sexta-feira, novembro 04, 2011

Mortes em série na Vila Sabará Três adolescentes foram assassinados, seis estão jurados de morte

O assassinato em série de adolescentes tem imposto uma rotina de medo à Vila Sabará, um conjunto de oito comunidades que abrigam 20 mil pessoas na periferia de Curitiba, localizada na Cidade Industrial. Três jovens foram executados a tiros em menos de um mês, outros três ficaram feridos e mais seis estão jurados de morte. Maicon Wilian de Lima Patrício, de 16 anos, foi executado anteontem com oito tiros, no momento em que era velado o corpo de outra vítima – da véspera –, Loredo Messias, de 15 anos. Desde então, uma incômoda pergunta paira sobre a Vila Sabará: quem será o próximo?

É voz corrente nas ruas da comunidade, assim como foi no enterro de Maicon, a informação de que três dos jurados de morte ainda devem “tombar” até o fim desta semana. Loredo foi assassinado na frente da Escola Municipal Cândido Portinari, onde ele e Maicon estudavam. A notícia de que outros alunos estariam na lista dos seis condenados levou a direção da escola a enviar um aviso aos pais desobrigando-os de mandar os filhos para a escola nesta sexta-feira. Um indício de que a crise no entorno da escola está estabelecida.
Comunidade fica a 20 quilômetros do Centro de Curitiba: combinação entre drogas e gangues explicaria homicídos
ESCOLA MUNICIPAL DO CAIC CÂNDIDO PORTINARI

Curitiba, 3 de novembro de 2011.

“Senhores pais: Informamos que devido às ocorrências dos últimos dias, os pais que não se sentirem seguros em encaminhar seus filhos para a escola, poderão deixá-los em casa, amanhã, dia 4/11/11, sexta-feira, pois não haverá prejuízo pedagógico.”

Atenciosamente

A Direção.

A Secretaria Municipal da Educação emitiu ontem à noite uma nota curta e evasiva sobre as ameaças que pairam sobre a localidade. Nela é dito apenas que fora solicitado à Polícia Militar um reforço das ações da Patrulha Escolar na região do Caic Cândido Portinari.

Os três assassinatos representam um terço das mortes violentas registradas na Vila Sabará desde o início do ano. Segundo a polícia, os casos são reflexos de disputas entre gangues formadas por jovens. “As drogas estão presentes nesses casos, mas não são necessariamente o maior motivador dos crimes”, disse o delegado Jaime da Luz. Em dois dias de investigações, a polícia diz ter informações sobre quatro gangues. Alguns integrantes já estão identificados por apelidos.

De acordo com o delegado, a Escola Cândido Portinari fica próxima ao ponto de limite de três vilas, o que seria o estopim para o confronto entre as facções. “Um grupo, por ser de um determinado local, cria rivalidade com outro. A partir disso, ocorrem os enfrentamentos, por motivos até mesmo fúteis”, diz o delegado.

Morte anterior

Além de Maicon e Loredo, a briga entre as facções teria sido responsável também por outra vítima: Thiago da Silva Ribeiro, de 20 anos, assassinado por dois jovens encapuzados no dia 14 de outubro. “Familiares do rapaz disseram que três semanas antes do crime, Ribeiro tinha se envolvido em uma discussão. Eles acreditam que a morte está ligada a essa briga”, disse o superintendente da Delegacia de Homicídios, Ediu Fernandes.

Moradores ouvidos pela reportagem não mencionaram as gangues, mas citaram o tráfico de drogas como catalisador dos conflitos. Alguns se dizem cansados de ligar para o Nar­codenúncia (telefone 181), informando os pontos de tráfico e até o endereço dos traficantes. “Nada acontece”, reclama uma moradora. A quem interessar, ela informa: o tráfico na Vila Sabará acontece no Bosque São Nicolau, no entorno das escolas Cândido Portinari, Eurides Brandão e Mansur Guérios. “A polícia já sabe disso, mas não sei o que acontece para que ela não venha aqui.”

O clima é de tensão na Vila Sabará e os moradores têm de ficar confinados em casa. Os raros espaços públicos destinados ao lazer estão dominados pelos traficantes, como o Bosque São Nicolau. Segundo os moradores, não há mais lugares seguros para circular, tampouco liberdade para falar sobre isso sem o risco de retaliações.

Comunidade pergunta para onde foi a polícia

A queixa é recorrente na Vila Sabará: cadê a polícia? “O pouco que a gente tinha foi tirado”, diz Regina dos Reis, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Eldorado, uma das oito comunidades que compõem a comunidade. Regina se refere às patrulhas montadas da Polícia Militar, que foi sendo esvaziada aos poucos e acabou de vez há três anos. Há becos na região em que carro não entra, mas um policial a cavalo poderia acessar.

Regina disse já ter feito várias reivindicações para que a Cavalaria da PM voltasse ao Parque dos Tropeiros, a três quadras da Escola Cândido Portinari. Os policiais a cavalo poderiam entrar, por exemplo, no beco onde Maicon Wilian de Lima Patrício foi morto anteontem com oito tiros.

Presidente da Associação de Moradores das vilas Esperança e Nova Conquista, também parte da Vila Sabará, Osmano Reis diz que a falta de segurança nas escolas é um caso de calamidade. Pais, alunos e professores estão apavorados. “Não se vê segurança nas ruas, e as autoridades nada falam”, reclama. Ele concorda que a volta da cavalaria traria mais segurança.

Faltam espaços públicos de lazer e não há contraturno nas escolas. A cancha de esportes da Vila Esperança, pouco usada pela má conservação, dará lugar a uma unidade de saúde no ano que vem. Ou seja, os jovens perderão o pouco que têm. O Bosque São Nicolau nem se conta, já que depois das 17 horas ninguém se arrisca a frequentá-lo: vira território do tráfico.

Para Regina, está na hora de o deputado federal Fernando Francischini levar à vila o módulo policial prometido durante a campanha eleitoral do ano passado. À Gazeta do Povo, o deputado disse que na aprovação do orçamento geral da União, na semana que vem, deve estar incluída sua emenda individual que prevê 50 módulos policiais para Curitiba, entre eles o da Vila Sabará. Outro destina-se ao Uberaba, bairro em que seis pessoas foram mortas em uma chacina em 2009.
Fonte: gazeta do povo 04/11/2011

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