quinta-feira, novembro 17, 2011

O microfone, a escola e a professora: o descaso com as condições de trabalho na educação

Francis Madlener
Representante sindical de escola municipal de Curitiba
27/09/2011

Em uma escola pública, quando um aluno precisa de uma carteira ou cadeira, não é pedido que sua família a compre, ou quando uma professora de educação física precisa de bolas e cordas para dar sua aula, não lhe é pedido que compre os materiais necessários para seu trabalho. Por que então, quando uma professora que, em decorrência de seu trabalho docente desenvolve problemas de voz, lhe é dito que “cabe ao profissional adquirir o microfone para seu uso”?

As questões ligadas às condições do trabalho docente envolvem uma série de fatores que dizem respeito ao cotidiano escolar e à vida dos trabalhadores e trabalhadoras em educação. As necessidades pertinentes a esse trabalho se refletem em cada realidade de formas específicas, porém, estão ligadas à toda categoria e às reivindicações dessas trabalhadoras e trabalhadores. O caso aqui apresentado é mais um dentre as várias histórias que, infelizmente, estamos carecas de viver e contar.

A professora em questão trabalha na Rede Municipal de Ensino de Curitiba e há um ano vem fazendo tratamento fonoterápico através de um programa de saúde vocal da administração municipal, porém, vem vivendo um dilema nos últimos dias em virtude da orientação da fonoaudióloga que a acompanha no programa. A especialista orientou a professora a começar a usar um microfone para dar aulas e também afirmou que o microfone existente na escola na qual trabalha não é adequado. Além de não se adequado para o trabalho docente, tal microfone necessita de trocas constantes de suas baterias, cerca de duas vezes por semana, e o custo dessas baterias deveria, segundo o programa de saúde vocal e a própria escola, ser coberto pela professora. Ou seja, além de ter desenvolvido uma doença em decorrência do trabalho, a professora deverá pagar para poder trabalhar, comprando as baterias necessárias para poder continuar dando aula.

Uma vez que o microfone que a escola tem é inadequado, a professora tentou então, conseguir outro microfone, próprio para seu uso, e novamente ouviu que nem a secretaria de recursos humanos, responsável pelo programa, quanto a secretaria municipal de educação são responsáveis por isso, e que, se ela assim desejar, deverá comprar outro microfone. Resumindo, se a professora quer continuar dando aula, mantendo sua saúde vocal, terá que mexer no seu já minguado salário.

Como dito no início desse texto, nós professoras e professores precisamos de diversos instrumentos de trabalho, e esses instrumentos, em uma escola pública, deve ser fornecido pela mantenedora, nesse caso, a Prefeitura Municipal de Curitiba, através de sua Secretaria Municipal de Educação. Se, como professoras, precisamos recorrer ao uso de microfones, para a manutenção do nosso trabalho e, principalmente, de nossa saúde, cabe a mantenedora nos dar condições de trabalho, certo?

A saída para essa situação não é a mesma dada para tantos outros problemas financeiros das nossas escolas: rifas, festas, contribuições, doações e benfeitorias de políticos “amigos”. Esse exemplo, que parece pequeno em meio ao mar de problemas que vivenciamos na escola pública, demonstra que, entre outras reivindicações em prol da melhoria da educação, o investimento através da aplicação de 10% do PIB nacional na educação é fundamental para a melhoria da escola e das condições do trabalho docente.

A saída é a mobilização para que as condições mínimas de trabalho sejam atendidas, afinal, a melhoria da educação pública caminha de mãos dadas com a valorização do professor e da professora, e isso se dá através da melhoria das condições de trabalho, valorização salarial, carreira, hora atividade e nesse bojo estão as coisas mais simples, como a aquisição de um microfone para que nossa colega possa continuar seu ofício.

http://diariodaclasse.wordpress.com/

Um comentário:

  1. Eu acho que é direito das professoras e dos professores terem os objetos necessários para darem suas aulas,e também acho que a prefeitura que tem que pagar os objetos para as professoras e os professores darem as suas aulas.

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