la com o tempo. Todo o Planalto Curiti­bano tem um terreno argiloso e de turfa, fazendo com que as vibrações geradas por veículos pesados se difundam no subsolo igual a uma espécie de efeito gelatina. De forma mais imediata, essa movimentação da terra pode trincar ou soltar o reboco de construções e até mesmo soltar parafusos de eletrodomésticos quando a base em que estão apoiados é submetida a tremores frequentes.

Lacerda explica que o pavimento flexível – caso do asfalto e do antipó, que predomina nas ruas curitibanas – obedece à topografia do terreno e transmite para o solo a vibração causada pelo veículo. As ondas se propagam em maior intensidade, e a uma distância maior, quando o impacto do rodado se dá em vias irregulares, que são maioria mesmo nos corredores de ônibus da capital. Segundo Lacerda, a velocidade mais a massa dos ônibus criam uma situação de risco para as edificações. Para esse PhD em Engenharia Estrutural, a rua nem precisa estar esburacada ou com desníveis para causar o mesmo efeito quando há tráfego pesado.

“Se quiser derrubar uma casa, bota uma lombada na frente dela. Vai causar problema, principalmente se for mais antiga”, diz ele. O choque dos pneus de ônibus ou caminhões no quebra-molas também provoca vibrações que se propagam em terreno argiloso. Para Lacerda, toda pavimentação de rua deveria ter antes um estudo do impacto que isso causará ao redor. As administrações públicas costumam melhorar a rua para os carros, mas não para o entorno da via. Segundo ele, uma solução possível seria trocar o pavimento flexível pelo rígido, caso do concreto. Isso já foi feito, por exemplo, em trechos das avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas.

Segundo o secretário municipal de Obras, Mário Tukumi, o solo passa por análise antes de receber o pavimento. Há pontos em que é preciso cavar muito o terreno e recheá-lo com saibro para assentar o asfalto, de modo a reduzir os tremores. Contudo, ele ressalta que o tipo de solo curitibano impede a eliminação total das trepidações. Engenheiro há 40 anos, Tukumi faz uma comparação entre o solo de Curitiba e o da região Norte do estado. Uma edificação que em Londrina precisa de uma estaca de dois ou três metros de profundidade, na capital exige pelo menos 12. A precaução está na hora de construir, o que os engenheiros estão habituados a fazer.

Fonte: Gazeta do povo 23/05/2011

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