Quinze dias após vistoriar a sede do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), constatou que o órgão incorre no crime de vilipêndio de cadáver – quando os corpos são aviltados, profanados, desrespeitados e ultrajados. Ontem, a comissão divulgou o relatório sobre a visita ao IML feita no dia 17 de março, quando foram encontrados corpos empilhados no órgão e foi constatado que os funcionários estão expostos a riscos de contaminação por radioatividade.
O documento emitido ontem faz oito sugestões para a solução dos problemas. Entre elas estão o levantamento do quadro de funcionários, a possibilidade da construção de uma nova sede e a compra de equipamentos e viaturas. A OAB aguarda os laudos feitos pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a Vigilância Sanitária e a Sanepar, que também participaram da vistoria. Além de corpos em excesso e risco para os funcionários, a equipe de fiscalização constatou que há o despejo incorreto de líquidos na rede de esgoto e equipamentos quebrados, o que impossibilita a conclusão de exames e laudos.
“O pedido feito pela OAB busca o respeito à dignidade dos vivos e dos mortos”, diz a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, Isabel Kluger Mendes. Ela lembra que o artigo 212 do Código Penal Brasileiro prevê uma pena de um a três anos de prisão e multa para o crime de vilipêndio de cadáver.
Na próxima semana haverá uma nova reunião com o diretor-geral do IML, Porcídio D’Otaviano de Castro Vilani, para que ele apresente um laudo sobre as irregularidades. O documento foi prometido na primeira visita. Ele também deverá relatar as providências que estão sendo tomadas para solucionar os problemas – no dia 21 de março, o secretário de estado da Segurança Pública (Sesp), Reinaldo de Almeida César, anunciou um “pacote de medidas emergenciais” para o órgão.
A comissão quer que a Casa Civil do governo do estado, a Secretaria de Estado da Segurança Pública, o Ministério Público do Paraná (MP-PR), a Secretaria de Estado de Justiça, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a Vigilância Sanitária e a Sanepar também avaliem o relatório. Ontem à tarde, somente o MP-PR confirmou ter recebido o documento. O diretor-geral do IML não foi localizado para comentar o assunto.
Reivindicações
Para solucionar a falta de profissionais no IML e tratar das adequações salariais e do pagamento de insalubridade, a Associação Nacional dos Médicos Legistas sugere a retomada das discussões do Projeto de Lei 420/2010, que aguarda parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Assembleia Legislativa do Paraná. O documento adequa o tempo de progressão de carreira no quadro da categoria. Pela lei que está em vigor atualmente (14.678/05), um médico legista pode levar até 60 anos para sair da menor classe e chegar ao topo da carreira.
O auxiliar de necropsia Marcos Ferreira, ex-funcionário do IML de Curitiba, diz nunca ter recebido o adicional de insalubridade, apesar de ter ficado exposto a condições que colocam a saúde em risco. “Somente quem está atrelado a área de saúde recebe. Nós, que somos pagos pela Secretaria de Segurança Pública, não”, afirma. Outra irregularidade apontada por ele é em relação ao horário de trabalho. As escalas são de dois plantões semanais de 24 horas. No seu contracheque sempre apareciam 40 horas semanais, mas eram feitas 48 horas.
Segundo Ferreira, essas horas se devem à falta de funcionários. Foram feitos concursos para auxiliares de necropsia em 2002 e em 2006, mas os aprovados não foram nomeados. Ferreira pediu a exoneração.
Cadáveres só são liberados pela Justiça
Em resposta à possibilidade de acúmulo de corpos devido à morosidade da Justiça, identificado na vistoria da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, a Vara de Inquéritos Policiais (VIP), presidida pelo juiz Pedro Luís Samsung Corta, informou por e-mail que a responsabilidade de liberação dos corpos é da VIP e que existe uma tramitação a ser seguida. Quando a documentação está correta o prazo de emissão leva no máximo 48 horas. Os pedidos encaminhados pelo IML são de mortes ocorridas sem prontuário médico, sem identificação ou causadas por mortes violentas. “Toda a burocracia é relativa ao interesse por parte da Delegacia de Homicídios em realizar perícias e análises”, diz o texto. Quando um familiar quer ingressar com pedido no Foro Criminal, deve estar acompanhado de um advogado ou procurar a Defensoria Pública do Estado. Para dar andamento ao pedido, a DH e o IML devem enviar informações de que não é necessário a manutenção do corpo.
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