sexta-feira, novembro 25, 2011

Governo troca comando da PM


O coronel Marcos Theodoro Scheremeta não é mais o comandante da Polícia Militar do Paraná. Ele não chegou a completar um ano no cargo. A troca foi anunciada pelo governo do estado ontem, em Foz do Iguaçu, durante a inauguração da sala do gabinete de gestão integrada de segurança pública na fronteira. O coronel Roberson Bondaruk, ex-co­mandante da Academia de Polícia do Guatupê, vai assumir o posto, mas ainda não há data para a posse.

Com Scheremeta postado ao lado, o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, declarou que o comandante pediu para sair e que a motivação foi pessoal. Sche­remeta não se pronunciou na­­quele momento e, procurado mais tarde pela Gazeta do Povo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que não daria entrevista.

O governador Beto Richa, presente no evento, preferiu não falar sobre o assunto. Pelo menos 15 oficiais fardados estiveram na noite de ontem no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, para recepcionar Scheremeta. Entraram na área restrita de desembarque e despistaram a imprensa para que o ex-comandante saísse sem falar com os jornalistas.

Os dez meses em que o coronel Marcos Scheremeta ficou à frente da PM no Paraná foram bastante conturbados. Confira:

Passado

Scheremeta assumiu trazendo consigo uma condenação por liberar irregularmente um veículo apreendido em uma operação policial, quando era subcomandante em Foz do Iguaçu.

Família

Nomeou o próprio irmão, Carlos Alexandre Scheremeta, para ser corregedor da PM.

Conflito com o MP

Determinou o retorno dos policiais militares dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual (MP). Acabou concordando com a cessão de PMs, mas substituiu os oficiais.

Ponto final

Extinguiu o grupo Força Samurai, responsável por diversas investigações, em parceria com o MP, sobre tráfico de drogas.

Sem sucesso

Não conseguiu reduzir os altos índices de criminalidade no estado.

Jogo do bicho

Assistiu a Polícia Federal realizar uma operação de combate ao jogo do bicho, que deve ser reprimido pelas forças estaduais de segurança.

SAS

Discordou da decisão do governador Beto Richa de transferir ao Hospital da Polícia Militar o atendimento ao funcionalismo público estadual de Curitiba e região, desassistido com o fim do convênio do Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) com dois hospitais da capital.

Envolvidos

Foi surpreendido por mais uma operação da Polícia Federal que deu um duro golpe na corporação ao prender 23 policiais militares supostamente envolvidos com quadrilhas de contrabando de cigarros e agrotóxicos.

Contrariado

Não teria concordado com a ordem do governador de promover dois oficiais.

Opinião

José Carlos Fernandes, é colunista e repórter especial da Gazeta do Povo.

O homem certo, na hora certa, no lugar certo

Sobre o coronel Roberson Bondaruk, agora alçado ao posto mais alto da Polícia Militar do Paraná, costuma-se dizer a frase destinada aos líderes: é o homem certo, na hora certa, no lugar certo. Arriscado? Não para aqueles que o conhecem.

Pode-se dizer, com certa folga, que quem tirou o PM Bondaruk do anonimato da farda foi a advogada e professora da PUCPR Jimena Aranda, especialista e ativista dos Direitos Humanos, em meados dos anos 2000. Ele não era apenas o aluno mais maduro e mais alto da faculdade de Direito [tem quase 2 metros de altura]. Era o acadêmico que entregou um livro primoroso como projeto de conclusão de curso – um livro sobre os meninos e meninas em situação de rua, escrito nas horas vagas, quando se sentava, à paisana, no meio-fio, para conversar com a infância “largada” que circula pela cidade.

Jimena fez o alarde. E o Paraná entrou em lua de mel com o PM que sempre sonhou e nunca pensou que podia existir. Não passava uma temporada sem que seu nome viesse à tona, desenhando-o aos poucos como o sujeito que conseguia juntar razão e sensibilidade num espaço que, havia muito, parecia ter se especializado na brutalidade e na ignorância.

Sabe-se, a boca pequena, que muitos políticos e companheiros de caserna estremeceram diante da novidade chamada Roberson Bondaruk. Até então ele era o policial generoso e inofensivo que agregava os bons a seu lado, falava-lhes do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, uma de suas especialidades; e abrira a Polícia Montada às terapias com deficientes. Essas e outras do “Bonda” funcionavam como uma boa estampa da PM, do que a corporação muito se beneficiou.

O estranhamento veio nos momentos em que o coronel – já na proa do programa Polícia Comunitária – se pôs a escrever e a falar dos seus livros, 9, fora artigos e o doutoramento. Impossível que essas entrevistas sobre produção intelectual não se tornassem também minimamente pessoais. Foi o que aconteceu. Soube-se, pela boca dele, que o menino pobre, de família ucraniana e nascido no Parolin, já pensara em desistir da caserna, por não ver conexão entre o que sonhara quando guri e o uniforme cheio de estrelas.

Sim – ele também tinha dúvidas em operações como as feitas na Vila das Torres. Era capaz de chorar ao falar do ex-PM empobrecido que encontrou no meio de uma desocupação. E de não esconder que é ministro de Eucaristia na paróquia onde mora com Nair e os quatro filhos. Mexeu com a onipotência policial, mexeu com fogo. Em contrapartida, renovou nos civis a esperança por uma polícia mais humana.

