Quando tinha apenas nove anos, o publicitário Guilherme Medeiros, hoje com 28 anos, recebeu o preocupante diagnóstico de leucemia. Depois de passar por um período de quimioterapia no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, ele e a família receberam a notícia da necessidade de um transplante de medula óssea (TMO), procedimento que não poderia ser feito nesse estabelecimento na época. Então, começaram uma verdadeira peregrinação para escolher o hospital adequado para o transplante, optando pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que oferecia condições de atender crianças com profissionais especializados no público infantil, diferente de outros hospitais que poderiam realizar o procedimento.
Agora, quase vinte anos depois, as crianças que passam pela mesma situação de Medeiros podem contar com a opção de fazer transplante e tratamento em um mesmo hospital especializado no atendimento infantil em Curitiba, o próprio Hospital Pequeno Príncipe.
O estabelecimento acaba de inaugurar a nova Unidade de Transplante de Medula Óssea, que deve realizar seu primeiro procedimento ainda neste mês de maio e pretende atender cerca de 36 pacientes por ano. “Essa nova unidade é um sonho que conseguiu mobilizar a sociedade para arrecadar dinheiro e construir esse espaço, com três leitos para transplante”, afirma o médico responsável pelo serviço de TMO do Pequeno Príncipe, Eurípedes Ferreira.
Ferreira: "mais opções de tratamento aos pacientes"
No entanto, apesar do novo espaço, o hospital ainda não poderá atender toda a demanda por transplantes de medula óssea em crianças. “Atualmente, recebemos aqui no hospital entre 120 e 150 pacientes com câncer e pelo menos 20% delas tem necessidade de um transplante de medula óssea, que é mais do que podemos atender, sem dúvida vamos ter que continuar encaminhando pacientes para outros hospitais, mas pelo menos agora podemos oferecer opções de tratamento para alguns deles”, comenta Ferreira.
Benefícios
A opção de transferir o filho para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi da própria família Medeiros, que preferiu que o transplante fosse feito lá porque o estabelecimento oferecia acompanhamento por profissionais especializados em atendimento pediátrico. A outra opção da família seria fazê-lo no Hospital de Clínicas, em Curitiba mesmo, que também oferecia o transplante, mas a criança receberia um tratamento como qualquer outro paciente. Para ele, a decisão dos pais foi acertada e contribuiu muito para sua recuperação. “Esse tratamento direcionado para a criança faz toda diferença porque os médicos fazem tudo de uma forma diferente, para que você, mesmo sendo pequeno ainda, consiga entender o que está acontecendo”, conta.
A bióloga e professora universitária Mariana Piemonte Moretão, mãe de Guilherme, 7 anos, outro paciente do Pequeno Príncipe que teve que fazer o transplante em outro hospital, concorda com o publicitário. “Quando o hospital é especializado em atender crianças ele proporciona um tratamento mais humanizado”, comenta. Além disso, ela aponta outro benefício de poder fazer transplante e tratamento em um mesmo local. “Se há necessidade de mudar de hospital a criança passa por um estresse muito grande porque de repente ela é arrancada de uma equipe que ela conhece e levada para outro ambiente, o que faz com que ela fique assustada, com medo. Se ela fica no mesmo hospital, não passa por essa situação estressante, pois o trabalho é contínuo e a equipe é sempre a mesma”.
No entanto, crianças que dependem de um doador externo para o transplante, como aconteceu com Guilherme, que recebeu doação de seu irmão Gustavo, 4 anos, ainda vão ter de aguardar um pouco mais para terem a oportunidade de serem transplantados no Pequeno Príncipe.
De acordo com Ferreira, em uma primeira etapa serão atendidos somente os pacientes com possibilidade de fazer um transplante autólogo (procedimento realizado com material coletado do próprio paciente). A previsão é que somente no próximo ano, o estabelecimento comece a realizar transplantes algênicos e singênicos (aqueles que dependem de doadores externos). A prioridade de atendimento no Pequeno Príncipe será para pacientes do Paraná, mas há possibilidade de serem transplantadas também crianças de outras regiões. Além da construção da nova Unidade de TMO, o hospital também reformou a ala do Serviço de Hematologia e Oncologia, que agora conta com seis quartos com doze leitos.
Panorama
De acordo com informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), atualmente cerca de 1,2 mil pacientes aguardam por um transplante de medula óssea no Brasil inteiro. Desse total, cerca de 45% seriam crianças e jovens. Como os pacientes são cadastrados pelo Registro Brasileiro de Receptores de Medula Óssea (Rereme), o Inca não sabe informar quantos deles estariam no estado do Paraná.
Via Parana online
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