Mas seria pouco. O Bondaruk que despertou ciúmes por sua popularidade, ainda que discreta, é também homem de inteligência privilegiada. Foi seu bingo. Depois do livro O império das casas abandonadas – revelado por Jimena Aranda, veio A Prevenção do Crime Através do Desenho Urbano, em que mostrou as relações entre arquitetura, espaço e criminalidade. Experimente procurar na internet: parece não haver jornal importante no Brasil que não o tenha entrevistado sobre o trabalho – justamente no período em que mais padeceu o ostracismo imposto por seus superiores.

A virada, contudo, foi sua posse na Academia Militar do Guatupê, em 2008. O coronel não seria apenas um sujeito boa praça ensinando os policiais a serem cordiais. Ele assumiu com a promessa de transformar o centro de formação num laboratório de pesquisa sobre a violência, projetando o Paraná não mais nos dados do Mapa do Crime, mas na ciência capaz de conter o tráfico e a criminalidade.

Um acidente vascular cerebral (AVC) recente e uns bons meses de molho criaram o fio da suspeita. Falou-se na aposentadoria do coronel Bondaruk como favas contadas. Mesmo que tivesse pendurado a farda, escreveria muitos livros e, arrisca, sentaria nos meio-fios. Mas a farda, pelo que sabe, não lhe incomoda. Nele, é a veste do homem que pensa, sente e dialoga com a sociedade – tal como ele contou ter sonhado fazer um dia, ao decidir ser policial. Não será em vão.

A possibilidade de troca no comando já era comentada dentro da PM e por alguns integrantes do governo. Os motivos da saída não foram esclarecidos, mas a queda aconteceu após uma sequência de atritos e constrangimentos.

Convite aceito

Procurado pela reportagem, o coronel Bondaruk confirmou que recebeu o convite e que aceitou ser o novo comandante da PM, mas prefere esperar sua nomeação oficial para conceder entrevistas.

Bondaruk estava atualmente na coordenação do Departa­mento de Relações Insti­tu­cionais da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Na­­tural de Curitiba, tem 49 anos e é o coronel mais antigo em atividade na PM. Está há mais de 30 anos na corporação.

Sobrecarga de trabalho

Em entrevista à RPCTV, o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, buscou passar a mensagem de que a troca de comando da PM foi consensual e tranquila. Ele disse que o coronel Scheremeta fez um bom trabalho. O comando da PM é responsável por gerir um efetivo de 15 mil policiais e um orçamento que representa 35% do setor de segurança pública no Paraná.

César declarou que o então comandante reclamava há algum tempo de sobrecarga de trabalho e de estar afastado da convivência familiar, com desgaste físico e emocional. O secretário não declarou o destino do coronel, mas disse que será aproveitado em “outras missões dentro da PM ou da estrutura do próprio estado”.

O secretário também elogiou o coronel que assumirá o comando. “Ele tem uma formação sólida na área da polícia comunitária. É um ideólogo, para se dizer, da Polícia Comunitária do Paraná e atende também o objetivo do governo de transformar cada vez mais a PM, consolidar e avançar na perspectiva de uma PM amiga”, declarou.

Provável Destino

Marcos Scheremeta é cotado para posto na Casa Militar

O coronel Marcos Theodoro Scheremeta, 48 anos, assumiu o comando da PM prometendo reverter o quadro caótico da segurança pública paranaense. Sem chegar ao objetivo, deixa o posto e ainda sem uma nova designação. Nos bastidores, a informação é de que ele pode ser destinado à Casa Militar, responsável pela segurança do governador, com status de secretário e conselheiro – ocupando, portanto, ainda uma posição de prestígio.

Bacharel em Direito e especialista em Administração Policial e Estratégias de segurança, Scheremeta é um oficial experiente. Ele passou pela chefia da seção de Planejamento e Operações do Comando da Capital, pela 3ª Seção do Estado-Maior e foi comandante do 17º Batalhão de São José dos Pinhais e do 1º Comando Regional da PM.

Mas foi no subcomando do 14º Batalhão em Foz do Iguaçu que ocorreu um dos fatos mais negativos de sua carreira. Lá, foi acusado de liberar uma Kombi em situação irregular apreendida em uma abordagem policial. Scheremeta foi processado por improbidade administrativa e condenado na 3ª Vara Cível de Foz do Iguaçu em primeiro grau a pagar uma multa de duas vezes o valor da sua remuneração, acrescida da correção monetária.

A defesa do coronel alegou inocência e afirmou que a Kombi foi liberada para não atrapalhar uma investigação sobre tráfico de drogas envolvendo o mesmo modelo do veículo apreendido. A defesa ingressou com um recurso no Tribunal de Justiça (TJ). Na segunda-feira, o processo foi encaminhado ao TJ para ser analisado.

Corregedoria

Outro episódio negativo dentro da corporação foi a nomeação do próprio irmão, Carlos Alexandre Scheremeta, como corregedor da PM. Possivelmente, de acordo com alguns policiais, Carlos também deixará o cargo.
Fonte: Gazeta do povo 25/11/2011

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